Crítica: Espetáculo A Baby Sitter lança olhar irônico e ferino para casamento fracassado
Por Miguel Arcanjo Prado
Casamentos muitas vezes se transformam em situações insuportáveis que são suportadas apenas em virtude de outros. Um bebê, por exemplo, pode ser boa desculpa para ficar junto àquela pessoa que, sabe-se bem, não é a “da sua vida”.
Além disso, a hipocrisia social também ajuda a manter tal situação. Apesar dos avanços comportamentais que faz hoje o divórcio mais aceitável do que em tempos passados, muitos relacionamentos sobrevivem apenas na base da agressão mútua e no enfado completo.
É com esta situação que se depara o público que vai ver A Baby Sitter, texto do francês René de Olbadia e traduzido por Clara Caravalho, encenado pelo Teatro do Incêndio, com direção de Marcelo Marcus Fonseca, em São Paulo.
No palco, o casal formado pelos atores Eloisa Vitz e Marcelo Marcus Fonseca aguarda ansioso a chegada da babá que cuidará do filho deles, para que possam ir a mais um compromisso social exibir a imagem de casal feliz de comercial de margarina – que destoa completamente da realidade vigente.
Tudo muda com a chegada da garota que vai cuidar da criança – não a imaginada por eles, mas a que a realidade (ou a surrealidade?) mandou.
Caroline Marques vive uma babá histérica, que combina fanatismo religioso com dosagens generosas de sensualidade bizarra. A estranha personagem acabará sendo cooptada como cobaia no laboratório de sentimentos do casal em crise. Era a peça que faltava no jogo.
No elenco, uma segura Eloisa Vitz se destaca por optar por um registro mais sutil e crível do que o de seus colegas.
O texto lembra o do filme Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, adaptação para o cinema da peça de Edward Albee com direção de Mike Nichols. No longa, obrigatório, Elizabeth Taylor e Richard Burton vivem um casal em pé de guerra e que faz de outro casal de jovens visitantes o álibi para exporem toda a sua loucura.
É este clima de ironia soturna próximo da demência, embalado pelo baixo tocado ao vivo por Caiti Hauck, que se instaura na sala de estar em A Baby Sitter.
À medida que o jogo entre os personagens ganha corpo, a razão vai se esvaindo. Porque conviver com o inimigo é tarefa sadomasoquista por demais.
Mas, fazer o que se há gente que só encontra prazer em ferir e ser ferido? Este é o recado sem contornos eufemísticos que A Baby Sitter dá.
A Baby Sitter
Avaliação: Bom
Quando: Sexta e sábado, 20h30. 60 min. Até 9/11/2013
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, Pinheiros, SP, tel. 0/xx/11 3095-9400)
Quanto: R$ 4 a R$ 20
Classificação etária: 14 anos
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Miguelito, acho que é o lado do leitor-revisor ativado: creio ser Clara Carvalho e não como está grafado. É isso mesmo?
E, de novo, mais um filme para nossa lista de filmes já assistidos: também vi QUEM TEM MEDO DE VIRGINIA WOOLF?, que por sinal deu um dos 2 Prêmios Oscar ganhos por Liz Taylor. Desse filme, tenho até o DVD.