Entrevista de Quinta: “Festivais adoram filmes gays”, diz Lufe Steffen, que lança livro sobre cinema LGBT
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
O paulistano Lufe Steffen é tanta coisa que prefere dizer que é “uma espécie de agitador cultural”. Afinal, é ator, jornalista, apresentador e cineasta, não necessariamente nesta ordem, e ainda encontra fôlego para cantar e fazer performances. Ah, ele também escreve.
O moço, que celebra 20 anos de carreira no cinema e na imprensa, acaba de lançar o livro O Cinema Que Ousa Dizer Seu Nome, pela Editora Giostri, no qual faz um panorama sobre o cinema LGBT no Brasil nos últimos 20 anos. A próxima sessão de autógrafos acontece no Museu da Diversidade Sexual, dentro da estação República do metrô de São Paulo, em 13 de fevereiro, um sábado, entre 16h e 20h.
Também documentarista, Steffen é diretor de dois longas consagrados sobre a noite gay paulistana: A Volta da Pauliceia Desvairada (2012) e São Paulo em Hi-Fi (2013). Ele ainda é autor do livro Tragam os Cavalos Dançantes, sobre o lendário clube underground paulistano A Lôca, lançado em 2008. E dirigiu os curtas Os Clubber Também Comem (1999) e Rasgue Minha Roupa (2002).
No novo livro, junto o cineasta e o jornalista para entrevistar os realizadores dos principais filmes gays das últimas duas décadas. Nesta Entrevista de Quinta, Steffen fala sobre o livro, o cinema, o jornalismo… Enfim, sobre o que o move.
Leia com toda a calma do mundo.
MIGUEL ARCANJO PRADO — O cinema LGBT de hoje é melhor do que o de 20 anos atrás? Por quê?
LUFE STEFFEN — Depende. Não sei se é melhor, acho que é diferente. Acredito que existem filmes de temas LGBT bons e ruins em todas as épocas, não é uma exclusividade de algum período. Tudo depende da abordagem, da proposta, da ideia do realizador e de como ele conseguiu concretizar. Não tem uma regra.
MIGUEL ARCANJO PRADO — O cinema com temática gay sofre preconceito em festivais de cinema?
LUFE STEFFEN — Hoje em dia acho que não mais. Acredito que antigamente sim, podia ter uma atitude dos festivais evitarem, mas já há algum tempo acontece o contrário, creio que os festivais adoram filmes gays.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Quais são seus três filmes prediletos dentre os que abordou no filme?
LUFE STEFFEN — Dentre os que eu abordei no livro? Ah seria indelicado da minha parte dizer!
MIGUEL ARCANJO PRADO — O Festival Mix Brasil foi importante para o desenvolvimento de um cinema gay no Brasil? Por quê?
MIGUEL ARCANJO PRADO — Tem algum filme gay na América Latina que você goste? E na Europa? E na indústria norte-americana?
LUFE STEFFEN — Sim, gosto de muitos filmes gays de várias partes do mundo, os exemplos são inúmeros… Vou tentar escolher alguns que me lembro agora. Da América Latina, gosto muito de E Sua Mãe Também, do México. Europa tem zilhões, mas citaria You Are Not Alone, da Dinamarca. E dos EUA, Velvet Goldmine. Cada um tem seu estilo, explicar porque…, acho difícil! A gente gosta e pronto [risos]!
MIGUEL ARCANJO PRADO — Qual o filme mais difícil que você fez até hoje?
LUFE STEFFEN — Que eu fiz? Acho que foi A Volta da Pauliceia Desvairada, porque tínhamos de visitar cerca de 50 bares ou boates gays de SP em cerca de um mês de filmagens.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Como você consegue conciliar a carreira de jornalista com a de cineasta?
LUFE STEFFEN — Não consigo [risos]… Atualmente estou fazendo isso porque estou lançando o livro e meu filme São Paulo em Hi-Fi está sendo remontado para entrar em circuito, então é um trabalho menos pesado. Mas em geral eu dou uma revezada.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Além do livro você também está fazendo uma mostra de filmes?
LUFE STEFFEN — Sim, a mostra é um projeto paralelo ao livro. A ideia é exibir um curta de cada diretor presente no livro. São 24 diretores e 20 curtas na mostra – porque existe o coletivo Surto & Deslumbramento, que trabalha em grupo.
MIGUEL ARCANJO PRADO — Você tem projetos novos à vista? Quais dá para adiantar?
LUFE STEFFEN — Sim, sempre, mas ainda é cedo para falar! Cinema, teatro e TV estão na mira…
MIGUEL ARCANJO PRADO — Quem te conhece, como eu, sabe que você é um enciclopédia viva sobre TV e cinema. De onde vem tanto interesse?
LUFE STEFFEN — [risos] Vem da infância, eu cresci consumindo vorazmente TV e cinema, e continuo assim, aí é inevitável gravar essas informações.
MIGUEL ARCANJO PRADO — O que você costuma fazer nas horas vagas?
LUFE STEFFEN — Que horas vagas? Hahaha tô brincando… Gosto de ver filmes (principalmente no cinema, principalmente reprises e relançamentos), ler, e visitar locais de São Paulo (museus, parques, essas coisas ).
MIGUEL ARCANJO PRADO — Qual filme você ainda quer muito fazer?
LUFE STEFFEN — Quero fazer muitos, espero que haja tempo. Me deseje sorte [risos]!