“Quero penetrar na poesia doméstica e íntima”, diz diretor baiano Jorge Alencar, de Tombé
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Jorge Alencar não vê a hora de aportar mais uma vez em São Paulo.
O premiado diretor baiano faz uma espécie de breve residência artística no Sesc Belenzinho, onde apresenta seu espetáculo, Tombé, de 11 a 13 de setembro. Trata-se de um sitcom coreográfico, ou um stand up dance comedy, como também gosta de dizer. Tem de ver para entender.
Ele também dá a Oficina de Honestidade Artística, com inscrições gratuitas até o próximo dia 10 de setembro.
Em diálogo constante entre variadas formas de fazer arte, o diretor sacode a cena soteropolitana e promete fazer o mesmo na Pauliceia Desvairada.
Enquanto fazia as malas, Jorge Alencar conversou com o site com exclusividade. Falou de sua arte, da relação com São Paulo e ainda numerou quem faz sua cabeça.
Leia com toda a calma do mundo:
MIGUEL ARCANJO PRADO — Qual sua expectativa em relação a esta temporada em SP com oficina e espetáculo? Qual relação você tem com a cidade?
JORGE ALENCAR — São Paulo é uma cidade para onde sempre volto com meus trabalhos. Um lugar de muitas confluências, onde revejo amigos e outros criadores de diversas partes do Brasil, sendo um ambiente em que as trocas acontecem de forma intensa e dinâmica. Por isso, fico entusiasmado em apresentar o espetáculo Tombé e realizar a Oficina de Honestidade Artística, certo de que serão encontros inspiradores. As duas experiências – peça e oficina – estabelecem um contato muito direto, íntimo e bem humorado com as pessoas. Rir de si (e rir junto com outras pessoas) nos ajuda a lidar com nossas vulnerabilidades e potências!
MIGUEL ARCANJO PRADO — E quais são seus lugares preferidos em São Paulo?
JORGE ALENCAR — Adoro em São Paulo os lugares que favorecem o encontro e, principalmente, o espaço público: rua Augusta, praça Roosevelt, av. Paulista… Também tenho uma relação afetiva com alguns dos aparelhos de cultural por onde eu passo: Itaú Cultural, Sescs, CCSP, Sala Crisantempo, entre outros. E, claro: a casa dos amigos!
MIGUEL ARCANJO PRADO — O que é esta honestidade artística que você propõe em sua oficina?
JORGE ALENCAR — A honestidade que a oficina estimula tem menos a ver com nossos “projetos artísticos oficiais” e mais com um mergulho nas fantasias, pulsões e tesões artísticos de cada participante. Um desejo de penetrar, principalmente, em nossas poesias domésticas e íntimas. Para isso, partimos de algumas perguntas: o que mobiliza cada criador além das tendências e tabus estéticos? O que move o artista para além das demandas institucionalizantes das artes com seus atuais editais? O que produz atração e repulsa nas artes e como isso constitui cada pessoa em seu movimento criador? Onde estão os textos escritos, mas nunca publicados? Onde está a coreografia aprendida a portas fechadas? Onde está a música cantada no chuveiro diariamente?
MIGUEL ARCANJO PRADO — Quais artistas você tem como referências no desenvolvimento de sua trajetória profissional?
JORGE ALENCAR — Muitas pessoas dos diversos campos da criação são referências para mim. Poderia citar inclusive vários amigos artistas contemporâneos que estão do meu lado e muito me alimentam, mas para não cometer omissões imperdoáveis, vou citar alguns dos quais eu não tenho o número do zap zap haha: Chico Buarque, Harald Weiss, Pina Bausch, Dzi Croquettes, Tsai Ming-liang, John Waters, Stephen Sondheim, Almodóvar, Lucrécia Martel, Gabriel Mascaro, Karim Aïnouz, Cauby Peixoto, Selma Reis, Alcione, Caetano, Gil, Betânia, Beyoncé, Trey Parker e Matt Stone, Ney Matogrosso, Liza Minnelli, Ruthie Henshall, Judith Butler, Bob Fosse, Daniela Mercury, Massimo Canevacci – desse eu tenho o telefone [risos] – e uma série de livros, filmes e peças que vão de Flashdance às pornochanchadas, passando pelas animações da Disney e Pixar. Além de tudo, as artistas do Âncora do Marujo, bar de Salvador que realiza sessões diárias do melhor do transformismo!, e meu marido, o artista Neto Machado – uma das maiores referências de tudo que eu faço e vivo.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Qual é a maior dificuldade de se fazer arte fora do eixo Rio-SP, sobretudo, no seu caso, na Bahia?
JORGE ALENCAR — Apesar das dificuldades que enfrentamos no Brasil como um todo para fazer arte/cultura, a Bahia tem sido um contexto vigoroso nos últimos anos. Atualmente, temos uma série de festivais nacionais e internacionais acontecendo aqui, além de pessoas inteligentes pensando políticas públicas para as artes. Tenho tido uma atividade muito intensa como criador, curador e educador e tenho podido realizar com dignidade minhas obras e projetos de diversas naturezas como o IC – Encontro Internacional de Artesque produzo há nove anos com a Dimenti, produtora cultural e ambiente de criação que fundei com meus parceiros em 1998.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Seu espetáculo tem um gênero inovador, como o desenvolveu?
JORGE ALENCAR — Tombé foi desenvolvido na sala de ensaio e, principalmente, nos bares, quartos de hotel e aeroportos. É uma peça interessada em pensar como a gente cria discurso para dar sentido às coisas e, sobretudo, como a gente pode viver junto – agenciando embates de poder e nossas fragilidades. É o espetáculo que eu mais apresentei na vida. São mais de 12 anos em cena! E, a cada vez que ele é feito, demanda atualizações para que siga com vitalidade e em diálogo com o público.
Tombé
Data: Dias 11, 12 e 13 de setembro;
Horário: Sexta e sábado, às 20h30; domingo, às 17h30.
Local: SESC Belenzinho – Sala de Espetáculos I. (80 lugares)
Ingressos: R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (meia) e R$ 6,00 (comerciários)
Duração: 50 minutos
Indicação etária: Livre
Oficina de Honestidade Artística
Público-alvo: Estudantes e profissionais das diferentes linguagens artísticas – dança, teatro, artes visuais, cinema etc.
Dia/hora: 15 e 16 de setembro – 15h às 18h.
Local: SESC Belenzinho.
Vagas: 15.
Inscrições: Até 10/09, por meio do e-mail honestidadeartistica@
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