Crítica: Godard exige entrega para sentir Adeus à Linguagem
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
O francês Jean-Luc Gordard é um dos cineastas mais cultuados pela intelectualidade mundial da segunda metade do século 20.
Grande representante do gênero nouvelle vague, ele nunca temeu a ousadia em seus filmes.
E volta a surpreender a todos pelo fôlego de abarcar uma nova tecnologia de sua arte, o cinema em 3D, e ressignificá-lo à sua maneira, em Adeus à Linguagem, que há pouco chegou ao Brasil (em São Paulo pode ser visto no cinema Reserva Cultural, na av. Paulista, 900).
É preciso ter paciência para entrar no jogo proposto por Godard. Ele não está em busca do espectador nervoso e histérico, produzido pela comunicação em redes sociais neste século 21.
Muito pelo contrário, exige um grau de entrega total e relaxamento para que o diálogo artístico que propõe possa se estabelecer.
Filme para sentir
Como grande artista, Godard cria seu próprio tempo e, com a ajuda do 3D, ressalta formas cotidianas e banais, enchendo-lhes de poesia.
Não procure achar um significado concreto a tudo que vê na tela. Nem se deter à questão de gostar ou não gostar da experiência estética proposta. Este não é o objetivo de Godard. Quem for com tal mentalidade só vai se frustrar e se afogar em seu próprio anseio. O novo filme de Godard é para se sentir.
É assombrosa a juventude ainda presente no cineasta de 84 anos, com aquele atrevimento de quebrar paradigmas e expor nossa mediocridade. Para isso, o cineasta dialoga com grandes pensadores da história humana, buscando referências que potencializem seu discurso artístico.
Para Godard, mais do que um exercício intelectual de entender tudo, o que importa é a experiência sensorial.
Uma das frases emblemáticas do filme e que esclarece o peso do cachorro vira-lata no longa é: “O homem, cegado pela consciência, é incapaz de ver o mundo. O mundo só pode ser conhecido pelo olhar do animal.”
Num cenário cinematográfico cada vez mais engolido pelas leis do mercado, Adeus à Linguagem é um bastião da resistência inteligente nas telonas. Não procure entender o filme. Dê-se o luxo de permitir-se vivê-lo.
Adeus à Linguagem * * * *
Avaliação: Muito bom