Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Enviado especial a Tiradentes (MG)*
Quem disse que um festival de cinema só exibe filmes? Em tempos pós-modernos, exibe GIFs também, aquelas imagens em movimento que pululam toda hora na timeline de sua rede social.
Graduado em cinema de animação pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e mestre na mesma área pela UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), Henrique Kopke está na vanguarda na produção de GIFs para novas mídias, encarando a novidade como mais uma forma de imagem em movimento, ou seja, de cinema. É uma espécie de embaixador da nova arte.
A Universo Produção, responsável pela realização da 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes, reconhece o pioneirismo do rapaz e o legitima. Kopke ministra no evento a oficina Criação e Produção de Gifs Animados. Os encontros começaram nesta terça (26) e vão até sexta (29), com jovens interessados em utilizar o GIF como ferramenta artística. Nesta entrevista concedida logo após terminar a primeira aula, Kopke fala sobre sua presença em Tiradentes. E ele avisa: “Os GIFs não são uma moda passageira”. Leia com toda a calma do mundo.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Qual é o objetivo desta oficina de Criação e Produção de Gifs Animados?
HENRIQUE KOPKE — O objetivo da oficina é tornar o GIF uma porta de entrada para o “fazer cinema”, levando aos jovens de qualquer idade dicas sobre como pensar no uso da câmeras, edição de imagem e distribuição pelas redes sociais! O não uso do som e a baixa qualidade das imagens emula os anos que permearam o descobrimento do cinema até a instituição da linguagem cinematográfica, talvez sentindo-se em pé de igualdade com o primeiro cinema. Jovens e cinéfilos podem se permitir outros conteúdos audiovisuais.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Você acha que os GIFs vieram para ficar? Por quê?
HENRIQUE KOPKE — O GIF surge em 1987, como uma extensão de arquivos capaz de reproduzir imagens com cores, nos anos em que os computadores deixavam as telas monocromáticas dos textos de programação para a interface iconográfica e colorida (Mac e Windows). Depois, com o advento da internet, a extensão GIF foi amplamente utilizada para ilustrar sites e blogs, dessa vez já utilizando a capacidade de exibir pequenas animações em ciclo. Os anos de Orkut no Brasil popularizaram os GIF, mas eles ainda existiam apenas como efeitos animados, sem a linguagem. Somente depois que o meme instituiu uma linguagem de associar texto e imagem para gerar um conceito, uma moral, é que o GIF passou a ser usado para além de suas funções animadas e coloridas, para comunicar, transmitir mensagens, servir de ferramenta educacional e publicitária. Por isso é que acredito que o GIF não seja uma moda passageira, mas uma espécie de “nanofilme” ou, como eu sempre digo, um “kinemameme”!
MIGUEL ARCANJO PRADO — Como está sendo a experiência de ministrar esta oficina na Mostra de Cinema de Tiradentes?
HENRIQUE KOPKE — A Mostra de Tiradentes é pioneira no Brasil a incluir o GIF como uma vertente do cinema, com a oficina e a exibição de GIFs realizados por aqui na página do Facebook da Mostra. Em novembro de 2015, ocorreu a 1ª Mostra Nacional de GIF, mas esta mostra é especifica para o tipo de arquivo. A diferença para a Mostra de Tiradentes é colocar no mesmo balaio, cinema, vídeo, animação, experimental e GIF. Todos os realizadores de GIF podem ficar orgulhosos com a Universo Produção, que, através da Mostra de Cinema de Tiradentes, tem fornecido mais uma etapa de legitimação para este novo modelo de produção de imagens em movimento!
*O jornalista MIGUEL ARCANJO PRADO viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes.