Crítica: Bárbara Paz seduz público em “Gata em Telhado de Zinco Quente”
Por Miguel Arcanjo Prado
Bárbara Paz aguardou pacientemente 16 anos para fazer o papel de Maggie em “Gata em Telhado de Zinco Quente”, premiada peça escrita em 1955 pelo norte-americano Tennessee Williams (1911-1983). Contudo, parece ter valido a pena tamanha espera, pois a obra chega à carreira da atriz no tempo certo.
Madura, Bárbara dá show de atuação na montagem dirigida por Eduardo Tolentino de Araújo com o Grupo Tapa, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo, com texto traduzido por Augusto César. Segura em cena, a atriz constrói sua atormentada personagem mesclando sedução e desespero, como pede o papel.
A obra foi adaptada ao cinema em 1958, tendo Elisabeth Taylor e Paul Newman com o protagonistas. No teatro brasileiro, já teve Vera Fischer e Floriano Peixoto nos mesmo papéis. Cacilda Becker e Tereza Rachel também deram vida à protagonista.
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Desta vez, Bárbara Paz é Maggie, mulher amargurada casada com o ex-jogador e alcoólatra Brick (Augusto Zacchi), que a rejeita na cama desde que um amigo muito próximo a ele decidiu morrer. Uma encoberta relação homoafetiva entre ambos paira toda a peça, que aborda a hipocrisia das relações familiares não só no plano dos afetos como também no financeiro.
O casal encontra-se na casa do velho pai de Brick, um homem rude do campo, em atuação forte e arrebatadora de Zécarlos Machado, que enfrenta um câncer. Sua doença gera especulações ambiciosas de seu outro filho, Gooper, papel de André Garolli, casado com a ardilosa nora interpretada por Fernanda Viacava.
Paizão, como é chamado o patriarca, é casado com Mãezona, interpretada por Noemi Marinho, outro destaque no elenco com uma atuação que traz um pouco de leveza ao ambiente tão denso da peça. Esta enfrenta o filho e a nora que já pensam na herança de seu marido.
Sem pressa, a peça apresenta aos poucos as personagens, dando tempo ao público para descobrir o que está por trás de cada um deles. O cenário de Ana Mara Abreu e Alexandre Toro joga com a iluminação de Nelson Ferreira, criando as transições necessárias. Outro destaque são os elegantes figurinos assinados por Gloria Kalil, importante especialista em moda, sobretudo os vestidos de Bárbara Paz.
“Gata em Telhado de Zinco Quente” desvenda uma hipocrisia social de meados do século 20 que, apesar de não fazer mais sentido nos dias atuais, persiste em muitas famílias, onde a verdade é encoberta e a ganância engole o afeto.
A montagem do Grupo Tapa deixa esta mensagem de difícil digestão na garganta do público, tendo à frente da história clássica do teatro moderno um elenco afinado, no qual Bárbara Paz e Zécarlos Machado dão verdadeiras aulas de atuação. Numa cena teatral paulistana na qual um drama convincente é coisa rara, assistir a este espetáculo é um deleite.
“Gata em Telhado de Zinco Quente” * * * *
Avaliação: Muito bom
Quando: Quarta a sábado, 20h, domingo, 19h. 120 min. De 5/5/2016 a 26/6/2016
Onde: CCBB-SP – Rua Álvares Penteado, 112, Sé, São Paulo, tel. 11 3113-3651
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)
Classificação etária: 14 anos
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