Atriz ganha Prêmio Shell de Teatro e diz que empresa apoiou ditadura; conheça os vencedores

A atriz da Kiwi Cia. de Teatro, Fernanda Azevedo, eleita melhor atriz do 26º Prêmio Shell de Teatro, falou em seu discurso que Shell apoiou ditadura – Foto: Paduardo/AgNews; veja a galeria de fotos da festa do teatro!
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Se na entrega carioca há uma semana houve protesto, a entrega do 26º Prêmio Shell de Teatro de São Paulo, na Estação São Paulo, nesta terça (18), também ficou marcada por um discurso politizado e corajoso. Fernanda Azevedo, que ganhou o prêmio de melhor atriz por sua atuação na peça Morro como um País – Cenas sobre a Violência de Estado, da Kiwi Cia. de Teatro, aproveitou a deixa para discursar contra a própria Shell.
Ao subir no palco, ela fez um discurso contra a empresa que patrocina a premiação dando R$ 8.000 a cada vencedor. Fernanda lembrou que sua peça fala das agruras que o golpe militar de 1964 instaurou no Brasil sob forma de ditadura. E reiterou que, no ano do cinquentenário do golpe civil-militar, precisava dizer algumas palavras. Eis o discurso que ela proferiu:
— Como este prêmio tem o patrocínio da Shell, eu gostaria de ler quatro linhas sobre esta empresa. O texto é de Eduardo Galeano [escritor uruguaio, autor de As Veias Abertas da América Latina]. “No início de 1995, o gerente geral da Shell na Nigéria explicou assim o apoio de sua empresa à ditadura militar desse país: Para uma empresa comercial que se propõe a realizar investimentos é necessário um ambiente de estabilidade. As ditaduras oferecem isso.”
Leia entrevista exclusiva com Fernanda Azevedo!
A plateia, formada majoritariamente por artistas de teatro, ouviu em silêncio.
Ao fim, ela afirmou que foi “uma questão de coerência com nosso trabalho” ter proferido tal discurso, pensado pelo grupo Kiwi. E reiterou que as ditaduras são “civis e militares”.
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Eva Wilma ofereceu seu Prêmio Shell especial à memória do diretor José Renato – Foto: Paduardo/AgNews; Veja a galeria de fotos da festa do teatro!
Eva Wilma foi a grande homenageada por seus 80 anos de vida e 60 de carreira. Dedicou a todos que trabalharam com ela e ao diretor José Renato, “que me desencaminhou para o teatro”, em suas palavras.
Assim como na entrega carioca, Renata Sorrah foi a apresentadora da noite. O ator Paulo Goulart, que morreu na última quinta aos 81 anos, foi lembrado e aplaudido de pé.

A atriz cubana Phedra D. Córdoba, do premiado grupo Os Satyros, foi um dos destaques da festa do Prêmio Shell de Teatro em São Paulo – Foto: Paduardo/AgNews; Veja a galeria de fotos da festa do teatro!
A turma do grupo Os Satyros subiu em peso no palco para receber na categoria Inovação, por conta do projeto Satyrianas. Gustavo Ferreira leu discurso e agradeceu até a cantora Vanusa, que inspirou as Satyrianas.
Antunes Filho ganhou melhor direção, mas não apareceu. Foi representado pelo ator Leonardo Ventura.
Cantata para um Bastidor de Utopias, da Cia. do Tijolo, foi a peça mais premiada, com dois troféus, melhor cenário e melhor música.
Veja, abaixo, os vencedores de todas as categorias:
Autor:
Kiko Marques por Cais ou da Indiferença das Embarcações
Direção:
Antunes Filho por Nossa Cidade
Ator:
Chico Carvalho por Ricardo III
Atriz:
Fernanda Azevedo, Morro como um País
Cenário:
Rogério Tarifa por Cantata para um Bastidor de Utopias
Figurino:
Miko Hashimoto por Operação Trem-Bala
Iluminação:
Fran Barros por Vestido de Noiva
Música:
Jonathan Silva e William Guedes por Cantata para um Bastidor de Utopias
Inovação:
Os Satyros pela projeção, permanência e abrangência do evento “Satyrianas” na condição de fenômeno histórico-artístico e social.
Homenagem Especial
Eva Wilma, pelos 60 anos dedicados ao teatro

Vencedores do 26º Prêmio Shell de Teatro de São Paulo – Foto: Paduardo/AgNews; veja a galeria de fotos da festa do teatro!
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Renata Sorrah foi a apresentadora do Prêmio Shell de São Paulo – Foto: Paduardo/AgNews; Veja a galeria de fotos da festa do teatro!
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Os premiados foram muito bem escolhidos. Divirjo do conceito abraçado pelo pessoal de Os Satyros porém reconheço a existência do fenômeno histórico-social e artístico criado em torno das Satyrianas.