Caio Fernando Abreu ganha peça “A Dama da Noite” nos 20 anos de sua morte
Por Miguel Arcanjo Prado
Este 2016 marca os 20 anos da morte de Caio Fernando Abreu, vítima da Aids em 1996. O autor gaúcho que fez carreira em São Paulo como jornalista e escritor é cada vez mais celebrado por conta da sensibilidade que impunha em seus textos, repletos de reflexões sobre a solidão. Ele é homenageado em São Paulo com a peça “A Dama da Noite”, baseada no conto homônimo que escreveu.
A obra é dirigida por Kiko Rieser e traz o ator André Grecco para contar a história do encontro de uma senhora solitária com um jovem em um bar. Ambos estão satisfeitos de fazer a peça em um ambiente tão frequentado por Abreu.
Rieser lembra que o espaço onde acontece a encenação é semelhante ao descrito no conto. “Um estabelecimento indefinido entre bar e balada, mas também pela busca de uma experiência que extravase o edifício teatral, retomando algo próximo dos cabarés de outrora”.
Grecco lembra que a encenação traz outra proposta a um lugar atualmente associado ao stand-up. “Sempre tive vontade de dizer poesia”, diz. “Gosto do universos de artistas que trabalham na noite e acho que encontrei um jeito bonito de me aproximar”, completa.
Para Grecco, a obra de Abreu tem um lirismo intenso, com “belas imagens concretizadas nas palavras”, citando o autor: “Porque há sempre uma coisa invisível que nos atormenta”, dizendo que o mesmo o traduz.
Já Rieser afirma que a consistência do escrito de Abreu “foi posta à prova pelo tempo, que só fez aumentarem seus leitores”. Mas lembra também que muitas citações são feitas de forma “descontextualizadas e equivocadas em redes sociais”.
Diante disso, o diretor afirma que a peça que dirige traz à tona “o que parece ser seu lado mais genuíno, aquele que o levou a ser conhecido como ‘escritor maldito'”. E diz que a obra “é necessária em tempos de encaretamento geral”.
Em “A Dama da Noite”, Grecco enxerga aquela “sensação de não pertencimento, de solidão e da procura por algo que nem sabemos o que é”. “Isso traduz o homem de hoje, de ontem, de sempre”, afirma.
Ao que Rieser complementa: “Caio é atemporal, porque fala, com olhar poético, sobre sentimentos comuns a todos e, especialmente, sobre o momento em que eles eclodem, quando se busca firmar uma identidade. Por isso, ganha cada vez mais simpatia dos jovens”.
E foi na juventude que tiveram contato com a literatura de Abreu. Ainda na escola, uma colega de Grecco contou que lia “Pequenas Epifanias”. Encantado pelo título, quis ler também. “É um dos meus livros de cabeceira até hoje”. Rieser também foi pego cedo pelo escritor. “É uma leitura repleta de prazer e dor, como penso que deve ser qualquer grande obra de arte”.
“A Dama da Noite”
Quando: Quarta, 21h. 60 min. Até 31/8/2016
Onde: Caos – Rua Augusta, 584, São Paulo, tel. 11 2365-1260
Quanto: R$ 20 (preço único promocional para todos)
Classificação etária: 14 anos
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