Por ÁTILA MORENO, no Rio
Especial para o Atores & Bastidores*
Inimigos declarados também são aliados ocultos, já dizia Deepak Chopra no livro Efeito Sombra. Por mais que o escritor indiano não seja uma referência assumida no espetáculo Pesadelo, em cartaz no Rio, a última parte da Trilogia da Cia Sala Escura de Teatro, há de se considerar que esta frase e a filosofia por trás do livro caem muito bem no abismo enigmático encenado pelo grupo.
A história mirabolante conquista pelo seu realismo fantástico. O personagem principal, interpretado pelo convincente Bruno Quaresma, se depara, depois de um dia estressante, num universo particular e intrigante.
A cabeça de uma mulher (a atriz Maria Assunção) toma vida e resolve raptar o protagonista para um mundo onírico/paralelo. Ali, ambos vão travar um duelo sem saída.
E detalhe, tudo isso orquestrado por uma banda ao fundo e mais 12 atores em cena, desfilando pelo inferno ou purgatório, como queira o espectador. Sim, estamos falando de um musical fantasmagórico, em que os delírios se tornam bastante inquietantes, por sinal.
O autor e diretor Iuri Kruschewsky, que se inspirou nas obras do psiquiatra suíço Carl Jung e do romancista britânico Lewis Carroll, de Alice no País das Maravilhas, consegue trazer uma originalidade, difícil de encontrar hoje nos palcos, inclusive nos musicais.
O texto é afiadíssimo, propositalmente confuso e irônico, e não poupa espaço para dilacerar as sensações do público.
Por mais que Pesadelo caia na tentação de trazer tantas referências e cacofonias, e ainda com elenco de apoio fraco, a peça acerta justamente por agrupar outros notáveis elementos teatrais.
A coreógrafa e bailarina Lavínia Bizzotto não poupa movimentos para expressar a sexualidade reprimida de seus personagens.
A cenografia de Flávio Graff invade realmente o palco, com passarelas e vitrines, indicando um labirinto mental. A figurinista Elisa Faulhaber dá o tom claustrofóbico e escuro que a peça exige.
No entanto, o ponto alto está nas mãos de Maria Assunção. A atriz tem a difícil tarefa de convencer o público de que ali está uma cabeça falante. Mas ela vai além. Dá consistência a seu complexo personagem, com os mais variados níveis de tensão, rancor e solidão, vociferados sem dó para o público.
Pesadelo vai desmembrando as agruras de homem aparentemente preso no seu próprio pesadelo? Ou é a batalha dele contra seus medos? Ou mesmo uma interminável guerra contra o seu passado? Não espere respostas prontas e se atente para um final desafiador.
Pesadelo
Avaliação: Bom
Quando: Sextas e sábados, às 21h. Domingos, às 20h. 1h25. Até 25/05/2014
Onde: Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto (Rua Humaitá 163, Humaitá, Rio, tel. 0/xx/21 2535-3846)
Quanto: R$ 30
Classificação etária: 16 anos
*Jornalista mineiro radicado no Rio, Átila Moreno é graduado pelo UNI-BH e tem pós-graduação em Produção e Crítica Cultural pela PUC-Minas.
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