Por MIGUEL ARCANJO PRADO
O mundo de alguém entregue ao vício é desvendado no filme Nóia, dirigido por Elder Fraga e com roteiro de Maristela Bueno. E quem dá vida a todo este desespero é a atriz Patrícia Vilela, gaúcha radicada em São Paulo. O curta será lançado nesta quinta (26), às 20h, no MuBE (av. Europa, 218, Jardins, São Paulo; ingresso a R$ 5). Ainda estão no elenco Alexandre Barros, Angela Barros e Fransérgio Araújo.
A história é baseada em fatos reais e mostra a angústia de uma mulher completamente em crise por conta de sua dependência química. Maristela Bueno, que criou o roteiro após pesquisa com familiares de usuárias de drogas e mulheres que se envolveram com traficantes e usuários, afirma que foi o trabalho de Patrícia no teatro que a fez ganhar o papel. “Precisava de uma atriz com atuação visceral, despida de freios morais, pois a personagem exigia alguém que superasse suas limitações e ao mesmo tempo expressasse com delicadeza a subsistência de uma mulher abandonada à própria sorte”, afirma.
A roteirista elogia o resultado: “Patrícia foi muito além do que o texto propunha, doou-se completamente, exacerbando seu talento numa atuação selvagem e sublinhada de emoções contraditórias. Houve uma sinergia tão forte entre o elenco que resultou num excelente conjunto de interpretações”.
Elder Fraga, o diretor, também ressalta a entrega. “Patrícia fez um trabalho excelente. Pegou um personagem difícil e deu humanidade. Minha sorte foi ter um elenco incrível. Patrícia é grande atriz e espero voltar logo para o set com ela, que bateu um bolão com os outros atores, Alexandre Barros, Angela Barros e Fransergio Araújo. Achei fantástico poder pesquisar e trabalhar em cima das alucinações que muitos usuários de drogas tem, as vozes que eles ouvem, enfim, não posso contar muito senão entrego o filme e estrago a surpresa”.
Nesta Entrevista de Quinta ao Atores & Bastidores do R7, Patrícia Vilela fala sobre o desafio de viver uma personagem tão complexa.
Leia com toda a calma do mundo.
MIGUEL ARCANJO PRADO —Como surgiu o convite do curta?
PATRÍCIA VILELA — O convite partiu da roteirista e produtora Maristela Bueno, que está investindo muito em produção para cinema, inclusive com outros projetos de curtas.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Qual o maior desafio em fazer esta personagem?
PATRÍCIA VILELA — Personagens são sempre um desafio. Com a experiência fiquei mais segura, mas não menos ansiosa e preocupada em fazer o melhor. O desafio desta personagem foi imprimir humanidade e verdade, porque personagens assim correm o risco de cair no estereótipo ou overacting, principalmente para o cinema, onde a tela aumenta cem vezes o seu rosto.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Como você construiu a personagem?
PATRÍCIA VILELA — A partir dos ensaios e, através da orientação e direção firme do Elder Fraga, fui entendendo a personagem e todo o problema de dependência química envolvido. Pesquisei as reações físicas de dependentes e me concentrei na paranoia, no desespero e todas as angústias que envolvem as pessoas que vivem numa situação de limite. Fiquei muito livre para criá-la, me senti segura nas gravações com uma equipe superprofissional, colegas de cena talentosos e um diretor, Elder Fraga, focado no trabalho do ator.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Mudando um pouco de assunto, você gostou de Birdman, do mexicano Iñarritu, ter ganhado o Oscar?
PATRÍCIA VILELA — Ainda não vi o filme. Mas achei ótimo um latino-americano ganhar. A América é multicultural. Se o vencedor é talentoso e mereceu, é isso que importa. Os latino-americanos vêm se destacando e é natural receber prêmios e o respeito do público e crítica.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Você tem relação frequente com o cinema como atriz?
PATRÍCIA VILELA — Atuei nos curtas Dark Angel, de Paulo Suckow, O Homen Perfeito e Suas Mentiras, de Thais Vetorelli, Versus, com roteiro de Roberto Soares e direção de Rodrigo Macedo, e Olho Mágico, de Wagner Molina. E, com direção de Cauê Angeli, o longa Whisky e Hambúrguer, que está em processo de finalização, com a trilha sonora composta especialmente por Marcelo Gross, guitarrista da banda Cachorro Grande. O filme é a peça escrita e dirigida por Mário Bortolotto, com que divido a cena e que estreou no ano passado no Festival de Teatro de Curitiba. E ainda tem mais dois curtas para este ano. E quero fazer muito mais cinema, porque sempre foi minha paixão.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Tem mais projetos para 2015?
PATRÍCIA VILELA — No momento, estou captando para um projeto de peça infantil que vou dirigir e produzir, e uma peça adulta onde vou atuar e produzir.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Patrícia, vamos falar de outro tema bem atual: você está com medo da crise hídrica?
PATRÍCIA VILELA — Tenho muita preocupação sim. Infelizmente muitas coisas no nosso país são resolvidas tardiamente. Sem planejamento algum, estamos à mercê da sorte que a chuva venha. Mas me espanta que muitas pessoas nunca pensaram que isso poderia acontecer. Nunca pensaram sequer em economia da água, desperdiçando sem dó. Pena que só no perigo eminente as pessoas têm consciência.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Voltando à temática do filme, você é a favor da liberação da maconha no Brasil como ocorreu no Uruguai?
PATRÍCIA VILELA — Sou a favor da liberdade. Da liberdade de pensamento, de criação, expressão principalmente liberdade das escolhas do indivíduo. Mas escolhas implicam em responsabilidade. Será que o Brasil está preparado para isso?
MIGUEL ARCANJO PRADO — E como acha que o problema das drogas deveria ser resolvido? É um caso de polícia ou de caos social?
PATRÍCIA VILELA — Acho que é mais um problema de saúde pública do que policial ou social. O que falta é dar suporte aos dependentes. Se o governo oferecesse este suporte já seria um bom começo para resolver o problema.
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