FIT-BH resiste à Copa do Mundo, mas leva arranhões
Por MIGUEL ARCANJO PRADO*
Enviado especial do R7 a Belo Horizonte
A 12ª edição do FIT-BH, o Festival Internacional de Teatro, Palco e Rua de Belo Horizonte, entra para a história como aquela que conseguiu resistir ao atropelo da Copa do Mundo, mas acabou sofrendo arranhões de uma leve batida.
Às vésperas da Copa, Belo Horizonte, uma das cidades-sede, é um grande canteiro de obras. Desde o Aeroporto de Confins — submerso em uma poeira que invade guichês, suja malas e prejudica a respiração do passageiro e dos trabalhadores do local —, até as principais vias da cidade, a percepção é de caos contínuo e muito estresse, já que, ao que parece, nada ficará pronto até o Mundial.
Diante disso, a resistência do FIT-BH à Copa é algo a se comemorar. Até o próximo dia 25, a 12ª edição do evento bianual apresenta 54 peças de 11 diferentes países em espaços distintos da capital mineira. O público mineiro, como sempre, abraçou o festival, mas, neste ano, o evento soa mais distante e evidencia alguns problemas.
Muito já se falou sobre o fato de o FIT-BH precisar disputar atenções com gigantes: como ocorre em anos pares, precisa brigar com Copa ou Olimpíada, e também costuma ser ameaçado por disputas eleitorais, já que eleições nacionais e locais também são em anos pares. Por isso, artistas mineiros já sugeriram que o festival bianual fosse transferido para anos ímpares. Tal reivindicação jamais foi atendida pelo poder público.
Improviso e logística
Atualmente, o FIT-BH é administrado pela Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, ligada à Prefeitura de BH. O custo anunciado da edição 2014 é de R$ 7 milhões, o que faz dela a maior de todas, assim como a projeção de público de 230 mil pessoas até o próximo domingo (25), quando o festival que começou no último dia 6 chega ao fim.
Apesar de resistir ao ano do futebol, as marcas dos arranhões sofridos ficaram evidentes neste FIT-BH. Está no ar uma certa dose de improviso e inexperiência na execução do festival, com recorrentes problemas de logística. Não há também iniciativa de promover encontro entre jornalistas e artistas, ficando isso restrito a ações improvisadas no café da manhã do hotel.
Em tempos que comunicação ocupa lugar de destaque em qualquer evento ou organização, não houve sala de imprensa ou qualquer menção de entrevista coletiva para algum grupo, coisa que já existiu em edições anteriores e é praxe em eventos como o Festival de Teatro de Curitiba. Isso contradiz os 20 anos de história do FIT-BH, uma experiência de sobra para já ter aprendido a fazer a contento um evento de tal dimensão.
Artistas comemoram
Apesar das falhas operacionais, participar do FIT-BH é motivo de comemoração para muitos artistas. O ator pernambucano Flávio Santana, do espetáculo Salada Mista, da Cia. 2 em Cena de Teatro Circo e Dança, de Recife, conta que “a Copa prejudicou o teatro de uma maneira geral em todo o Brasil”.
Para Santana, investimentos no setor escassearam. Por isso, espera que, após o Mundial, “as coisas voltem ao normal ou, quem sabe, melhorem”. O artista conta que “apesar do frio” do clima de montanha, sentiu acolhida calorosa dos mineiros. “Estar num festival como o FIT-BH é muito importante, porque é uma janela que se abre tanto para o público quanto para outros festivais”, diz.
A produtora Carina Moutinho, do grupo paulista Os Satyros, elogia a estrutura que o festival deu ao grupo para a montagem de seu espetáculo, Adormecidos, apresentado no último fim de semana na Funarte MG. “Havia uma preocupação para que nos sentíssemos bem”, afirma.
Outro que demonstra estar contente na capital mineira é o diretor Luiz Carlos Laranjeiras, da peça Sabiás do Sertão, da Cia. Cênica, de São José do Rio Preto (SP). “Além de termos tido uma impressionante acolhida do público, tivemos contato com muita gente de teatro. Conheci uma curadora de Cuba, por exemplo. O intercâmbio é fundamental. O festival é um grande espaço para troca de saberes”, define.
E tal troca não se restringe a grupos brasileiros. Reconhecido mundialmente, o Berliner Ensamble ficou impressionado com o aplauso de pé de 1.700 pessoas em cada uma das duas sessões de Hamlet no Palácio das Artes. Integrante da trupe alemã, o ator Peter Luppa definiu que “o brasileiro aplaude com o coração”.
