Zé in London – Você tem ideia do que aconteceu?
Com astro da saga Harry Potter no elenco, remontagem do sucesso teatral Mojo hipnotiza público londrino mais uma vez, 18 anos depois, com o mesmo diretor Ian Rickson
Por Zé Henrique de Paula, em Londres
Especial para o Atores & Bastidores*
Ver uma peça da qual você participou – como diretor, ator ou em outra função – ser montada por outro grupo de artistas é sempre uma experiência intensa e fascinante.
Alguns anos atrás, eu me lembro de ter estreado Senhora dos Afogados apenas alguns meses antes da versão dirigida por Antunes Filho. No ano passado, João Fonseca dirigiu R&J, de Joe Calarco, que eu montei com o Núcleo Experimental em 2006.
E neste ano, Débora Falabella e Yara de Novaes estão em Contrações, de Mike Bartlett, texto britânico que dirigi em 2011 (com o nome de O Contrato), com Sergio Mastropasqua e Renata Calmon no elenco.
Na semana passada, mais uma vez passei por essa experiência ao assistir ao espetáculo Mojo, de Jez Butterworth, no Harold Pinter Theatre. Foi em 2007, e basicamente com o mesmo elenco que tinha estado em R&J, que estreamos Mojo na sala pequena do Teatro Augusta.
Em cartaz até 8 de fevereiro de 2014 no Harold Pinter Theatre de Londres, essa remontagem tem sido aguardada com grande expectativa, em parte por ter um elenco que conta com alguns nomes importantes da cena inglesa, como Ben Whishaw (conhecido por interpretar o agente Q em Operação Skyfall), Brendan Coyle (Mr. Bates da série Downton Abbey) e Rupert Grint (o Rony da saga Harry Potter).
Além disso, é a primeira vez que a peça é remontada em Londres, desde sua estreia no Royal Court em 1995.
O diretor Ian Rickson – o mesmo da montagem original – foca sua concepção nas relações entre os personagens, o que dá margem para que os atores criem um conjunto de interpretações extremamente coeso e, ao mesmo tempo, com excelentes momentos individuais.
Sem que haja nenhum prejuízo da unidade, duas interpretações se sobressaem, ao meu ver: o delirante e melancólico Baby (Ben Whishaw, assustador em cena) e o eletrizante Potts (Daniel Mays, em performance exuberante e cheia de humor).
Cenários e figurinos nos remetem diretamente à época da ação da peça: o bairro do Soho, na Londres de 1958. O ritmo é quase sempre alucinante, mas com momentos delicados de respiro, onde a dor e o desespero dos personagens emergem de forma pungente.
Mojo foi recebida com aclamação de público e crítica em 1995. Naquela época, o teatro inglês enveredava por aquilo que se cunhou posteriormente com o título de “in-yer-face theatre”. Um teatro áspero, desagradável, despudoradamente conectado com a desilusão diante da sociedade contemporânea e, por vezes, bastante verborrágico.
Sintomática foi a reação da senhorinha de cabelos brancos sentada ao meu lado: ao final do primeiro ato, as luzes da plateia se acendem para o intervalo e ela, polidamente, se dirige a mim e me questiona: “Você tem a mais pálida ideia do que foi isso tudo que acabou de acontecer em cima do palco?”.
Ps. Feliz Natal a todos e um ótimo Ano-Novo!
*Zé Henrique de Paula é diretor teatral no Núcleo Experimental, em São Paulo, e e atualmente faz mestrado na University of Essex, em Londres, de onde colabora para o blog cobrindo a cena inglesa.
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