Por Miguel Arcanjo Prado*
Além da corrupção que está vindo à tona agora, outra herança do governo de Gilberto Kassab em São Paulo foi a Lei Cidade Limpa, aquela que tirou a publicidade das ruas da metrópole.
No começo, muita gente reclamou, mas com o tempo todos descobriram o prazer que é andar em uma cidade que traz leveza aos olhos. Afinal, São Paulo já é cinza e frenética demais para termos de perder nosso precioso tempo com comerciais invasivos e petulantes – a maioria de péssimo gosto publicitário.
Pois não é que eles estão voltando na miúda? Os pontos de ônibus da cidade estão sendo substituídos por novas paradas, cujo teto de vidro serve de estufa para cozinhar os passageiros que esperam o coletivo sob o sol. Nelas, há espaço farto para cartazes publicitários, iluminados durante a noite por via das dúvidas.
O mesmo se dá nos relógios que estão sendo espalhados pelas ruas paulistanas, todos patrocinados por alguma marca que, na desculpa em nos fornecer a hora exata e a temperatura, enfia seu produto nossa goela abaixo.
Linha amarela virou o inferno
Quem anda de metrô na linha amarela também já notou que a viagem está cada vez mais desconfortável. O corredor de transferência entre as estações Paulista e Consolação muitas vezes parece um pesadelo publicitário surreal. Um verdadeiro inferno.
Isso sem falar dentro dos trens, cujas janelas agora servem para suporte de cartazes da programação da TV paga. Eu já não aguento mais ver cartazes da volta da novela Água Viva muito menos os astros da saga Crepúsculo me olhando.
O pior é a TV do metrô. O tubo poderia informar serviços básicos, como sobre segunda via de RG, CPF ou mesmo anunciar vagas de emprego. Quem sabe divulgar os espetáculos teatrais? Mas, não. Na TV do metrô, o passageiro fica sabendo de coisas fundamentais para a sua vida, como o resumo da novela ou a última coisa que a funkeira Anitta aprontou. Tenha dó!
Além de desembolsar a cara tarifa de R$ 3,00 e viajar num aperto que deixaria espantado nossos governantes em seus carros com motoristas, o passageiro do transporte público paulistano, em sua maioria estudantes e trabalhadores sacrificados, precisam também servir de cobaias para a publicidade e a informação inútil no árduo período de partir e voltar para a casa. Isso não tem outro nome: é um desrespeito enorme com o cidadão.
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Vem aí Satyrianas!
Começa na próxima quinta (14) o festival Satyrianas. Vai até domingo (17), com 78 horas ininterruptas de arte na praça Roosevelt, no centro de São Paulo. Tem espetáculo, música, cinema, performances e até um bate-papo com este vosso escriba e o fotógrafo Bob Sousa. Dá para ir de metrô. Basta descer na República. Mas, se puder, leve algo para ler no caminho, para não ter de encarar os comerciais e já chegar estressado ao evento. Porque o teatro merece você de alma leve.
Para Maíra Moraes, companheira de linha amarela.
*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e não gosta de ser feito de bobo. A coluna Domingou, uma crônica semanal, é publicada todo domingo no blog Atores & Bastidores do R7.
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