Selvática reina na cena underground curitibana e promove show off Por Que Não Tem Paquita Preta?
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Enviado especial do R7 a Curitiba*
Fotos ANNELIZE TOZETTO/Clix
Os artistas da Selvática Ações Artísticas são dos mais interessantes não só de Curitiba como da cena teatral atual no Brasil. Primeiro, porque têm personalidade de sobra. Segundo, porque são inteligentes, charmosos e dominam muito bem o discurso que fazem no palco e na vida.
Logo, reencontrá-los no Festival de Teatro de Curitiba é tarefa obrigatória a qualquer jornalista que tenha o desejo de dialogar com seu tempo. E nossos tempos andam muito confusos. Isso é notório. Mas, a turma da Selvática, adora mesmo uma confusão. E faz dela material criativo farto.
Seus integrantes Ricardo Nolasco, Leonarda Glück e Stéfano Belo chegam ao Memorial de Curitiba cheios de histórias para contar ao Atores & Bastidores do R7. Afinal, estiveram no começo do ano em Portugal, onde se apresentaram em Lisboa com a peça Cabaret Glicose.
Mas, antes de falarmos de Europa, conversemos sobre o Festival. O trio conta que “depois de fazer o Festival de Curitiba por uns 15 anos”, neste ano não estão na programação oficial por decisão deles mesmos. “Sem apoio é difícil. Fazer o Fringe é muito complicado. A gente precisa volta ao Festival na Mostra Oficial com cachê”, diz Stéfano.
Paquita preta
Mas não vão passar em brancas nuvens estes dias teatrais curitibanos. Preferiram fazer um evento off,, em sua Casa Selvática (r. Nunes Machado, 950), espécie de palácio da cena underground curitibana, nos dias 2, 3 e 4 de abril, às 21h.
O lugar funciona como um cabaret contemporâneo e o ingresso é baratinho: “É só R$ 10 a inteira e R$ 5 a meia-entrada”, diz Leonarda.
A grande atração que preparam é o show de Simone Magalhães, reconhecida artista da cena curitibana, chamado Por Que Não Tem Paquita Preta?.
“Depois do show, tem nossas presenças performáticas! Você vai desta vez? Porque no ano passado deixei seu nome na lista e você não apareceu”, alfineta Stéfano, sem papas na língua (leia o que o rapaz aprontou em 2013).
Folia no Matagal
Mas voltemos à vida atual dos artistas. No momento, ensaiam a peça Iracema 236 ml – O Retorno da Grande Nação Tabajara (a trupe adora títulos gigantes).
Stéfano diz que o grupo curte fazer peça que transforme em linguagem a falta de recursos, como aconteceu em Wunderbar, sensação no Fringe em 2013, do grupo paralelo deles O Estábulo de Luxo. “É que cada um tem sua linguagem própria, o Estábulo e a Selvática”, explica Nolasco.
Ele conta ainda que em 18 de abril farão, na mesma Casa Selvática, a festa Folia no Matagal. E que no segundo semestre, estreiam O Kebab da Anticrise.
Além de viajarem entre maio e julho por Rio, onde ficam no Galpão Gamboa, Porto Alegre, Fortaleza e São Paulo, com Iracema…, pelo Prêmio Myriam Muniz de circulação da Funarte.
Periferia de Lisboa
Agora, falemos de Europa. Leonarda revela que, ao lado de Cléber Braga e o Elenco de Ouro, participaram do Festival O Bairro i o Mundo, “o maior festival de teatro de inclusão na Europa”, na periferia de Lisboa. “Entramos na Europa pelo cu”, simplifica.
Conta que na plateia havia muitos africanos, latinos, ciganos e imigrantes do leste europeu. “Nosso público foi de quase 200 pessoas por apresentação, a gente era até reconhecida na rua”, lembra. Além dos três e Cléber, também viajaram Mari Paula, Gabriel Machado e Manolo Kattwitz.
Com Cabaret Glicose – Um Cabaret Decolonialista o grupo tentou fazer uma ponte da realidade brasileira com a dos pobres de Lisboa, nos bairros rivais Quinta da Fonte e Quinta do Mocho.
“Desconstruímos a ideia de Brasil como só samba e Carnaval que muitos têm, lá fora Curitiba nem sai no mapa”, afirma Leonarda. “Não mostramos o clichê do Brasil, mostramos as marcas de nossa colonização”, explica Stéfano. “A gente se aproveitou dos clichês pra jogar um vrá na cara do povo”, resume.
Leonarda lembra que até um grupo de freiras foi ver a peça, que inclusive tem cenas de nudez. Ela explica como isso se sucedeu.
“A gente ficou hospedado em um convento das Irmãs Franciscanas. Uma situação almodovariana, eu pensava o tempo todo. Aí, elas pediram para ir ver a peça. Imagine só a van chegando na porta do teatro com 20 freiras. Parecia o filme da Whoopi Goldberg, Mudança de Hábito, que lá em Portugal se chamou justamente Do Cabaret ao Convento. E o melhor: elas adoraram a peça e elogiaram muito. Falaram que éramos inteligentes e profissionais”, conta.
E Nolasco resume o aprendizado com aquele riso de menino peralta: “As freiras são mais revolucionárias que a gente”.
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Festival de Teatro de Curitiba.
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Sinceramente, underground de boutique. E a peça das chicotadas… Quero ser Marina Abramovic.
De boutique ou não (ainda se usa essa palavra?), quem não gostar sempre terá a BR para se deitar. Besos a todos! :*