Após Elis e Tim Maia, Clara Nunes também “ressuscita” no teatro
Por Miguel Arcanjo Prado
Depois que o público viu ídolos como Tim Maia, Elis Regina, Nara Leão e Mamonas Assassinas “ressuscitarem” nos palcos em musicais, chega a hora de mais um grande nome da música brasileira ganhar vida novamente no teatro.
Clara Nunes, famosa por cantar sambas e que morreu com apenas 40 anos em 1983, após complicações em uma cirurgia de varizes, é vivida por Clara Santhana no musical “Deixa Clarear”, em cartaz no Teatro J. Safra, em São Paulo, sob direção de Isaac Bernat para o texto de Marcia Zanelatto.
A idealização da peça é da própria protagonista. Clara Santhana carrega muitas afinidades com a cantora que vão muito além do mesmo nome. “Brinco que fui escolhida por algo muito especial e divino, fui escolhida pelo amor e pela grande admiração que tenho por Clara Nunes e tudo o que ela representa”, diz ao UOL.
Desde a adolescência, a atriz mergulhou na obra da cantora, “por afinidade cultural”. Logo, viu-se envolvida pela figura que lhe trazia uma espécie de “universo mágico”. “Sou cada vez mais fã. Cada vez que subo no palco o amor aumenta. A energia movimentada nessa peça é bastante intensa e me faz um bem danado”, confessa.
Questionada sobre o que Clara Nunes tinha de mais especial, não vacila: “O sorriso aberto, que revelava sua alma profundamente linda e guerreira, além da serenidade de alguém que cantava com amor e os pés no chão, totalmente conectada com suas raízes”, declara, lembrando que a cantora sempre valorizou nossas origens afro-brasileiras em seu trabalho.
A obra celebra 50 anos do lançamento do primeiro disco da vigorosa intérprete: “A Voz Adorável de Clara Nunes”, de 1966. O espetáculo aporta em São Paulo já visto por 70 mil pessoas. Só no Rio, teve 15 diferentes temporadas desde a estreia em 2013, e também foi apresentado em Caetanópolis, terra natal de Clara Nunes, em Minas Gerais, no festival que leva o nome da artista.
Para Clara Santhana, é importante que haja não só musicais vindos da Broadway, mas também os que tratam de temas brasileiros. “Temos no Brasil personalidades marcantes, que falam muito da gente e merecem ser valorizadas, estudadas, revisitadas e também admiradas. Tenho maior interesse pelo que é nosso”. Contudo, afirma que os diferentes estilos podem coexistir. “Gosto de ver tudo e acredito que há espaço para tudo. É necessário que existam diferentes tipos de espetáculos em cartaz e que o público tenha acesso à diversidade para criação de uma consciência e senso crítico”, fala.
E qual é a música de Clara Nunes preferida de Clara Santhana? Após pensar um pouco, a atriz responde: “Pergunta difícil… Amo várias. Mas me arrisco a dizer neste momento que é ‘Minha Missão’, de Paulo César Pinheiro e João Nogueira. Ela traduz muito como Clara Nunes encarava a carreira dela, como uma missão, e se afina com a devoção que tenho pelo meu trabalho”, conclui.
Este não será o único musical sobre Clara Nunes neste ano. No Rio, a Fazzarte Produções Artísticas monta o espetáculo “O Mar Serenou – Um Conto de Clara”, previsto para estrear em julho Sala Baden Powell, em Copacabana, com direção de Cazé Neto.
“Deixa Clarear”
Quando: Sexta e sábado, 21h30, domingo, 20h. Até 15/5/2016
Onde: Teatro J. Safra – Rua Josef Kryss, 318, Barra Funda, São Paulo, tel. 11 3611-3042
Quanto: R$ 30 a R$ 70
Classificação etária: livre