Casa de Clarice Lispector em Recife está abandonada
Por ALESSANDRO MOURA*
Colaboração especial, em Recife (PE)
O sobrado passa despercebido por quem circula pelas ruas do bairro do Boa Vista, no Centro do Recife. As janelas largas nem de longe remontam o período em que Clarice Lispector residiu ali. Apenas a placa em frente ao imóvel de número 387, nos faz essa referência. Na praça Maciel Pinheiro, a estátua de Clarice repousa em pleno abandono, rodeada de lixo e moradores de rua.
Mesmo tendo morado no Rio de Janeiro e no exterior, a infância da capital Pernambucana acompanhou Clarice até a morte. As lembranças que aparecem nos contos autobiográficos da autora estão sendo apagadas da história da cidade.
Aos poucos vão indo embora os quadros do passado. Sem manutenção, a Santa Casa de Misericórdia, atual proprietária do imóvel, fez a obstrução das portas, mas o sobrado segue em decadência a olhos vistos. As madeiras de sustentação do teto servem apenas como abrigo para pombos e as paredes ganham novas pichações a cada dia.
Resgate sem resultados
Para resgatar a história da família Lispector, um projeto para a restauração da casa até foi feito. A ideia era que o espaço fosse transformado em um memorial das irmãs Lispector. Espaço para exposições, café, instalações com recurso multimídia e uma biblioteca. A realização do centro cultural iria não apenas resguardar a memória da escritora, como valorizar a praça que também tem sido alvo de marginais.
Sobrinha neta de Clarice, a cineasta Nicole Algranti é quem propôs inicialmente a transformação da casa. O objetivo não foi alcançado por falta de financiadores e por isso Nicole acabou desistindo da ideia que tinha um orçamento de R$2 milhões.
A Santa Casa reconhece a importância do sobrado e já fez um projeto arquitetônico de restauro do imóvel. O que se espera é que a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco libere a verba para a restauração, mas até agora nada saiu do papel.
Memórias registradas nos livros de Clarice e que estão sendo apagadas com o passar dos dias. Assim como a placa que fica afixada ao sobrado “Tudo acaba, mas o que te escrevo continua. ”, trecho do último capítulo do livro Água Viva, de Clarice Lispector.
Passeio com Clarice
A escritora ucraniana de origem judia morou no Recife, dos 4 aos 15 anos, entre 1920 e 1930. Clarice frequentou a escola no Ginásio Pernambucano, a instituição que é pública até hoje também foi frequentada por nomes como Ariano Suassuna, José Lins do Rego e o historiador Mario Melo.
Clarice caminhava pela rua da Aurora com as amigas de colégio, ainda hoje o passeio pode ser feito aproveitando a beleza dos casarões antigos que se mantém de pé frente ao rio Capibaribe.
Na conhecida rua da Imperatriz, a escritora tinha uma amiga, filha do dono de uma livraria. Clarice também gostava de brincar nas escadarias da Faculdade de Direito do Recife.
*ALESSANDRO MOURA é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e repórter da TV Justiça em Recife. Ele também é ator, dramaturgo e diretor e colabora com o site cobrindo a cena cultural em Recife, Pernambuco.
eu gostaria de saber se a casa de Clarice Lispector está à venda, se está, quem está responsável pela venda?
Não me surpreende, embora cause tristeza. O descaso nacional com o patrimônio histórico e cultural já virou praga. São poucos os governantes e políticos que se empenham deveras pela preservação desses espaços, que poderiam acrescentar uma nota de destaque ao turismo local.