Entrevista de Quinta: “Os velhinhos estão todos no teatro”, diz Tarcísio Meira, 80 anos, no palco
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Fotos PADUARDO/Phábrica de Imagens
No próximo dia 5 de outubro, Tarcísio Meira completa 80 anos.
A comemoração já acontece no palco do Teatro Porto Seguro, em São Paulo, onde o ator paulistano é protagonista da peça O Camareiro, ao lado de Kiko Mascarenhas, sob direção de Ulysses Cruz [veja serviço ao fim].
Sua atuação é o grande chamariz da montagem, que marca sua volta ao teatro após 20 anos afastado do tablado.
Casado com a atriz Glória Menezes desde 1962, eles formam um dos mais importantes casais da história da televisão brasileira, afinal, protagonizaram a primeira novela, 2-5499 Ocupado, na extinta TV Excelsior. O resto dessa história todos nós acompanhamos desde sempre.
Foi nos bastidores do teatro que Tarcísio recebeu, de forma elegante, o Site do Miguel Arcanjo para esta Entrevista de Quinta. Falou sobre as oito décadas de vida, o casamento duradouro, o envelhecimento e a volta aos palcos. E ainda afirmou: “Vou morrer antes da Glória”.
Leia com toda a calma do mundo.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Por que você ficou 20 anos longe do teatro?
TARCÍSIO MEIRA — Eu não sei… Mas, posso te dizer que para voltar ao teatro aconteceram um monte de coisas boas: uma boa peça, um bom diretor, um bom produtor, bons colegas. Isso aconteceu agora. Então, não tinha como eu não voltar.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Você é o grande galã da história da TV. Como lida com isso?
TARCÍSIO MEIRA — Sabe, ao longo da minha vida inteira, eu colecionei muitos amigos e amigas. Porque fiz personagens que foram importante paras as pessoas, dos quais elas sentem saudade. Homens e mulheres têm saudade. Então, eu tenho muitos amigos. Eu me sinto muito feliz com isso. Muito agradecido.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Como lida com os fãs?
TARCÍSIO MEIRA — Procuro atendê-los na medida do possível. As fãs são carinhosas. Muitas me conhecem desde que nasceram [risos].
MIGUEL ARCANJO PRADO — Seu casamento com a Glória Menezes já tem mais de meio século. Como fizeram para esta relação durar tanto?
TARCÍSIO MEIRA — Essas coisas não acontecem de maneira indesejada. Todo mundo deseja ter um bom casamento, mas ele durar é um fato circunstancial. Tem muita força para fazer durar um casamento. Acredito que isso é fruto de sermos pessoas casadas, que se amam de verdade. E que não saibam viver um sem o outro. Eu não sei viver sem minha mulher. Nem imagino isso. Eu vou morrer antes da minha mulher. Então, eu não vou sofrer a ausência dela. Eu vou sofrer a minha ausência desde logo, desde hoje.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Por que você diz isso?
TARCÍSIO MEIRA — Porque quando você chega em uma idade, você fala, poxa vida, tantos amigos meus foram embora e eu tenho que ir. Está chegando a hora de eu ir. E eu tenho certeza que vou antes da minha mulher.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Mas, por quê?
TARCÍSIO MEIRA — Porque eu vi os exames médicos que fizemos. E o médico falou pra mim: sua mulher, só matando a tiros. Porque ela tem uma saúde de ferro. Então, ela vai longe.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Mas você está bem?
TARCÍSIO MEIRA — Eu estou bem, mas eu fumei, tenho heranças do cigarro. Isso é péssimo. Fumar foi o pior exemplo que dei na vida. Eu fumei muito. E sei que muita gente passou a fumar por conta do personagem que fazia e fumava. Eu também comecei a fumar por conta de maus exemplos, porque achava bonito fumar.
MIGUEL ARCANJO PRADO — A história de amor sua e da Glória daria um romance ou uma peça?
