Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Como diz Gilberto Gil, “toda menina baiana tem um jeito, que Deus dá”. E todo menino baiano também.
Por isso, a versão dos anos 1990 para As Noviças Rebeldes de Wolf Maya, com os atores da Cia. Baiana de Patifaria, entrou para a história do teatro brasileiro recente, tamanha a quantidade de gargalhadas que a plateia dava.
O êxito foi tanto que os baianos foram com Wolf para Nova York, onde ficaram hospedados na casa do autor, Dan Goggin, e conquistaram o circuito off-Broadway por duas semanas, rendendo elogios até do sisudo The New York Times.
Pois a nova versão da peça, dirigida pelo mesmo Wolf, mas com um elenco absolutamente técnico, não tem o apelo da montagem anterior. É uma espécie de volta melancólica a um sucesso do passado.
Na nova versão, até sobra precisão vocal, mas falta alma, graça, caco. Falta vida pulsante e real no palco. E este era o segredo do sucesso da versão brasileira-baiana da peça.
O novo elenco é formado por Soraya Ravenle, Sabrina Korgut, Helga Nemeczyk, Carol Puntel, Simony Lino e Mauricio Xavier — único homem do elenco e espécie de homenagem à versão consagrada.
O texto de Dan Goggin, adaptado por Flávio Marinho, mostra um grupo de cinco freirinhas que resolvem fazer uma “apresentação artística” para angariar fundos para o enterro de um grupo de irmãs falecidas após tomar sopa com data de validade vencida.
O enredo é mesmo absurdo. Trata-se apenas uma deixa para que o show das irmãs aconteça, desvendando as estrelas que habitam dentro de cada uma delas e levando o público a se divertir com o inusitado.
O novo elenco, garimpado no mercado dos musicais recentes, tem domínio técnico e canta bem. Mas não consegue segurar o tempo de comédia.
Quando falam, quase tudo soa forçado e artificial, tal qual o cenário que está mais para mesquita muçulmana do que para convento católico.
Sabrina Korgut é a única que consegue algum grau de verdade, quando faz dueto consigo mesma e seu fantoche de freira desbocada — número que já tem meio caminho andado para divertir o público.
A falta de precisão nas coreografias provoca a dúvida: será que o elenco está dançando mal porque as freirinhas não sabem dançar direito ou será que realmente a coreografia está suja?
As Noviças Rebeldes é um espetáculo que só funciona quando tem atuadores com tempo nato de comédia, aquele talento único que se nasce com ele, ou não há conversa. E é a falta gritante desta dádiva divina o grande problema da montagem atual.
As Noviças Rebeldes
Avaliação: Regular
Quando: Sexta e sábado, 21h30, domingo, 19h. 80 min. Até 8/3/2015
Onde: Theatro NET São Paulo (r. Olimpíadas, 360, shopping Vila Olímpia, São Paulo, tel. 0/xx/11 4003-1212)
Quanto: R$ 150 (plateia) e R$ 100 (balcão)
Classificação etária: 12 anos
Curta nossa página no Facebook!
Leia também:
Saiba o que os atores fazem nos bastidores