Entrevista de Quinta: “Incompetentes não terão lugar no paraíso de Dionísio”, diz Emilio de Mello, que volta a SP com duas peças
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Emilio de Mello começou 2016 do jeito que gosta: no palco, ao lado de amigos. Ele está em cartaz no Rio, no Teatro Poeira, na peça Os Realistas, dirigida por Guilherme Weber e que chega a São Paulo em abril, no Teatro Porto Seguro. Também este ano volta à capital paulista com a peça In On It, também em abril, no Teatro Jaraguá.
Ator formado pela USP (Universidade de São Paulo), ele começou a carreira em 1987, na Cia. Teatral São Paulo-Brasil. Dois anos depois, mudou-se para o Rio, onde vive até hoje, para fazer a peça A Estrela do Larde, de Mauro Rasi, de quem fez ainda Viagem à Forli e Pérola.
Em 2000, fez intercâmbio para estudar o trabalho do ator em em Paris e Moscou. Na volta, fez peças marcantes como A Prova, dirigido por Aderbal Freire-Filho, Baque, dirigida por Monique Gardenberg e o sucesso In On It, dirigido por Enrique Diaz.
No cinema, entre muitos filmes, foi o produtor musical Ezequiel Neves no longa Cazuza – O Tempo Não Para, de Sandra Werneck e Walter Carvalho.
Recentemente, foi indicado ao Emmy Internacional de melhor ator, por seu trabalho na série Psi, que protagoniza na HBO, e dirigiu Balada de Um Palhaço, de Plínio Marcos, na celebração dos 80 anos do dramaturgo realizada no Sesi. Ainda encontrou tempo para filmar o longa Ao Lado, de Felipe Sholl, que estreia este ano.
Nesta Entrevista de Quinta, ele fala sobre momento importante de sua trajetória.
Leia com toda a calma do mundo.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Os Realistas é uma peça que fala da vida ordinária?
EMILIO DE MELLO — Uma vida é considerada ordinária de acordo com o ponto de vista. O texto de Will Eno deixa essa consideração a cargo do espectador, que poderá considerar aquela vida retratada com ordinária ou especial e surpreendente. Para mim, Os Realistas conta a história de pessoas comuns, tratando de assuntos comuns de maneira especial.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Qual é o seu personagem? Conte um pouco do enredo da peça.
EMILIO DE MELLO — Meu personagem se chama José e é casado com Poney. Esse casal acaba de se mudar para uma pequena cidade para iniciar uma nova etapa da vida e acaba conhecendo João e Júlia, um casal que mora na casa ao lado e que passa por um momento delicado, em decorrência do estado de saúde de João. O encontro desses casais, com suas semelhanças e peculiaridades, e os conflitos surgidos a partir daí, são a base do espetáculo.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Como está sendo este encontro com Debora Bloch, Fernando Eiras e Mariana Lima?
EMILIO DE MELLO — Um prazer raro! É uma mistura de amigos, família, grupo de estudos e operários trabalhando intensamente para contar uma mesma história. É um encontro que pretendo desfrutar durante um bom tempo.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Você trabalhou ao lado do Fernando Eiras no grande sucesso In On It. É verdade que o espetáculo vai voltar?EMILIO DE MELLO — Sim, estamos produzindo uma temporada paulistana para abril, junto com Os Realistas. Faremos In On It às quartas e quintas, no Teatro Jaraguá, e Os Realistas de sexta a domingo, no Teatro Porto Seguro.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Como recebeu a indicação ao Emmy Internacional no ano passado pela série Psi?
EMILIO DE MELLO — Como um grande reconhecimento internacional por um trabalho pelo qual me dediquei com muito prazer. Fiquei muito feliz.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Como foi o encontro com o texto de Plínio Marcos em “Balada de um Palhaço”, que dirigiu no ano passado? O que você gosta no Plínio?
EMILIO DE MELLO — Adoro Plínio, sempre adorei! Fiquei amigo dele no final dos anos 90, por um projeto que tínhamos juntos de montar Dois Perdidos Numa Noite Suja na França. Fizemos duas leituras públicas do texto, traduzido por Angela Leite Lopes, em Paris, depois lançamos uma edição em francês no Salão do Livro, também em Paris. Mas, infelizmente, não conseguimos dinheiro para produzir o espetáculo. Esse novo encontro com o Plínio se deu graças ao convite do meu querido Silvio Guindane, que produziu um projeto lindo para comemorar os 80 anos que Plínio faria esse ano. Me sinto muito honrado em poder encenar um texto deste grande autor brasileiro. Salve Plínio Marcos!
MIGUEL ARCANJO PRADO — Você é um ator formado em São Paulo que se radicou no Rio. Do que você sente falta de São Paulo?
EMILIO DE MELLO — Sinto falta dos meus amigos paulistas e da cidade. Estou no Rio há 26 anos, sou mais carioca que paulista em tempo de vida, mas São Paulo ainda continua sendo a minha cidade.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Você fez vários trabalhos no cinema, mas um que me marcou muito foi o Ezequiel Neves, do filme Cazuza, porque conhecia o Zeca e gostei muito de sua atuação. Vocês chegaram a ficar amigos na vida real? É um personagem marcante na sua carreira?
EMILIO DE MELLO — Sim para as duas perguntas! Tive a honra de conviver um pouco com Zeca, durante as filmagens e depois também. Marcávamos encontros no restaurante Fazendola, o reduto preferido dele, até um pouco antes dele morrer. Uma das pessoas mais alegres e divertidas que conheci. Nunca quis imitar o Zeca, porque ele é único, mas sua alegria foi uma enorme inspiração para o meu trabalho. Ganhei um precioso presente da Sandra Werneck e do Walter Carvalho, que me deram toda a liberdade de criar esse Zeca.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Além de Os Realistas, quais são seus projetos para este ano: cinema, teatro e TV?
EMILIO DE MELLO — Vou dirigir um texto de Laura Eason chamado Estranhos.com, com Deborah Evelyn e Felipe Abib, e produção de Monica Torres, no segundo semestre deste ano. A série Psi teve sua segunda temporada, e, acredito que deve entrar na terceira.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Qual tipo de teatro você mais gosta. E qual mais detesta?
EMILIO DE MELLO — Gosto do bom teatro, não me importa o gênero. Não detesto nenhum teatro, detesto incompetentes que se prestam a fazer teatro sem capacidade para isso, mas esses não terão nunca lugar no paraíso de Dionísios.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Por que você faz teatro?
EMILIO DE MELLO — Não poderia morrer sem conhecer esse prazer!