Entrevista de Quinta: “Não tem essa de TV ou teatro, somos todos atores”, diz Fagundes Emanuel
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
A carinha não engana. O ator Fagundes Emanuel só tem 20 anos. Mas o pernambucano de nascimento e paulistano do coração tem currículo de deixar muita gente por aí de queixo caído. Depois de transitar pelo teatro paulistano, o jovem faz no momento sua primeira novela, Geração Brasil, no horário das 19h da Globo, na qual faz o personagem Mosca.
A trama já lhe traz reconhecimento nas ruas, mas o rapaz mantém o mesmo jeito de menino do teatro que sempre teve. Quem já o viu no bloco carnavalesco Agora Vai, no Minhocão, sabe muito bem. É desencanado e nada deslumbrado. Tanto que pegou o trem para se encontrar com a reportagem do R7 no Memorial da América Latina, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, para esta Entrevista de Quinta.
Afinal, Fagundes Emanuel não é só um rostinho jovem da TV: tem trajetória de peso no teatro paulistano. Vindo do projeto Teatro Vocacional no CEU Perus, na periferia da metrópole, logo se enturmou com companhias teatrais de respeito, como a Cia. do Feijão e a Cia. São Jorge de Variedades. Ainda cursou humor na prestigiada SP Escola de Teatro e fez o CPT (Centro de Pesquisa Teatral), de Antunes Filho, atuando na última peça do mestre, Nossa Cidade. A obra foi sucesso de público e de crítica, com o Troféu APCA de melhor espetáculo e o Prêmio Shell de melhor direção em 2013.
À vontade e sempre com um sorriso no rosto, Fagundes deu uma entrevista cheia de sinceridade. Coisa rara nos dias de hoje.
Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado — Como você foi parar na novela Geração Brasil?
Fagundes Emanuel — Aconteceu por acaso, foi engraçado como se deu, tudo começou quando eu estava numa festa de aniversário de um amigo, que é fundador do Bloco Agora Vai, do qual faço parte em São Paulo. Estava rolando uma roda de samba, e eu tocava pandeiro, foi quando me chegou uma moça e perguntou se eu era músico, respondi a ela que não e disse que sou ator. Ela disse que trabalhava na TV Globo com cadastro de novos atores e perguntou-me se eu poderia fazer um cadastro na Globo São Paulo, pois, estavam procurando atores com o meu perfil.
Miguel Arcanjo Prado — E aí?
Fagundes Emanuel — Passou-se um tempo, um ano talvez, e participei do clipe/curta dirigido pelo Heitor Dhalia da música Moon, do querido Thiago Pethit. Certo dia me ligaram já da Globo Rio, dizendo que tinham me visto no clipe e que queriam fazer um teste comigo. No primeiro momento, recusei, fiquei em dúvida, pois nunca tinha ido ao Rio de Janeiro, perguntei se não haveria a possibilidade do teste ser em São Paulo mesmo, ela disse que não e que os diretores queriam me conhecer e falar comigo, me ver pessoalmente.
Miguel Arcanjo Prado — E o que você fez?
Fagundes Emanuel — Eu respondi dizendo que ia pensar e ligaria mais tarde. Pensei dois segundos depois da ligação terminada, e retornei, já comprando as passagens e pedindo o texto do teste [risos]. Fiz o teste e passei.
Miguel Arcanjo Prado — Como foi recebido pelos atores de televisão?
Fagundes Emanuel — Acho que não tem essa distinção de ator de televisão, ator de cinema, ator de teatro, acho que somos todos apenas atores, que se adaptam a cada veículo de forma que sempre mantendo sua essência e sem perder o valor que a arte tem. Da mesma forma que o palhaço se adapta para o palco, o ator se adapta para o teatro de rua, para a televisão, para a praça. Imagino sempre que estou brincando de teatro. Mas respondendo à sua pergunta, fui otimamente recebido por todos, e já de cara fiz amizade.
