“Lugar de ditadura é no inferno”, diz Bete Dorgam
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Foto BOB SOUSA
Bete Dorgam, uma das artistas de teatro mais respeitadas do Brasil, escreveu texto em uma rede social no qual explicita o que pensa de gente que pede a volta da ditadura militar em um ambiente democrático duramente conquistado. O texto se espalhou na internet, onde teve quase 200 compartilhamentos até o fechamento desta matéria. Leia o que ela escreveu:
“Não costumo discutir política através do Facebook, mas gostaria de dizer que estou muito triste. Vivi os anos da ditadura, tive metralhadora nas costas, perdi amigos e me corta o coração ver faixas dizendo ‘Por que não mataram todos em 64?’.
Não mataram porque não deu tempo,senão teriam matado, torturado, estuprado, decepado mãos e pernas, esquartejado e jogado de aviões, em valas comuns ou em estradas,simulando acidentes.
Não mataram porque o povo se uniu e lutou pela democracia,que ainda é jovem e precisa ser tratada com carinho.
Não mataram porque os estudantes, artistas e pessoas de todas as classes, profissões e religiões acreditaram que o Brasil não merecia aquele estupro coletivo.
Não vou discutir sobre a qualidade do governo atual, apenas me dói ver que a voz do Brasil agora é a de Ronaldo Caiado (um dos grandes líderes dos latifúndios) e de políticos que não têm a menor respeitabilidade para exigir a deposição da Presidente.
Um futuro negro nos aguarda se permitirmos que esses “opositores” tomem o poder. Que eles vençam nas urnas, temos que aceitar democraticamente, mas deixem a ditadura no lugar de onde ela nunca deveria ter saído: no inferno.”
Bete Dorgam
doutora em Artes Cênicas pela USP (Universidade de São Paulo)