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“Ditadura da felicidade é nossa grande frustração”, diz cineasta Dellani Lima

O cineasta Dellani Lima apresenta seu filme, Trago Seu Amor, no Festlatino, no Memorial da América Latina, em São Paulo - Foto: Marcos Finotti/Divulgação

O cineasta Dellani Lima apresenta seu filme, Trago Seu Amor, no Festlatino, no Memorial da América Latina, em São Paulo – Foto: Marcos Finotti/Divulgação

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

O ano de 2015 está farto para o cineasta Dellani Lima.

Afinal, ele arrancou com prêmio na Mostra de Cinema de Tiradentes para o seu longa O Tempo Não Existe no Lugar em que Estamos. E, neste último domingo (2), o cineasta estreou sua mais nova produção no 10º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo: Trago Seu Amor, no qual assina produção ao lado de Ana Moravi.

O longa, sobre as dificuldades das relações amorosas, mostra três casais em conflito e traz uma visão plural para o amor, ao ter dois casais héteros e um casal homossexual em cena.

Leia a crítica de Trago Seu Amor

No elenco, estão os atores Léo Kildare Louback, Geraldo Júnior, Paloma Parentoni, Francis Vogner dos Reis, Marco Fugga e Marilyn Geraes.

Pouco antes de a sessão no Memorial da América Latina começar, Dellani, que nasceu em Campina Grande, na Paraíba, já morou em Fortaleza e em Belo Horizonte e hoje está radicado em São Paulo, conversou com o site com exclusividade. Falou sobre seu filme e o cinema que faz.

Leia com toda a calma do mundo.

MIGUEL ARCANJO PRADO — Qual é o sentido de Trago o Seu Amor: é um tragar de consumir ou é de trazer?
DELLANI LIMA — [risos] Comecei a pensar recentemente em ficções, mas que tivessem a ver com o que já fazia no cinema documental, experimental. Mas as ficções que eu queria eram sobre essas ideias das influências do capitalismo nas relações afetivas. Não é só fome de comida e dinheiro, mas a fome nas relações afetivas. Comecei a fazer uma série de filmes sobre essa ideia de viver junto e essa ideia do que é o amor.

MIGUEL ARCANJO PRADO — E o que é o amor para Dellani Lima?
DELLANI LIMA — Gosto dessa ideia do amor que frustra… Principalmente quando ele se rompe. A gente pensa que o amor é só essa coisa da paixão, do corpo e da carne, mas o amor está em muita coisa. Saber viver com essas pulsões de vida e de morte. A grande frustração é a ditadura da felicidade. Pois o amor tem de dar certo, como nas propagandas de margarina, todo mundo tem de estar feliz.

MIGUEL ARCANJO PRADO — Às vezes é só ser…
DELLANI LIMA — Exatamente. Deixar fluir. Saber entender as pulsões distintas. Daí a vontade de começar a fazer essa série de ficções, com pequenos dramas que eu chamo de dramaturgia mínima. A ideia é produzir filmes viáveis, mas que tenham essa coisa ligada ao neorrealismo italiano, à nouvelle vague e ao cinema novo. Gosto de considerar os atores em suas vidas privadas também, como a minha própria, em que meus dramas são retratados nos filmes.

MIGUEL ARCANJO PRADO — Como é estar entre os grandes nomes do cinema latino-americano?
DELLANI LIMA — Essa pré-estreia é muito importante para mim, porque está organizada por pessoas muito importante na minha trajetória: o Chiquinho, que é o Francisco César Filho, o Jurandir Müller e o João Batista de Andrade. É importante, porque uma parte do filme foi feita em São Paulo. É meu primeiro filme que finalizei aqui [o longa também foi gravado em Belo Horizonte, onde Dellani Lima morou]. É um festival de muito prestígio e que tem a presença da classe do cinema.

MIGUEL ARCANJO PRADO — 2015 é o ano de Dellani Lima no cinema brasileiro?
DELLANI LIMA — Coincidentemente, pode ser um ano de mudança no meu trabalho, na minha trajetória, por conta dessa investida nas ficções. Sempre fiz cinema experimental e documentários e agora é um momento diferente.

O ator Léo Kildare Louback e o diretor Dellani Lima na première mundial do filme Trago Seu Amor, no Festlatino, em SP – Foto: Marcos Finotti/Divulgação

MIGUEL ARCANJO PRADO — Como você lida em ser forasteiro em tantos lugares, já que nasceu na Paraíba, foi para o Ceará, depois para Belo Horizonte e agora em São Paulo?
DELLANI LIMA — Muito difícil. Bastante difícil… Porque eu nasci na Paraíba, estudei em cinema em Fortaleza, e praticamente desenvolvi minha trajetória no cinema em Belo Horizonte, onde fiquei até um ano atrás. Agora estou aqui em São Paulo. Mas, meu último filme eu rodei em Minas, em Conceição de Ipanema, em parceria com o Jonnata Doll. É um suspense no qual radicalizo ainda mais na questão da ficção, da narrativa. O Trago Seu Amor é um filme ainda mais experimental, como meu último filme, O Tempo Não Existe no Lugar em que Estamos [eleito melhor filme pelo júri jovem na última edição da Mostra de Cinema de Tiradentes].

MIGUEL ARCANJO PRADO — Aqui lhe acompanhando na estreia está o ator Léo Kildare Louback, do elenco do seu filme Trago Seu Amor. Como foi trabalhar com atores, você vindo do documentário?
DELLANI LIMA — Foi bem interessante, porque praticamente foi minha primeira ficção. O filme surgiu de forma bem cruel, cruel no sentido de cru. Comecei a conversar com algumas pessoas pelo Facebook pelas suas relações, sobre a dor do rompimento amoroso. O argumento foi inspirado em histórias tanto da minha vida como de amigos. Fui conhecendo o elenco aos poucos. É um filme bem honesto. Penso que porque metade do elenco é ator e metade não, é difícil ter essa mistura. Alguns foram misturados e outros não. Por exemplo, o núcleo no conto que o Léo Kildare Louback trabalha com o Geraldo Júnior, eles já tinham experiência com atuação e, por isso, teve mais unidade. Na verdade, procurei mais perfis, pessoas que tivessem uma relação de expressividade com a imagem.

MIGUEL ARCANJO PRADO — Você queria gente de verdade?
DELLANI LIMA — Queria uma mistura. Porque meus não atores são atores natos, no sentido da vida ser algo performático, de ter um corpo que vibra, que fala, é isso que me interessa.

Dellani Lima durante a Mostra de Cinema de Tiradentes 2015 – Foto: Nereu Jr./Universo Produção

 

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