Ramon Cotta: Desconfiado
Por RAMON COTTA*
Colaboração especial, em Itabirito (MG)
Sempre desconfiei de grandes declarações de amor.
Sempre desconfiei do que é muito dito, exposto e declarado.
Sempre desconfiei de promessas.
Sempre desconfiei daquele ”te amo” rápido.
Na verdade, sempre desconfiei de tudo que é muito rápido e aceito com muita facilidade sem ser questionado.
Sempre desconfiei que a oportunidade nova não desse certo, que a paquera não fosse pra frente, que a festa talvez bombasse e sempre desconfiei das suas boas intenções.
Desconfiar demais não significa que não me entrego, não me relaciono, e não me mostro.
Desconfiar demais significa ir com cautela, não se iludir e não criar expectativas demais.
É deixar que seus olhos e ouvidos não te enganem.
Desconfiar é seguindo até que seu coração e sexto sentido traduzam todo aquele desconfiômetro em certeza.
E assim vivo.
Desconfiando, mas indo em frente pra desvendar aquilo que quero descobrir. Aquilo que eu eu quero ser.
Ser desconfiado desperta a curiosidade e assim faz você querer cada vez mais descobrir o outro, desvendar os mistérios, sejam eles nas pessoas ou nas coisas da vida.
Vou com cautela, mas com todos sentidos abertos.
Deixo pra trás as modas, os medos, os preconceitos, o moralismo e não levo na mala tudo isso que nos impede de ser quem somos.
E, principalmente, não deixo a minha desconfiança me impedir de viver.
*RAMON COTTA é jornalista formado pela UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e cronista nas horas vagas. Ele colabora com o site todo primeiro sábado do mês.