Exclusivo – Ator Fagner Zadra fala sobre acidente no Festival de Curitiba que o deixou tetraplégico
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Enviado especial do R7 a Curitiba*
Fotos ANNELIZE TOZETTO/Clix
Na festa de abertura do Festival de Teatro de Curitiba do ano passado, uma peça de isopor da decoração se desprendeu do teto e caiu na cabeça do ator gaúcho Fagner Zadra.
Ele ficou consciente o tempo todo e revela que, naquele momento, percebeu que havia perdido os movimentos dos braços e pernas. Diante da constatação, seu objetivo era se manter vivo. “Na hora fiquei desesperado, mas depois pensei: eu tenho de continuar respirando para manter a oxigenação do meu cérebro”, revela em entrevista exclusiva ao Atores & Bastidores do R7.
Um ano depois do acidente, Zadra, de 31 anos, conta com a juda de enfermeiro e fisioterapeuta, além do apoio fundamental de sua família, de Leandro Knopfholz (diretor do Festival de Teatro de Curitiba) e do carinho do público.
Resolveu enfrentar a situação de estar em uma cadeira de rodas com humor: voltou a fazer seu espetáculo solo no último dia 8 de março, no Teatro Positivo, onde foi aplaudido de pé assim que entrou na plateia.
Nesta conversa, o artista, que estudou engenharia civil na UFPR (Universidade Federal do Paraná) e agora estuda cinema, fala sobre o acidente, como vem se recuperando e afirma que nunca pensou em processar o Festival. Prefere encarar o que aconteceu como uma fatalidade.
Leia com toda a calma do mundo.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Você conseguiu superar o acidente?
FAGNER ZADRA – Cara, você tem que ter uma meta na vida. A minha primeira meta era ficar vivo. Depois, voltar para meu trabalho, fazer o que gosto. Isso, mais a força, mais os cuidados, o Festival me cuidou muito, minha mãe, minha família, o público. Isso tudo e uma força de vontade imensa me fez voltar. Um ano depois, já estou aí trabalhando, com peças lotadas no Festival.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Seu acidente aconteceu na festa de abertura do Festival no ano passado. Você chegou a pensar em processar o Festival?
FAGNER ZADRA – Não, em nenhum momento. Ate porque o Leandro [Knopfholz, diretor do Festival de Curitiba] é meu amigo. Surgiram boatos, mas eram todos falsos. Isso de processar nunca existiu em nenhum momento.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Você buscou culpar alguém pelo que aconteceu ou acha que foi uma fatalidade?
FAGNER ZADRA – Não adianta culpar ninguém. O que aconteceu aconteceu. Culpar o quê? Eu acho que era para acontecer, não adianta ficar olhando para trás. É olhar o que vou fazer com isso agora. Ficar procurando culpado para quê? Já estou eu ferrado, para que vou ferrar mais alguém também?
MIGUEL ARCANJO PRADO – Qual foi seu diagnóstico?
FAGNER ZADRA – Teoricamente eu fiquei tetraplégico. Pelo meu nível de lesão eu não deveria estar aqui. Deveria estar só na cama, mexendo só a cabeça [o ator deu a entrevista em um café curitibano, e bebia sozinho seu café sem ajuda de terceiros]. Minha medula ainda está muito inchada. Minhas evoluções não deveriam ter acontecido tecnicamente. Mas a minha vida sempre foi excêntrica.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Você rompeu qual vértebra?
FAGNER ZADRA – A C5, C6, C7 e T1, foi bem extensa a lesão. Geralmente, quem tem uma lesão dessa só começa a mexer os braços após um ano. E eu já estou aí, na rua, independente.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Quem te deu mais apoio?
FAGNER ZADRA – A minha família, a minha mãe, meu pai, o Leandro, do Festival, que nunca me deixou. Meus amigos também, meu tio Geraldo, que mora aqui também. Minha mãe veio do Rio Grande do Sul no dia do acidente e nunca mais voltou. Fica grudada comigo como se fosse o primeiro dia do acidente.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Você está namorando?
FAGNER ZADRA – Não.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Você botou uma cadeira de rodas no símbolo do seu show; fazer piada com isso é uma forma de superar?
FAGNER ZADRA – A minha vida inteira, meus textos e shows foram baseados em mim, nas minhas desgraças e minhas vitórias. No humor, sempre tem que ter um alvo. Acho mais fácil atirar em mim mesmo. Lógico que faço piada do cotidiano, mas agora que estou nessa condição, faço piada disso. Por que não fazer? Não fazer seria uma forma de exclusão. Quando estreei meu show no Teatro Positivo, no dia 8 de março agora, havia muitos tetraplégicos. Eles adoraram. Porque ninguém brinca com eles. E não brincar com isso também é uma forma de discriminação.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Você tem uma empatia muito grande dos moradores de Curitiba pelo sucesso do Tesão Piá, que ironizava os curitibanos. Como foi a reação do público?
FAGNER ZADRA – É fantástico. As pessoas vêm na rua para me dar um abraço. Cheguei em Curitiba com uma mala e 20 reais no bolso sem saber o que iria fazer. Sou de Sarandir, no Rio Grande do Sul. E dez anos depois eu vejo a cidade me abraçar. Isso me emociona muito. Quando voltei com meu solo, eu fui aplaudido de pé. É um carinho que nem tenho como retribuir.
MIGUEL ARCANJO PRADO – Qual humorista é seu ídolo?
FAGNER ZADRA – O Chico Anysio, que trabalhou e criou personagens até o fim. Ele é o maior referencial.
MIGUEL ARCANJO PRADO – O que você espera para o futuro?
FAGNER ZADRA – Estou estudando cinema, penso em continuar fazendo humor, dirigir. Também estou cuindando do canal Foca no Circo, no YouTube, além do meu próprio canal. Quero fazer as pessoas rirem até onde der. Até porque não sei se no dia de amanhã vai cair alguma coisa na minha cabeça de novo. Vai saber, né [risos]. Quero levar felicidade e alegria para a galera. Agora, eu vejo a vida por outra forma. Não só pela altura, né. Tenho 1,80 metro, mas agora vejo todo mundo na altura do glúteo [risos].
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Festival de Teatro de Curitiba.
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