Entrevista de Quinta: Dupla quer botar Ceará no mapa dos grandes musicais
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
O produtor Allan Deberton e o diretor André Gress só têm uma coisa em mente nos próximos meses. Produzir o musical Avenida Q em Fortaleza, no Ceará. A temporada já está marcada: será no mês de julho deste ano, no Teatro ViaSul, com sessões de quinta a domingo.
Ousada, a superprodução quer colocar o Ceará no mapa dos grandes musicais brasileiros, ao lado de São Paulo e do Rio. As inscrições para interessados em participar das audições que formarão o elenco estão abertas até 10 de fevereiro no site do musical. Nove artistas serão selecionados. Haverá audições em Fortaleza e também no Rio.
O musical conta a história de uma avenida do subúrbio nova-iorquino e seus personagens cheios de sonhos. A versão brasileira é de Claudio Botelho, que fez sucesso recentemente em produção no Rio e em São Paulo (leia crítica). Agora, é a vez de Fortaleza.
O Atores & Bastidores do R7 conversou com os artistas responsáveis por este ambicioso projeto nesta Entrevista de Quinta.
Leia com toda a calma do mundo.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Avenida Q será o primeiro musical da Broadway produzido no Nordeste?
ALLAN DEBERTON – Pelo que temos conhecimento, com direitos profissionais de produção, com toda a estrutura técnica necessária, montado regionalmente, sim. Avenida Q estreia em Fortaleza com grande parte da equipe com técnicos locais, diretor e produtor cearenses. O espetáculo pretende inaugurar o conceito de temporada deste segmento, ficando em cartaz de quinta a domingo em julho deste ano.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Vocês darão prioridade a artistas do Ceará e do Nordeste nas audições?
ALLAN DEBERTON – Nosso desejo é fomentar regionalmente, descobrir e revelar novos talentos, profissionalizar e desenvolver o setor. Artistas locais competem de igual para igual com candidatos de outros Estados, mas, na hora de escalar o elenco, privilegiaremos o candidato ou candidata mais preparado para dar vida aos personagens.
ANDRÉ GRESS – É um espetáculo que exige muito do ator, pois geralmente interpretam mais de um personagem, com personalidades bem distintas. Além disso, manipulam bonecos, cantam e dançam.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Como surgiu a ideia do projeto?
ALLAN DEBERTON – Nos últimos anos tenho assistido quase todos os musicais montados no Brasil. Lembro que Avenida Q, quando estreou no Rio, em 2009, foi uma das produções mais elogiadas, com teatro sempre cheio e público que não parava de rir. Assisti mais de cinco vezes. E queria muito que os cearenses tivessem essa experiência que eu tive. Comecei a negociar em 2011 os direitos para produzir o espetáculo e, em 2012, conseguimos a autorização. Foi quando conheci André Gress e o convidei para fazer a direção do espetáculo. Sonhador, perfeccionista, audacioso e artista preparado, André trabalhou com grandes diretores da Broadway. Sonhamos juntos e, com ajuda de profissionais competentes, estamos transformando este sonho em realidade.
MIGUEL ARCANJO PRADO – O que este musical tem a dizer ao cearense?
ALLAN DEBERTON – Avenida Q é uma das comédias mais irreverentes da Broadway. Divertido e sarcástico, possui um texto universal, pois a Avenida Q pode ser uma avenida qualquer da Argentina, da China, da Inglaterra e, por que não do Ceará? Moramos na terra do humor, Avenida Q combina muito com Fortaleza.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Como vocês esperam que o público de Fortaleza receba o musical?
ALLAN DEBERTON – Esperamos que a plateia tenha uma nova experiência. Que aqueles que nunca assistiram a um musical se encantem com o gênero, este encontro será possível porque nossos ingressos serão a preços populares.
ANDRÉ GRESS – E que também aqueles mais viajados, que já assistiram musicais no Brasil ou no exterior, saiam impressionados com nossa produção. Estamos trabalhando para fazer bonito.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Acha que esta montagem abrirá portas para o teatro musical local?
ALLAN DEBERTON – Queremos desenvolver o setor aqui, potencializar. Fortaleza é uma das maiores capitais do Brasil, já recebe grandes shows, tem o segundo maior Réveillon do País e é uma cidade muito turística! Produzir um musical não é fácil, ainda mais sendo o primeiro deste porte. Mas estamos muito confiantes. Não mediremos forças para oferecer o melhor para nosso público e construir uma história na cidade.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Quem está apoiando o projeto?
ALLAN DEBERTON – Os Correios estão apresentando o espetáculo, nosso patrocinador master, com realização do Ministério da Cultura e apoio cultural da Caixa, FazAuto, Ceará Motos, Ceará Motor, Newland, Bandeirantes Midia Exterior e FisioVida.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Qual a importância de um projeto como este para o mercado artístico local?
ALLAN DEBERTON – Acreditamos que estamos contribuindo com o fortalecimento da classe artística e com a descoberta de novos talentos. Queremos desenvolver a cena local, incentivar, oferecer treinamento, possibilitar visibilidade, formar público. Temos um projeto nobre e estamos em busca de incentivadores.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Como você vê a cena artística daqui a dez anos em Fortaleza para o mercado musical?
ALLAN DEBERTON – Percebemos Fortaleza como uma cidade cada vez mais internacional. A cena cultural tem mudado. De um tempo pra cá foram inaugurados novos cinemas, novos teatros, o Carnaval da cidade está ficando cada vez mais forte e artistas locais são revelados na TV, no cinema, na música e no teatro. O cearense quer que nosso Estado se desenvolva, gostamos de nos sentir capazes. Daqui a dez anos queremos produzir musicais com histórias nossas e que eles tenham tanto sucesso como outros espetáculos da Broadway! Estamos formando um time competente de sonhadores.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Qual dos musicais da Broadway produzidos recentemente no Brasil você mais gostou?
ANDRÉ GRESS – Se for no sentido de musical, fiquei apaixonado pela montagem do diretor João Falcão que retratou a vida de Luiz Gonzaga com muita delicadeza, Gonzagão (leia crítica). Na linha de grandes produções da Broadway fico com a montagem de Priscila, Rainha do Deserto (leia crítica). Fiquei impressionado com a qualidade e beleza do espetáculo.
ALLAN DEBERTON – Adorei Book of Mormons, produção acadêmica da Unirio. Tantos jovens talentos juntos, amor a teatro musical e brilho no olhar destes estudantes me emocionaram muito! O resultado foi um espetáculo que não perdia em nada para a qualidade técnica de musicais profissionais. Hoje, o Leo Bahia, um dos protagonistas da peça, é do elenco de Chacrinha, o Musical.
MIGUEL ARCANJO PRADO – André, por que você trabalha com arte?
ANDRÉ GRESS – Trabalho com arte para suprir uma necessidade de contar histórias. Acredito que cada pessoa tem um papel muito importante na sociedade. Através de produções que misturam várias formas de arte, como canto, dança e interpretação eu me encontro em um local de realização, onde o foco principal é fazer com que o espectador entre em imersão no universo mágico desenvolvido unicamente para retratar uma experiência única e sensorial.
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A proposta é muito interessante. Fico feliz que haja gente articulando para pôr o Ceará em destaque na produção teatral. É bom para quebrar essa hegemonia do eixo Rio-São Paulo. A arte deve ser democratizada.