Olheiros do mundo
E a troca internacional é almejada por Belo Horizonte para seus artistas. Com o objetivo de ver o teatro mineiro viajando o Brasil e o mundo, o FIT-BH bancou a estada de cerca de 20 programadores teatrais nacionais e internacionais no festival.
Gente como o jornalista e crítico teatral Celso Curi, que integra a curadoria do Festival de Teatro de Curitiba – o maior do Brasil – e também a direção da Oficina Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo.
Ao lado do parceiro Wesley Kawaai, Curi se concentrou em montagens mineiras. “É fundamental ter o contato com outras formas de ver teatro. Este tipo de intercâmbio funciona como uma escola de programadores”, revela ao R7.
Cadê o Ponto de Encontro?
Uma das ausências mais sentidas durante a maioria do FIT-BH 2014 foi a do tradicional Ponto de Encontro. Antes montado no Parque Municipal, com barraquinhas e shows musicais de nomes locais e nacionais, o espaço era o lugar ideal para que público e artistas se encontrassem depois das apresentações. Neste ano, apesar de prometido pela Fundação Municipal de Cultura, o Ponto de Encontro não existiu.
Pelo menos nos primeiros 15 dias do festival. Isso porque a organização anunciou de última hora para esta quarta (21) a criação de um Cabaré Bar, espécie de ponto de encontro improvisado, quando boa parte dos artistas e jornalistas já deixou a capital mineira.
Ausência sentida e drible na Copa
O presidente da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, Leônidas Oliveira, chegou a marcar uma entrevista coletiva com os jornalistas que cobrem o FIT-BH no último sábado (17), mas ele não apareceu.
Apesar dos problemas, o jornalista uruguaio Guillermo Pelegrino, que cobre o FIT-BH para a imprensa uruguaia e argentina, elogia a capacidade do teatro e da cultura brasileira de resistir ao maior evento futebolístico do mundo. E revela que ficou surpreso.
— Fiquei impressionado de ver um festival de teatro tão grande tão perto da Copa, de ver o Brasil apostar em cultura às vésperas do Mundial. Acho que, independentemente de qualquer coisa, o FIT-BH, nestes 20 anos de história, deixa um legado cultural permanente para Belo Horizonte e para o Brasil.
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do FIT-BH.
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Coitado do jornalista uruguaio, está sendo ludibriado por quem? … O único legado que este FIT deixou foi o da falta de panejamento, falta de transparência, disputa politiqueira e por pequenos poderes, pretensão em se auto-intitular o MAIOR FIT, enquanto a qualidade de execução e programação caiu drasticamente. Como cidadão de BH e acompanhante do Festival há vários anos, me sinto completamente envergonhado com esta edição 2014, feita com 7 milhões dos cofres públicos… E após o eventão, o que fica? NADA.
1. Primeiramente, concordo a ideia de se transferir o festival para anos ímpares.
2. Nem havia terminado de ler o segundo parágrafo do subtópico IMPROVISO E LOGÍSTICA e já comecei a me questionar como pôde a organização do evento cometer um erro tão primário, em termos de divulgação, quanto o de não promover o encontro entre jornalistas e artistas. Como querem que o festival consiga maior divulgação se não se usa positivamente o poder da imprensa?
3. Por fim, por conta de algumas notícias que li acerca do custo ter sido o maior de todos, não considerei isso exatamente como um mérito em 100%. É certamente um mérito no sentido de que nunca houve tanto dinheiro destinado a esse festival, mas, para mim, um grande festival não é aquele que tem o maior montante de dinheiro investido, mas aquele que atinge melhor o público, aquele que abrange mais realidades e, sinceramente, enquanto cidadão, aplaudo até com mais vigor o festival que, com menor orçamento, consegue mostrar-se competente. Porque significa que houve eficácia e gestão estratégica do dinheiro público. E isso para tudo, não só para Cultura: para a Saúde, para a Educação, para o que for. Mas, enquanto destinação do dinheiro público em prol da Cultura, se essa edição obteve o maior montante investido, é um mérito, sim.
Acho um absurdo anunciarem um montante de 7 milhões para apresentarem um FIT apagado, morno, sendo que a maioria da população nem sequer tomou conhecimento desta edição…quanto aos improvisos e aos problemas de logística isso se deve à falta de planejamento e a concentração das decisões em uma única pessoa…pq não chamaram um técnico da própria Prefeitura que pelo que sei foi o responsável pela logística de várias edições de sucesso em outros anos? Acorda Prefeito!
Bruno, o FIT-BH precisa realmente melhorar muitas coisas. E envolver mais a cidade. Como já aconteceu em edições passadas. Obrigado por deixar sua opinião. Forte abraço!