Por ROBERTO ALMEIDA*
Colaboração especial, de Belo Horizonte (MG)
O teatro está ligado à vida e reflete o que se passa na sociedade. Por isso, num país em que o racismo estrutura as relações, e o negro é releagado à condição de invisibilidade, os palcos não são um oásis de inclusão.
Assim como falta espaço para o negro na cena pública — ambiente de debate e tomada de decisão na vida democrática –, falta espaço para o negro na cena teatral.
Em Belo Horizonte, quem traz essa discussão para a rua e para os palcos da cidade é o ator e diretor Alexandre de Sena, que se apresenta, com artistas convidados, no Festival de Cenas Curtas Galpão Cine Horto, no domingo 27 de setembro.
Batizada de Rolezinho, a cena é fruto de construção coletiva inspirada em acontecimentos que deixaram a classe média de cabelo em pé em 2013 e 2014: jovens de periferia ocuparam às centenas shoppings centers de diferentes capitais, criando constrangimento entre frequentadores e lojistas, que chegaram a baixar as portas mais cedo, alegando temer tumultos e casos de violência.
Na época, os rolezinhos ficaram sob os holofotes da mídia e acabaram chamando atenção para a segregação racial e as tensões de classe em uma sociedade que há mais de 500 anos preserva muito nítidas as fronteiras que separam poucas Casas Grandes de muitíssimas Senzalas.
Embora reconheça que figuras importantes como Adyr Assumpção e Benjamin Abras contribuíram para construir um novo espaço de visibilidade para o negro no teatro, Alexandre acredita que a negritude ainda é subrepresentada em cena. “É comum que ocupemos cargos técnicos, mas ainda falta corpos negros nos palcos” , aponta o ator.
Assim como ocorreu no caso dos rolezinhos, ele espera que o trabalho do grupo estimule o debate sobre os lugares do negro Brasil de hoje.
Para preparar o espetáculo, o ator convidou outros artistas negros que realizaram dez intervenções coletivas em espaços público de BH, com a Praça da Estação, a Savassi e o Museu Abílio Barreto.
As intervenções funcionaram como ensaios e causaram estranhamento em quem passava na rua. Alexandre as descreve como dez pequenos “rolezinhos”, que prepararam os atores para a cena do domingo que vem, quando a trupe vai encerrar com um rolê performático o já tradicional Festival de Cenas Curtas Galpão Cine Horto.
*ROBERTO ALMEIDA é jornalista e mestre em Comunicação Social pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Ele escreve no site todo terceiro sábado do mês.
Serviço
16º Festival de Cenas Curtas Galpão Cine Horto
De 24 a 27 de setembro – Quinta a sábado, 21h | Domingo, 19h
ROLEZINHO – Nome Provisório está marcado para o domingo, dia 27.
Rua Pitangui, nº 3613, Horto. Belo Horizonte/MG.
Confira a programação completa do festival
Ficha técnica Rolezinho
Direção: Alexandre de Sena | Dramaturgia: Jé Oliveira | Atuação: Artistas convidados | Iluminação: Pedro Amparo