Miguel Arcanjo Prado — Com quem?
Fagundes Emanuel — Sempre tive a sorte grande de fazer amizades em todos os trabalhos que passo, e dessa vez não foi diferente, logo de cara encontrei um povo lindo de Pernambuco, meus conterrâneos e vizinhos de prédio, os músicos e atores Johnny Hooker, Samuel Vieira e Julia Konrad. Além de Titina Medeiros e Luis Miranda, que é nosso padrinho, no caso nossa grande mãe (Dorothy), dentre tantos outros queridos, que não me deixam sozinho no Rio.
Miguel Arcanjo Prado — Por que resolveu ser ator?
Fagundes Emanuel — Não, nunca resolvi ser ator, desde criança brinco disso. Lembro que na pré-escola sempre me vestia de palhaço, ficava fazendo graça, sempre fui o mais levado dos meninos e um dos mais ridículos. Via beleza no ridículo e ainda vejo [risos]. Não foi bem uma coisa que eu escolhi. Aconteceu, e acontece.
Miguel Arcanjo Prado — Você nasceu onde?
Fagundes Emanuel — Nasci em Taquaritinga do Norte, uma cidadezinha do agreste de Pernambuco, pois onde meus pais moravam na época, na vizinha Santa Maria do Cambucá, não tinha maternidade. Não tenho lembranças claras de lá, meus pais foram morar em São Paulo quando tinha mais ou menos dois anos de idade. Fui criado até os 6 anos em Caieiras, município da Grande São Paulo, e vivi a maior parte da minha vida no bairro do coração, em Perus, na periferia de São Paulo capital, no conjunto habitacional Recanto dos Humildes.
Miguel Arcanjo Prado — Do que gostava de brincar quando criança?
Fagundes Emanuel — Acho difícil essa pergunta, porque não tinha uma coisa apenas, brincava de tudo [risos]. Mas, acho o que mais me marcou foi o futebol, as relações, a competição, o jogo, olhos nos olhos, parceria, ódio. Tudo rola num jogo de futebol! Sempre me atraiu também os jogos de tabuleiro e de lógicas, claro que não poderia faltar os video-games [risos].
Miguel Arcanjo Prado — Quando e onde começou a fazer teatro?
Fagundes Emanuel — Comecei a fazer teatro aos 13 anos, no CEU Perus (Centro Educacional Unificado), no Projeto Vocacional, um programa municipal que reúne diversos artistas valiosos que dão aulas em equipamentos públicos nas periferias e no centro de São Paulo. Mais uma vez tive a sorte de ter professores, no caso artistas orientadores, como são chamados no projeto, maravilhosos. Considero como minha primeira professora a artista e amiga Paula Klein. No mesmo ano com uma iniciativa do projeto de pesquisar os arredores, e a história do seu bairro, foi quando plantaram a sementinha do teatro em mim. Começamos a pesquisar a história do bairro de Perus e descobrimos uma fábrica de cimento abandonada uma greve que durou sete anos, Queixadas, Pelegos. Um cemitério com vala comum dos
militares da ditadura. Foi inevitável um espetáculo marcante em minha vida! Fizemos com dramaturgia própria uma peça a céu aberto e itinerante chamada A Revolta dos Perus, com o grupo até então amador chamado Grupo Pandora, que fazia parte do Vocacional.
Miguel Arcanjo Prado — Aí você começou a estudar atuação?
Fagundes Emanuel — No ano seguinte ao que comecei a fazer teatro, peguei gosto pela coisa, estava apaixonado não tinha como explicar… Virei, como dizem por aí, “Rato de oficina”. Em São Paulo tem muita coisa boa rolando. E assim fui, bebendo de várias fontes, a primeira e acho que uma das mais importantes em minha formação como ator, foi uma oficina que a Cia. do Feijão oferecia nos quatro cantos da cidade: norte, sul, leste, oeste. Que tinha como mote principal: memória e utopia.
