Conheça os Melhores do Teatro R7 2014
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
O teatro brasileiro teve em 2014 um ano de farta produção. O público compareceu em peso às salas, prestigiando obras de todas as tendências estéticas.
Prova disso foram os cerca de 250 mil votos recebidos na escolha dos Melhores do Teatro R7 2014, em votação promovida aqui no blog Atores & Bastidores.
O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado e o fotógrafo teatral Bob Sousa escolheram sete indicados em 17 categorias, totalizando 120 nomes que representaram a diversidade dos palcos.
E quem deu a palavra final foi você. Veja, abaixo, a lista completa dos vencedores. Parabéns a todos!
Melhor Espetáculo: Sit Down Drama
Eric Lenate dirigiu o texto de Michelle Ferreira protagonizado pelo ator Danilo Grangheia. O trio talentoso cercado por elenco e equipe técnica potente sob comando dos produtores Maria Betania Oliveira e Ricardo Grasson resultou em Sit Down Drama, um espetáculo que conquistou o inteligente público paulistano com seu humor ácido sobre um humorista que paga o preço por uma piada fora do tom politicamente correto. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
Melhor Diretor: Zé Celso Martinez Corrêa (Walmor y Cacilda 64: Robogolpe e Cacilda!!!!! A Rainha Decapitada)
Zé Celso colocou em diálogo a efervescência política do Brasil atual com aquela vivida pelo País há 50 anos, quando foi dado o golpe civil-militar de 1964. Para completar, encerrou o ano com a Odisseia das Cacildas, com obras plugadas ao Brasil contemporâneo. Em 2014, Zé transbordou potência criativa. É um dos maiores gênios vivos do teatro mundial.
Melhor Ator: Marcos de Andrade, por Karamázov
A Cia. da Memória, sob comando de Ruy Cortez, embrenhou-se em um clássico da literatura mundial, com a primeira adaptação nos palcos brasileiros da obra Karamázov. Ator de refinada técnica, Marcos de Andrade se destacou no elenco da peça, com uma atuação propositiva e inquietante.
Melhor Atriz: Amanda Acosta, por Caros Ouvintes
Na pele de uma cantora de rádio que vê a decadência do veículo que é sua expressão de vida, Amanda Acosta impressionou o público de Caros Ouvintes com uma atuação segura e intensa, sob direção de Otávio Martins. Representou como ninguém a dor de quem precisa descer alguns degraus da vida, mas sem jamais perder a dignidade.
Melhor Autora: Eloisa Vitz, por Reino
Em ano de feroz confronto entre esquerda e direita, Eloisa Vitz mostrou olhar perspicaz para sua contemporaneidade na comédia Reino. Com inteligência e fina ironia, contou a história de uma rainha que não quer abandonar o poder. Arrancando fartas gargalhadas da plateia em sutis associações com a política brasileira atual.
Revelação: Camila dos Anjos, por Propriedades Condenadas
Rosto já conhecido do público de televisão, Camila dos Anjos chamou a atenção dos espectadores do teatro por sua atuação na peça Propriedades Condenadas, com texto de Tennessee Williams e direção de Marco Antônio Pâmio. Em dose dupla, encarnou com veracidade tanto uma adolescente confusa quanto uma dondoca falida.
Personalidade: Sergio Maggio, dramaturgo e diretor
O ano de 2014 foi de projeção nacional para o dramaturgo e diretor Sergio Maggio, baiano radicado no Distrito Federal, com seu espetáculo musical Eu Vou Tirar Você Desse Lugar – As Canções de Odair José. Com um teatro simples, mas feito com garra e intensidade, colocou seu nome no mapa dos musicais genuinamente brasileiros.
Melhor Iluminação: Rodrigo Alves, por Genet, o Poeta Ladrão
Rodrigo Alves criou uma iluminação soturna para ambientar o submundo do espetáculo Genet, o Poeta Ladrão, dirigido por Sérgio Ferrara. A noite, as drogas, o sexo e a poesia ganharam novas matizes entre luzes e fumaças inebriantes em uma atmosfera que cativou o espectador.
Melhor Cenário: Antonio Vanfill, por Cartas a Madame Satã
Um quarto repleto de televisores e um ursinho de pelúcia abrigou o jovem negro e homossexual interpretado por Sidney Santiago Kuanza, na peça Cartas a Madame Satã – Ou me Desespero sem Notícias Suas, da Cia. Os Crespos, dirigida por Lucélia Sergio. Detalhista ao extremo, ao ponto de colocar um vinil de Assis Valente ao lado de uma vitrola sobre um criado-mudo vermelho, o cenógrafo Antônio Vanfill criou ambiente potente que dialogou com os desabafos em cena.
Melhor Figurino: Fábio Namatame, por Caros Ouvintes
Fábio Namatame abusou do bom gosto para costurar as roupas da década de 1960, com ares de anos 1950, que vestiram os personagens de Caros Ouvintes. A opulência dos tempos de ouro do rádio, já em franca decadência, foi explicitada nos cortes e tecidos que representaram um sopro de calma e elegância antes da urgência apressada da modernidade.
