Entrevista de Quinta: Anna Zêpa e Rita Grillo, de Vermelho Labirinto, abrem o jogo em dose dupla
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
A peça Vermelho Labirinto, de Pedro Granato, acaba de virar livro pela Editora Giostri. E também é encenada em São Paulo no Inbox Cultural (r. Teodoro Sampaio, 2355, Pinheiros), com sessões sábado, 21h, e domingo, 19h30, até 17 de julho, com entrada a R$ 30 a inteira. Neste domingo (3), o livro é lançado no local com sessão de autógrafos do autor a partir das 16h.
Na obra, as atrizes Anna Zêpa e Rita Grillo vivem duas mulheres, uma performer e uma advogada. Atual, a peça ainda fala de quebra de sigilo e de ódio político, algo tão comum no Brasil atual. A convite do site, Ana e Rita perguntaram o que queriam uma para a outra nesta Entrevista de Quinta. Leia com toda a calma do mundo.
ANNA ZÊPA — O que você tem em comum com a Esther, sua personagem em Vermelho Labirinto?
RITA GRILLO — Eu acho que falo o que eu sinto, sem filtro, igual a ela. O que às vezes, inclusive, magoa as pessoas. Eu me arrependo, mas ai eu já falei. Sou muito estourada, ajo duas vezes antes de pensar. Sou capaz de tudo pra defender as pessoas que eu amo.
ANNA ZÊPA — Você abriria seu sigilo?
RITA GRILLO — Eu não conheço ninguém menos sigiloso do que eu. Eu passo do limite, divido detalhes da minha vida íntima com os outros. Todo mundo sabe tudo sobre os meus filhos. Até a moça da padaria sabe da minha vida… Outro dia ela me perguntou: “Quando volta seu marido?”, porque sabia que ele estava viajando.
ANNA ZÊPA — O que você acha de mulheres que preferem ter um filho homem?
RITA GRILLO — Eu compreendo. Meu primeiro filho é um menino. Quando eu fiquei grávida pela segunda vez fiquei preocupada ao saber que era menina. Tinha medo de que não tivesse a mesma relação afetiva que tenho com ele. Hoje eu percebo que é diferente, mas é tão lindo quanto e gosto muito da relação mãe e filha.
RITA GRILLO — O que você tem em comum com a Vermelha, sua personagem em Vermelho Labirinto?
ANNA ZÊPA — Eu sinto que sou independente, não vou manter relações amorosas pra cumprir tabela. Talvez eu seja solitária como ela e me apoio no trabalho. A arte pra mim também tem um papel muito importante, ela é política por essência. Às vezes ouço críticas sobre a minha poesia ou escolha, mas sigo em frente. Farei isso enquanto eu me sentir tocada pela vida.
RITA GRILLO — Em que momentos você mente?
ANNA ZÊPA — Eu odeio mentira, mas minto de vez em quando. Se tem uma coisa que me deixa doida é mentira. Quando era criança fui até pra igreja porque tinha mentido pra não fazer umas fotos. Mas hoje eu me pego mentindo quando quero ficar sozinha ou sair de determinada situação. No começo eu me angustiava, hoje posso até sentir um alívio, entendo.
RITA GRILLO — Você ficaria com um homem casado?
ANNA ZÊPA — Difícil falar sobre o futuro, posso dizer sobre o que já fiz. Até hoje eu não trai, mas uma vez, há muitos anos, fiquei com alguém que tinha namorada. Eu não conhecia ela e acho que isso interferiu pra que eu ficasse com ele. Mesmo me interessando por alguém, hoje eu evito dar abertura se eu sei que o homem está comprometido. Talvez pelo fato de já ter sido traída.