Miguel Arcanjo Prado — Bem interessante…
Fagundes Emanuel — Foi maravilhoso tive o prazer de conviver com os artistas incríveis da Cia. do Feijão durante quase um ano, onde o trabalho era bem focado no ator, aprendi muito com minha capitã e querida Vera Lamy. De lá não parei mais, e fui começando a experimentar novas linguagens dentro do teatro, foi quando descobri a máscara do palhaço e o brincante popular, foquei nisso por um tempão! Como não tinha idade pra fazer teatro-escola, fazia o que podia de oficinas.
Miguel Arcanjo Prado — Foi nesta época que você conheceu a turma da Cia. São Jorge de Variedades:
Fagundes Emanuel — Assim que terminei o colégio comecei a frequentar a Cia. São Jorge de Variedades, eles estavam no processo de Barafonda, fui muito bem recebido, me sentia em casa, lá fiz de tudo, de produção a construção de adereços e figurinos, até que entrei na peça e fiz umas participações como músico-ator. Em paralelo tinha meu grupo na época para experimentar coisas que surgiam e já caminhávamos para o profissionalismo.
Miguel Arcanjo Prado — E quando você entrou na SP Escola de Teatro?
Fagundes Emanuel — Prestei vestibular para a SP Escola de Teatro no curso de Humor, para continuar e fortalecer minha pesquisa no palhaço e humor no teatro. Passei e fiz o primeiro módulo do curso. Foi quando o Raul Teixeira, que é coordenador de sonoplastia na escola e do CPT (Centro de Pesquisa Teatral) do Antunes Filho, me parou no corredor da escola e me perguntou se eu não queria fazer um teste no CPT. Disse que sim, fiz o teste e passei.
Miguel Arcanjo Prado — Você e seus testes… [risos]
Fagundes Emanuel — O CPT foi o inicio de um processo incrível com duração de quase dois anos, e essa sim foi minha escola de formação profissional. Com a convivência com o mestre Antunes Filho, tive a chance e o prazer de aprender um pouco o método de ator que ele desenvolve no decorrer de sua vida. E, sem dúvidas, ter o privilégio de passar por uma das escolas mais importantes do teatro brasileiro. Só tenho a agradecer!
Miguel Arcanjo Prado — Como foi pra você ter de sair de Nossa Cidade para fazer a novela na Globo? Como foi a conversa com o Antunes?
Fagundes Emanuel — Minha conversa com Antunes não existiu, aconteceu tudo tão de repente que acabei não tendo tempo de conversar diretamente com ele, e quando tive tempo, a coragem e a vergonha me impediram… É uma divida amarga que carrego comigo! Saí da peça quando ela estava no melhor momento, estava engatada, tudo rolando, tínhamos acabado de ganhar o APCA, o elenco em harmonia, foi e é uma dor no peito ter que largar um trabalho tão lindo e sensível dessa forma, às pressas. Mas são escolhas, né? Duro, mas é a realidade. Não sei se fiz a escolha certa, mas me arrisquei. Vim experimentar coisas novas e estou tendo a chance de aprender uma nova linguagem, que não é menor ou maior que qualquer outra.
Miguel Arcanjo Prado — O que pretende fazer depois que a novela acabar? Fica no Rio ou volta pra São Paulo?
Fagundes Emanuel — Ainda não pensei sobre isso, o primeiro pensamento é voltar pra terra da garoa. Talvez, começar um novo projeto, não sei… Vamos com calma, tudo depende, ainda tenho muito tempo. O Rio realmente é encantador. Mas São Paulo está no coração.
Miguel Arcanjo Prado — Qual a melhor e a pior coisa de ser ator?