Melhor Música-Trilha: Eu Vou Tirar Você Desse Lugar – As Canções de Odair José
A música de Odair José ganhou novo significado no som da banda competente formada por Alex Souza, Renato Glória, William Gláucio e Vavá Afiouni — supervisionados pelo próprio Odair. Nas vozes de Watusi, Jones de Abreu, Camila Guerra, Gabriela Correa, Luiz Felipe Ferreira, Rodrigo Mármore, Renato Milan e Tainá Baldez, as canções rejeitadas por parte da intelectualidade nacional foram recuperadas sob direção geral de Sergio Maggio. O musical Eu Vou Tirar Você Desse Lugar realmente colocou as canções de Odair José em um novo — e melhor — patamar.
Melhor Festival: Fentepp (Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente)
A cidade de Presidente Prudente, no interior de São Paulo, chegou de mansinho com seu festival, o Fentepp, já na reta final do ano, mas acabou conquistando não só o público local quanto os artistas e a mídia nacional. O evento teve a glória de ter em sua programação os dois maiores nomes vivos do teatro brasileiro: Antunes Filho e Zé Celso. Organizado pela Prefeitura de Presidente Prudente, Sesc em São Paulo e Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, o evento atingiu a maioridade em sua 21ª edição e ocupou lugar definitivo entre os grandes festivais de teatro.
Melhor Grupo: Grupo Magiluth
Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sérgio Cabral, Pedro Vilela, Pedro Wagner e Thiago Liberdade, os integrantes do Grupo Magiluth, são aguerridos, talentosos e interessantes. Em 2014, celebraram dez anos do grupo, com frenética turnê com mais de uma centena de apresentações pelo Brasil. E ainda conseguiram tempo para dialogar com o público e outros artistas, além, é claro, de fazer uma festa de arromba. Não é à toa que eles são os Novos Pernambucanos do Teatro Brasileiro. Artistas (e, sobretudo, gente) de verdade.
Melhor Espetáculo Estrangeiro: Sudado, de Jorge Eiro (Argentina)
O diretor argentino Jorge Eiro chegou a São Paulo com seu espetáculo Sudado já no finzinho do ano, mas ainda a tempo de mostrar o quão interessante pode ser um teatro composto de estados. Em um restaurante peruano no bairro de Abasto, em Buenos Aires, dois pedreiros e o proprietário criam uma relação que se revela aos poucos, a partir do olhar inteligente da direção e do público. E a obra inda consegue condensar este sentimento confuso e ainda colonizado chamado latinidade.
Melhor Projeto: Teatro SOLO, de Matías Umpierrez (Argentina)
O diretor portenho Matías Umpierrez apresentou em São Paulo, em parceria com a Oficina Cultural Oswald de Andrade, o seu projeto Teatro SOLO, já produzido também nos Estados Unidos e na Espanha, além da Argentina. Cada espectador viu uma peça exclusiva, podendo interferir até mesmo no fim da história. E saiu dela impactado.
Melhor Teatro: Teat(r)o Oficina
O prédio projetado por Lina Bo Bardi e Edson Elito no número 520 da rua Jaceguai, no coração do Bixiga, no centro de São Paulo, é sinônimo de liberdade artística e livre pensar. Nele, Zé Celso e os artistas do Oficina convidam o público a participar junto, em uma grande catarse artística coletiva. Ir ao Teat(r)o Oficina é uma das experiências teatrais mais interessantes do planeta.
Melhor Instituição: Escola Livre de Teatro de Santo André (ELT)
Há mais de duas décadas, a Escola Livre de Teatro de Santo André é celeiro de formação de artistas inquietos e inteligentes. Muitas vezes preterida pelos governantes da cidade onde está instalada, ela se mantém de pé sobretudo pela força dos que estão dentro dela e também dos que já passaram por ali, que sempre conseguem mobilizar a classe artística em sua defesa. Afinal, a ELT é patrimônio do teatro brasileiro.
Saiba qual foi a porcentagem de cada vencedor em 2014
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Hoje vou quebrar sistematicamente todos os dogmas que construí ao longo de minha participação no blog. Só por hoje deixarei de tecer meus comentários sobre o Teatro e sobre os resultados de premiações teatrais para desejar ao colunista e demais leitores um Natal suave, tranquilo e doce. É preciso resgatar os valores da bondade, da solidariedade, da misericórdia, da doçura e da cortesia. Tenham todos um Natal suave, com doçura na alma e pouca doçura na mesa porque açúcar na comida em excesso não é saudável!
Sobre os resultados, se der, comentarei depois.
Obrigado, Phillipe. Para você também, tudo de bom. Um lindo Natal e um 2015 cheio de saúde, amor e paz!
Obrigado! Iria comentar sobre os resultados, porém declino porque é inócuo já que estão premiados. Parabéns aos vencedores e demais competidores!