João Ubaldo Ribeiro abriu nossas cabeças
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
João Ubaldo Ribeiro, que morreu nesta sexta (18), aos 73 anos, em sua casa, no Rio, foi o maior libertador de nossa sexualidade na literatura brasileira.
Seu romance A Casa dos Budas Ditosos, adaptado brilhantemente para o teatro por Domingos de Oliveira no melhor espetáculo da carreira de Fernanda Torres, é uma aula de sensualidade, sem repressão, sem culpa.
O escritor baiano, nascido na paradisíaca Ilha de Itaparica, soube como ninguém construir com maestria em sua prosa elegante o fogo de nosso povo. Povo que ele amava e que deu título a outro romance seu reconhecido mundialmente, Viva o Povo Brasileiro. Vinha da mesma forma de Jorge Amado, outro baiano romântico e sensual.
Ler João Ubaldo Ribeiro é tornar-se seu cúmplice. E também de seus personagens abrasados, que sucumbem ao chamado do instinto, do corpo, da vida.
O Brasil, sem João Ubaldo Ribeiro, fica ainda mais careta. Mais quadrado. Mais chato.
Vai fazer uma falta enorme este homem debochado e ao mesmo tempo sincero, que mostrou a todos que não há pecado do lado de baixo do Equador. Ele nos ensinou que ter fogo não é feio, não é errado. Muito pelo contrário, é o que somos. E é o que nos faz belos. Vivos.
Por isso, os romances que criou são à base do desejo. Quem não pode ser reprimido nem acusado.
João Ubaldo Ribeiro abriu nossas cabeças.
Ai, que falta enorme que ele já faz…
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Embora não faça ode ao hedonismo (muito pelo contrário), é impossível não reconhecer o talento literário de João Ubaldo. No mesmo estilo de Jorge Amado – mas com identidade autoral bem evidente (frise-se) -, João Ubaldo realmente apresentou um estilo literário bem sensual, no qual os personagens se deixam dominar pelas sensações corporais. Seu comentário, neste aspecto, Miguel, é irretocável. Pessoalmente, acho que o ser deve ser pautado pelo equilíbrio entre razão e emoção e certamente bem menos instintivo. Mas, enfim, cada um lê o que gosta e o que quer. Eu, por exemplo, adoro os personagens absolutamente virginais, até porque, atualmente, só autores incrivelmente criativos conseguem desenvolvê-los face à cultura hedonista que pipoca por aí.