Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Roberta Martinelli está feliz da vida. Porque sabe que seu ganha pão também é um feito de resistência neste Brasil cada vez mais empobrecido culturalmente.
Nesta quarta (26), às 23h30, vai ao ar na TV Cultura a edição de número 200 do programa Cultura Livre, que celebra seis anos no ar.
Além de soprar as velas, a apresentadora conversou com o site com exclusividade sobre este momento de sua carreira e ainda falou sobre a importância de cuidar de um espaço para a música brasileira de qualidade na TV aberta. Coisa, infelizmente, cada vez mais rara e que deve ser aplaudida de pé já pelo simples fato de existir.
Leia com toda a calma do mundo.
MIGUEL ARCANJO PRADO — O que o Cultura Livre tem que os outros programas não têm?
ROBERTA MARTINELLI — O Cultura livre é um programa que começou na Rádio Cultura Brasil (AM) e foi ganhando espaço e aumentando a cada ano! Por isso, é um programa que começou em um estúdio de rádio bem pequeno, o que fez com que as entrevistas desde o início fossem próximas, é um bate papo, uma conversa sobre a música brasileira que é feita hoje. Cada vez que o estúdio aumentava minha maior preocupação era manter a intimidade. Programa de televisão não é fácil, tem muita gente, luz, câmeras, no Cultura Livre a maior preocupação é com a música e a pessoa, como deveria ser em tudo na vida né?
MIGUEL ARCANJO PRADO — Concordo plenamente. Vocês transmitem também pela internet?
ROBERTA MARTINELLI — É um programa cuja gravação é transmitida antes pela internet com todos os erros e loucuras de uma gravação. O pessoal que participa pelo chat fala que quem acompanha a gravação é quem gosta de vida real [risos] Então, a banda faz a música de novo, eu erro e a gente volta, fora os papos que não são gravados…Acho super importante essa transmissão antes, é muito louco em pleno 2015 você anunciar um horário para alguém assistir um programa que pouco tempo depois está disponível na internet! E acho que isso outros programas também tem mas eu tenho pelo meu, um amor enorme!
MIGUEL ARCANJO PRADO — Por que a TV aberta não dá mais espaço pra MPB de qualidade como já foi na época dos Festivais dos anos 60?
ROBERTA MARTINELLI — Olha, eu escuto muito que música não dá audiência! E a TV aberta hoje, talvez antes também, está preocupada com números, o que significa audiência e grana. Quando fazem um programa de música é reality com playback e cujo prêmio é um contrato com uma gravadora. Oi, gravadora em 2015? E ainda falam que estão mostrando a nova música brasileira. A verdade é que quase não tem espaço para este momento riquíssimo da música, os artistas estão inventando novas maneiras de produzir, cada um da sua maneira: editais, gravar em casa, abrir o próprio selo, e muitas maneiras e essa música que toma a cidade não é televisionada. Ainda bem que eu tenho o espaço na TV para fazer isso.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Por que o Cultura Livre tem seis anos? Qual o segredo para ele durar tanto tempo na grade da TV Cultura?
ROBERTA MARTINELLI — Hoje em dia as coisas acabam rápido, né? Eu acho que o segredo do Cultura Livre completar seis anos é uma luta e conquista diária. Eu comemoro cada dia. É o arquivo da música brasileira que está sendo feito! E foram seis anos discutindo e provando que esse programa tinha que estar na grade. Não foi fácil. E tem as pessoas que acompanham, que estão no chat, que lutam junto, que querem saber de música. Estou com fôlego para fazer mais 200, depois, mais 200, depois, mais 200…
MIGUEL ARCANJO PRADO — Por conta do programa, você fez muitos amigos músicos?
ROBERTA MARTINELLI — Sim! Fiz muitos amigos músicos! São pessoas que se unem por uma mesma paixão, uma luta! Arte é luta né? Viver dela, espalhar, acreditar…