TARCÍSIO MEIRA — Acho que não. A minha história e da Glória é muito comum. Somos muito comuns e simples. Acho que nossa história é banal. Não sei porque acham tão interessante. Acho que os fatos de nossos trabalhos é que foram importantes, como termos feito a primeira novela. E também outras novelas que foram para lugares mais distantes e o Brasil inteiro via aquela história junto.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Vocês tiveram papel crucial no estabelecimento da TV no Brasil.
TARCÍSIO MEIRA — Acho que nosso trabalho foi um elemento agregador da nacionalidade brasileira. Fizemos grandes personagens que ajudaram a criar uma identidade nacional. As novelas trouxeram o Jornal Nacional para quem não tinha condição de ler jornal e o Teatro Popular para quem não tinha condição de ver teatro.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Seu personagem mais marcante foi o João Coragem, de Irmãos Coragem?
TARCÍSIO MEIRA — O João Coragem foi muito marcante. Irmãos Coragem não era só romance, tinha aventura também, e atraiu os homens. Os homens passaram a ver novela também. Ela ganhou uma dimensão gigante. Irmãos Coragem deu um ponto a mais de ibope do que o jogo entre Brasil e Itália na Copa do Mundo. Deu 93% do Ibope! Hoje, se uma novela dá 39 pontos você bate palma. O público mudou muito…
MIGUEL ARCANJO PRADO — Os atores da sua geração está todos no palco. A Beatriz Segall fez o musical Nine, a Fernanda Montenegro quer voltar com Viver sem Tempos Mortos, a Laura Cardoso, a Etty Fraser e a Miriam Mehler fizeram A Última Sessão este ano, além da Glória Menezes estar em Ensina-me a Viver. Por que acha que está acontecendo isso?
TARCÍSIO MEIRA — Os velhinhos estão todos no teatro! [risos] Realmente eu não sei por quê. Nem sabia que tinha esse tanto de gente fazendo teatro. Acho que não foi por nada não. Talvez eu fiquei afastado do teatro tanto tempo porque não tenha lido um texto interessante. Eu fiz muito mais cinema e televisão que a Gloria, que fez mais teatro do que eu. Fiz muitos seriados também…
MIGUEL ARCANJO PRADO — Acha que os atores mais velhos estarem no teatro é um reflexo de falta de bons papéis para eles na TV?
TARCÍSIO MEIRA — Talvez falte trabalho na televisão. Mas não acho que estejamos no teatro por isso. Porque a Laura é uma atriz de teatro. Minha mulher também sempre fez teatro. Nós estamos sempre à procura de bons personagens, de bom trabalho. E nem sempre isso aparece.
MIGUEL ARCANJO PRADO — A peça é um desafio para você?
TARCÍSIO MEIRA — Sim. Os meus personagens me exigem muito. Porque faço um ator que está em cena. Um exige do outro personagem. Eu tenho de acreditar para fazer. Eu simplesmente tenho de ver e acreditar. Se eu não acreditar não vai dar certo. Nunca deu. A maneira com que chego ao público é a sinceridade. Mostrar um personagem no qual eu acredito. Se eu não acreditar nele eu não posso mostrá-lo. Esse trabalho é cansativo e exige muito de mim. Assim como do Kiko Mascarenhas, que está em cena o tempo todo, como o camareiro. O nosso espetáculo tem a magia de mostrar a coxia do teatro. Existe um outro palco dentro do palco que não é o que o público está vendo, onde coisas acontecem o tempo todo. Este é o lado interessante desta peça.
O Camareiro * * * *
Avaliação: Muito bom
Quando: Sexta e sábado, 21h, domingo, 18h. 120 min. Até 13/12/2015
Onde: Teatro Porto Seguro (al. de Piracicaba, 740, Campos Elíseos, São Paulo, tel. 11 3226-7300)
Quanto: R$ 80 a R$ 100
Classificação etária: 12 anos
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