Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Quando, no começo da década de 1990 ele dava os primeiros passos na carreira e ainda era contrarregra de espetáculos, Dan Stulbach sonhava em um dia, quem sabe, atuar com Irene Ravache sob direção de Elias Andreato. Naquele então, trabalhar em uma montagem com os dois nomes tarimbados encabeçada pela dupla de produtoras Selma Morente e Célia Forte parecia algo distante ao jovem ator recém saído da EAD (Escola de Arte Dramática) da USP (Universidade de São Paulo).
Quase um quarto de século depois, eis que toca o telefone de Stulbach. Do outro lado da linha, as “meninas da Morente Forte” lhe fazem o convite tão esperado. E, de quebra, ainda oferecem a ele o papel de Deus. O ator conta isso ao Atores & Bastidores do R7 com os olhos marejados.
Nesta sexta (28), estreia no Teatro Faap, em São Paulo, a peça Meu Deus!, montagem do texto da israelense Ana Gov com adaptação de Jorge Schussheim e versão brasileira assinada por Célia Regina Forte.
Na obra, Deus é mostrado em uma situação inusitada. Em crise, resolve procurar uma psicóloga ateia para tentar resolver seus conflitos diante do que se tornou o mundo que criou. Além dos protagonistas Dan Stulbach e Irene Ravache, a peça tem a estreia do ator Pedro Carvalho, na pele do filho da personagem de Irene.
Para criar o personagem, Stulbach, que é judeu assim como a autora, conversou com pessoas de diferentes religiões, que expuseram ao ator sua ideia de Deus. Ele comemora o personagem incomum.
— Só no teatro é possível alguém falar “eu sou Deus” e o outro acreditar.
Comédia leve e inteligente
Irene conta que sua personagem, a princípio, não acredita que o paciente diga a verdade e que, como terapeuta, ela percebe que ele “tem um problema sério”.
Os dois afirmam que a peça não é pretensiosa. Muito pelo contrário, é uma comédia leve, mas inteligente. O diretor Elias Andreato afirma ao R7 que a obra tem “gosto pelo sutil”.
—O ser humano precisa acreditar em alguma coisa. A versão da peça que a Célia Forte fez preserva essa poesia, a delicadeza e o humor. Nosso objetivo é divertir, mas não fazer rir a qualquer custo.
O Deus de cada um
Quando a reportagem provoca os artistas e pede para que falem da relação que eles próprios têm com Deus, cada um vai por um caminho.
Elias Andreato conta “que já acreditou”, como também já “deixou de acreditar”. E que não “sabe se acredita no momento”. Para ele, “Deus é uma dúvida permanente”.
—Eu não sei acreditar em Deus sem desespero. Mas é no teatro que me sinto próximo a alguma coisa desconhecida.
Irene Ravache conta que sempre achou bonito os rituais religiosos e que acha “a figura de Jesus o máximo”. Ela não gosta muito de ter de definir Deus. Definir tudo certinho não é muito sua praia. Prefere a vida mais leve, mais solta. Sem tantas certezas. “Tirando que escovar os dentes todos os dias é bom, eu devo ter só mais umas quatro certezas na vida”.
— Mas, se tiver num avião e cair uma tempestade, vou pedir a Deus para me dar uma mão. Quando filho e neto tem febre acima de 38 graus também não há quem não se lembre de Deus. Me agrada ter um Deus, assim como me agrada ter um marido, uma família. Gostaria de morrer e me encontrar com um Deus forte, de barba, que me colocasse no colo. Acho que ele gostaria de mim também.
Dan Stulbach, por sua vez, lembra que sua origem religiosa é o judaísmo. Ele é filho de poloneses que vieram para o Brasil fugidos da perseguição nazista na 2ª Guerra Mundial. Chegou a fazer o bar mitzvah, a iniciação na religião judaica masculina, aos 13 anos, para agradar o avô.
—Nunca parei para pensar se Deus existe ou não.
Tirando as divagações religiosas, Stulbach prefere mesmo é focar no momento profissional que vive, com sucesso não só nos palcos, como também na TV, onde chamou a atenção substituindo Fátima Bernardes nas manhãs da Globo. Mesmo com os elogios, afirma que seu grande lugar de realização é mesmo o teatro.
—Eu sonhei com este momento aqui. Sou fã do Elias e da Irene desde menino. Estou me realizando fazendo esta peça.
Meu Deus!
Quando: Sexta, 21h30; sábado, 19h e 21h30; domingo, 18h. 80 min. Até 27/7/2014
Onde: Teatro Faap (r. Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo, tel. 0/xx/11 3662-7233)
Quanto: R$ 60 (sexta), R$ 70 (domingo) e R$ 80 (sábado)
Classificação etária: 12 anos
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