Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Os artistas e frequentadores da praça Roosevelt, em São Paulo, tomaram um susto na noite desta sexta (27). Uma megaoperação do PSIU (Programa de Silêncio Urbano) da Prefeitura de São Paulo lacrou o Espaço dos Parlapatões e multou os outros bares do centro nevrálgico do teatro alternativo paulistano.
Segundo os proprietários, o Espaço dos Parlapatões está com seu alvará em dia e mesmo assim foi fechado. Em protesto, o grupo Os Satyros, também com sede na praça, convocou artistas e público para fazerem uma vigília neste sábado (28), a partir das 21h, em frente ao Parlapatões.
O Satyros cancelou suas peças neste sábado em repúdio ao fechamento do vizinho Parlapatões. Artistas pedem que todos apareçam com uma flor branca nas mãos, pedindo paz.
Gustavo Ferreira, integrante do Satyros, disse ao site que foi “uma ação planejada”, lembrando que esta ocorreu numa sexta-feira, um dos dias mais importantes para os teatros, prejudicando o fim de semana do Parlapatões. “Nitidamente estão querendo nos calar. Isso é um absurdo”, afirma.
Ivam Cabral, fundador do Satyros e diretor da SP Escola de Teatro, que fica na praça, afirma que os outros bares da Roosevelt também foram multados na mesma noite em que lacraram o Paralapatões. “Os valores das multas chegam próximo a R$ 40 mil”, revela.
Segundo Cabral, “há meses, os bares e teatros da Roosevelt vêm sendo denunciados ao Ministério Público, de todas as formas possíveis. Nesta madrugada, em uma ação articulada, houve uma verdadeira invasão à liberdade na Praça”.
Cabral reitera que “o Espaço dos Parlapatões possui licença de funcionamento de 24 horas e, à uma da manhã, poderia, sim, estar em funcionamento”.
Imóveis valorizados pelo teatro
Muitos moradores da Roosevelt, apesar de terem seus imóveis valorizados nos últimos anos por conta da agitação cultural da praça, não suportam conviver com a classe artística, muito menos com o barulho dos bares. E denunciam os estabelecimentos aos órgãos públicos.
Cabral recorda que, antes dos teatros e seus bares, a região era degradada, “considerada uma das regiões mais perigosas da cidade, comparável à Cracolândia”. Ele lembra que “foram os teatros que renovaram a região”.
Por isso, enxerga a ação do PSIU como um ataque: “Agora são os teatros que vêm sendo atacados. Não podemos permanecer em silêncio”.
Para o cofundador do Satyoros, ao lado de Rodolfo García Vázquez, os moradores que reclamam são casos isolados.
“A grande maioria dos que vivem ali, no entanto, aliados a muitos paulistanos que frequentam o local, apoiam o movimento cultural da Roosevelt e têm orgulho do que ela representa para a cultura brasileira, palco de inúmeros espetáculos e manifestações artísticas”, diz Cabral.
No último fim de semana aconteceu a 16ª edição da Satyrianas, festival cultural promovido pelo Satyros com parceiros da classe artística e que encheu a praça de arte por 78 horas ininterruptas, registrando público de 60 mil pessoas.