Crítica: Maria Pagés põe fogo no palco do Teatro Coliseu com flamenco contra a caretice do mundo
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Enviado especial do R7 a Santos*
O vermelho que envolve o corpo da bailarina Maria Pagés é um grito de resistência contra a morte da utopia. Afinal, se não há mais a possibilidade de se sonhar com algo melhor, o que nos resta?
No corpo de Pagés, a dança flamenca ganha contornos inimagináveis tais quais os das curvas propostas no concreto do arquiteto Oscar Niemeyer, com o qual dialoga no espetáculo Utopia, um dos destaques do Mirada 2014, o Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos realizado pelo Sesc São Paulo até o próximo dia 13.
Na montagem, a coreógrafa e bailarina espanhola e seu grupo investigam os limites da ideologia impossível no embalo da onda que se ergueu no mar. O espetáculo, apresentado diante de um boquiaberto Teatro Coliseu, em Santos, no último fim de semana, é um convite ao sonho que não pode ser esmagado pela realidade mesquinha e conservadora.
Marcha careta
Ela faz isso muito bem ao substituir uma marcha militar repleta de caretas medonhas por samba solar. É um samba de beira de praia, acompanhado de forma vibrante pelos bailarinos. É a forma de Pagés dialogar com o Brasil e a cidade que a recebe.
O espetáculo assume nuances distintas. Vai do fogo puro a momentos de introspecção. E mesmo após o samba, no Brasil praticamente o fim de tudo, ela consegue voltar a momentos mais densos, um grande feito.
A música, executada ao vivo por Ana Ramón, Chema Uriarte, Fred Martins, José Fyty Carrillo, Juan de Mairena, Rubén Levaniegos e Sergio Menem enche ainda mais a dança de sentido em um diálogo que atinge diretamente o coração do espectador, tudo sob o comando de som minucioso de Albert Cortada.
Bailarinos entregues
Maria Pagés, que não é boba, além de ter José Barrios como assistente coreográfico, faz questão de ser cercada de um time de bailarinos cheios de paixão e que merecem ser nomeados: Eva Varela, José Barrios, José Antonio Jurado, Isabel Rodríguez, Maria Pagés, Paco Berbel e Rubén Puertas.
Juntos formam um conjunto coeso e entregue, merecedor dos aplausos fartos no final da obra e que enganaram até o operador da cortina do Teatro Coliseu, que teimou em fechá-la antes do tempo correto do fim da obra na sessão vista pelo R7. Mas nada que a força de Maria Pagés e seu grupo não tirassem de letra.
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Sesc São Paulo.
Leia a cobertura do R7 no Mirada
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Havia feito um comentário anteriormente porém lamentavelmente se perdeu por falha operacional. De qualquer forma, bela foto de Dani Sandrini!