Fagundes Emanuel — A melhor coisa… Acho que seja essa liberdade de fazer e ser o que quiser, poder transitar por diversos mundos, usando sempre o poder de comunicar algo ao outro, explorar e descobrir. E a pior, não sei se classificaria assim, mas já que esta é a palavra, seria a desvalorização do artista, não é nem do ator, do artista. Tenho tantos amigos que são formados e até mesmo mestres em artes e estão sempre em crise com falta de apoio, isso realmente assombra todos nós, e me deixa muito triste essa instabilidade financeira e de mercado. É realmente cruel e, infelizmente, é uma realidade que não é de hoje. Sempre fomos mambembes. Comendo pão com ovo!
Miguel Arcanjo Prado — O que dá para adiantar do seu personagem em Geração Brasil?
Fagundes Emanuel — Ah! [risos] Não posso dizer… Tem de ser surpresa!
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Fagundes!! *-*
Parabéns, Fagundes pelas suas conquistas… Que Deus possa iluminar cada vez mais seus caminhos e você alcance todos os seus objetivos..E tenha sempre essa humildade…Bjos
Muito bacana esta reportagem! Parabéns Fagundes! !!
Irmão… Fico muito feliz pelas suas conquistas, saiba que tenho imenso carinho por você. Estou orgulhoso desse ator que você se tornou e que se renova a cada dia. Parabéns…
Não sei se você lembra, mais na escola a onde estudamos o fundamental cantamos juntos uma música, da “velhinha” aquilo foi muito legal rs, enfim.. ali você já era um ator, apenas precisava se descobrir.
Brother Parabéns, o que dizer de uma pessoa maravilhosa e talentosa como você…
Cara estou muito orgulhoso de você, levando suas origens e o nome do seu bairro por onde passa!
Um forte abraço de seu maninho. Que Deus lhe abençoe hoje e sempre, que continue sempre humilde desta forma que sempre foi.
Beijosssss
fagundes emanuel , o que falar desse garoto, o conheço desde os 1o anos de idade. sempre foi muito educado, simpatico e assim como toda a familia, um batalhador.
fagundes emanuel , o que falar desse garoto, o conheço desde os 1o anos de idade. sempre foi muito educado, simpatico e assim como toda a familia, um batalhador.
O Fagundes Emanuel deu uma entrevista límpida e totalmente refrescante. Ele é uma pessoa que se mostra de carne e osso e não um pernóstico “poser”. Tão bom ver entrevistas dadas com naturalidade! É até um momento de alívio em meio a algumas entrevistas que já vi/li com algumas celebridades “blasé”, como diria Fabíola Reipert. Já o Fagundes Emanuel é alguém vivo, simpático, capaz de diálogo. Palmas efusivas para ele!
Quando nos conhecemos, ainda na infância, bem sabia que você trazia um brilho diferente no olhar, algo que me dizia: ele será vencedor e de fato, isso se confirmou, você venceu! Conseguiu conquistar mais um de seus sonhos.
Quero dizer que estou feliz por você Fagundes! Parabéns! E que sua conquista sirva para inspirar mais e mais pessoas a buscarem a realização de seus ideais.
Quando nos conhecemos, ainda na infância, bem sabia que você trazia um brilho diferente no olhar, algo que me dizia: ele será vencedor e de fato, isso se confirmou, você venceu! Conseguiu conquistar mais um de seus sonhos.
Quero dizer que estou feliz por você Fagundes! Parabéns! E que sua conquista sirva para inspirar mais e mais pessoas a buscarem a realização de seus ideais.
Bom ver um artista da nossa região numa conversa sensata e valorando os lugares que o fizeram gente. Parabéns!
Parabens priminho muito sucesso
Fagundes conseguiu muitos comentários, todos favoráveis. Dá para ver que é uma pessoa natural, espontânea, da qual todos gostam.
Fico feliz de ver o Fagundes crescendo como ator,tenho visto sua atuação na novela além de ter conhecido pessoalmente e sei que é uma pessoa maravilhosa e grande exemplo de um ator determinado indo em busca de seus objetivos.Parabéns!