Por Miguel Arcanjo Prado
Enviado especial a Belo Horizonte (MG)*
Enquanto muitos usam o nome de Jesus para perseguir minorias, poucos realmente param para ler as palavras de Cristo deixadas nos evangelhos. Foi o que fez a dramaturga e atriz transexual escocesa Jo Clifford para criar a peça “The Gospel According to Jesus, Queen of Heaven” (O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu).
A peça, feita em parceria com o British Council, estreou neste sábado (21) no FIT-BH (Festival Internacional de Teatro, Palco & Rua de Belo Horizonte), com ingressos esgotados para as sessões no Museu Mineiro – uma sessão extra foi aberta para esta segunda.
Leia a crítica: Transexual escocesa clama por amor ao próximo
“As transexuais são assassinadas no Brasil”, fala Jo Clifford, em conversa com o UOL, enquanto prepara a massa do pão que distribui aos espectadores de sua montagem intimista com direção de Susan Worsfold.
“Direito à identidade é essencial”
Quando soube que no Brasil há um projeto de lei que pretende tirar da população transexual, travesti e trangênero o direito a utilizar o nome o nome social, Clifford disse que ficou “com bastante raiva”.
“Li sobre esses deputados que querem tirar direitos da população transgênero. O direito à identidade é essencial, é um direito fundamental. Sobretudo, porque esses políticos dizem fazer isso em nome de um cristianismo, mas estas ações não tem nada a ver com ser cristão e sim com o preconceito. É um sentimento de crueldade em relação a estas pessoas. Jesus jamais faria isso. E sobre isso que é a peça”, pondera.
Para a escocesa, “é fantástico” estar no Brasil com tal temática justamente neste momento de crise. Sobre o processo de construção da peça, diz: “O que fiz na verdade foi ler o evangelho, a Bíblia, meditar… E fiquei profundamente movida pela inteligência e compaixão que Jesus demonstrou em todas as suas palavras, na mensagem de amor que ele deixou, de amar ao próximo como a si mesmo, independentemente da cor, do gênero, do sexo”, declara.
Jesus trans
Sobre uma trans fazer Jesus, ela responde: “Quando era criança me disseram na Igreja que Jesus quando veio ao mundo experimentou todas as experiências humanas. Então, ele também soube o que é ser trans”.
E afirma acreditar sempre no teatro. “O teatro é muito poderoso. A primeira vez que fiz esta peça foram cinco sessões para 30 pessoas cada. Em uma semana havia mais de 400 mil citações no Google sobre o espetáculo. Vi várias mensagens de raiva, mas também muitas de amor. Então, vi que estou fazendo a coisa certa”.
Com 70 atrações, o FIT-BH vai até 29 de maio em mais de 20 espaços de Belo Horizonte. Conheça a programação.
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do FIT-BH.
Leia também:
Girafas vermelhas e gritos de “fora Temer” marcam abertura do FIT-BH