Domingou: O Carnaval da resistência
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
O Carnaval no Brasil surgiu como uma manifestação popular de resistência. Era o grito de liberdade possível, em quatro dias de folia que fosse, quando a turma que mandava em tudo fazia vista grossa para todo mundo junto e misturado.
Só que a festa de quem estava fora do sistema foi ficando tão grande, tão divertida e tão mais interessante, que logo o mercado resolveu botar as manguinhas de fora e cooptar o Carnaval do povo.
Logo, os desfiles ganharam sambódromos com transmissão ao vivo para todo o mundo, arquibancadas caríssimas e, claro, os camarotes para as celebridades, que se tornaram o único assunto possível. Na Bahia, não foi diferente, com os blocos afro e afoxés jogados no escanteio em nome de estrelas fabricadas do axé.
Nos lugares onde não havia um Carnaval a ser vendido, o pouco que existia foi mirrado e pressionado por muitos governantes para deixar de existir. Assim, durante muitos anos vimos cidades brasileiras como São Paulo ou Belo Horizonte perderem seu Carnaval de rua que outrora havia sido tradicional e que nos novos tempos parecia absurdo de existir de forma espontânea sem que houvesse uma estrutura de venda por trás.
Pois, não é que o povo resistiu mais uma vez e reinventou o Carnaval?
Seja com a luta dos blocos afro em Salvador, botando a boca no trombone para terem mais visibilidade, ou os blocos de rua que hoje invadem Belo Horizonte e São Paulo, com ou sem permissão do poder público, além do Rio, onde já voltaram a ser tradição.
Porque o Carnaval não precisa de camarote nem de transmissão ao vivo na TV. Muito menos de celebridade. O Carnaval de fato, aquele que fez nosso País conhecido no mundo todo, só precisa de uma fantasia improvisada, um coração brasileiro – mesmo que estrangeiro – e aquele espírito de alegria simples e festiva que mora em todo folião que resiste.
*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e acredita na resistência. A coluna Domingou, uma crônica semanal, é publicada todo domingo no blog Atores & Bastidores do R7.
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Quando eu era criança, brincava o carnaval nas ruas de minha cidade, embora às vezes fosse também em matinês. Tive acesso a carnaval de clube e de rua e nem sabia de que havia distinção. Sobre os camarotes, nada mais são do que a criação de um novo “apartheid”, o social. Aliás, acho cafoníssimas essas fotos de peruaças absolutamente enlouquecidas postando fotos fazendo beicinho para o “Facebook”. Ao final, tudo é um enorme golpe de “Marketing”. Nada de novo sob o sol.
Felipe, ter você como leitor atento do blog é um privilégio! Você é inteligentíssimo e sempre faz comentários irrepreensíveis. Obrigado!
“Porque o Carnaval não precisa de camarote nem de transmissão ao vivo na TV. Muito menos de celebridade.” Os Blocos afros de Salvador tem tudo isso…