Por MIGUEL ARCANJO PRADO*
Como não é bobo, Paulo Cesar de Araújo lançou nesta semana, sem alarde, seu livro O Réu e o Rei, pela Companhia das Letras, no qual esmiúça sua relação de amor e ódio com o cantor e compositor Roberto Carlos. Afinal, ele é gato escaldado.
Não dá para esquecer que o Rei conseguiu na Justiça o direito de recolher nas livrarias a biografia que Araújo escreveu sobre ele, lançada em 2007: Roberto Carlos em Detalhes. Hoje, os exemplares que sobraram são disputados por colecionadores.
Em entrevista exclusiva à repórter do R7 Paola Corrêa, Araújo contou o que pensa sobre seu antigo ídolo e hoje virou inimigo nos tribunais. “Roberto Carlos quer ter o controle de tudo”.
Tal pretensão soa inconcebível para uma figura pública. Desde o momento em que Roberto quis ser famoso – e lutou um bocado para isso –, deveria ter consciência de que estaria trilhando uma história que não pertence só a ele.
Agora, pelo menos parte dessa história não pertence mais apenas a ele: a briga na Justiça com Araújo foi pública e pertence aos dois, cada qual com sua versão. E o público tem o direito de ouvir — e ler — ambas.
É lamentável um artista transformar seu biógrafo em réu. Se Araújo houvesse feito um livro de má fé, repleto de inverdades inventadas, seria compreensível o ódio de Roberto. Mas, não. O livro é fruto de trabalho árduo, entrevistas intermináveis, mesmo aquelas depois desmentidas, como fez Chico Buarque, que logo precisou voltar atrás após Araújo apresentar provas, levando a moral do autor de Pedro Pedreiro lá para baixo.
Os advogados de Roberto, por sua vez, já anunciaram que estão lendo a nova obra de Araújo. Aos defensores da liberdade de pensamento e de informação, só resta pedir, com todo carinho do mundo: Por favor, Roberto, não proíba o segundo livro do cara! Você não merece entrar para a história como um artista que mandou duas obras para a fogueira.
Roberto Carlos precisa entender que não durará para sempre. E que as futuras gerações têm o direito de saber quem ele foi, o que fez, em uma visão mais isenta, que é a de um pesquisador.
O Brasil precisa acordar para o perigo que é transformar uma história em peça de marketing aprovada pelo protagonista. Geralmente, atitudes desse tipo são comuns a ditadores. Não a artistas.
*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e é contra a censura. A coluna Domingou, uma crônica semanal, é publicada todo domingo no blog Atores & Bastidores do R7.
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