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Crítica: Geração que ocupou escolas abre o coração em “Vida Bruta”

Cena do espetáculo "Vida Bruta" do grupo Satyros - Foto: Andre Stefano

Cena do espetáculo “Vida Bruta” do grupo Satyros: dança e confissões – Foto: Andre Stefano

Por Miguel Arcanjo Prado

Desde “Confissões de Adolescente”, peça de Maria Mariana que estreou em 1992 e é sucesso até os dias de hoje, os dilemas daqueles que chegam à vida adulta passaram a ser vistos com respeito e interesse pelo público do teatro.

Em tempos atuais, nos quais os jovens estão cada vez mais politizados, como demonstrou a recente onda de ocupação das escolas públicas paulistas, ver uma peça na qual esta geração se abre como em um confessionário ajuda a entendê-los.

Isto acontece em “Vida Bruta”, peça com o elenco adolescente do grupo paulistano Os Satyros, todos alunos de escolas públicas e que fazem o projeto Satyros Teen. Na obra, os dilemas adolescentes se manifestam no duro contexto da maior metrópole do Brasil.

Apesar de destinada ao público jovem, há muitos adultos na plateia que não deixam de olhar com certa ternura para os jovens artistas no palco, falando de agruras de quem busca encontrar-se. É impossível, aos mais velhos, não reconhecer, de alguma forma, naqueles garotos e garotas, o adolescente que foi um dia.

Dilemas adolescentes estão presentes em “Vida Bruta” – Foto: Andre Stefano

E também perceber que há novidade nesta geração. Questões da juventude atual, como o enfrentamento de padrões pré-estabelecidos por gerações passadas, como na questão de gênero, estão presentes na peça. Um dos personagens diz que é “heterossexual, homossexual, bissexual, transexual e travesti”, recusando qualquer rótulo.

É interessante notar como a arte reflete tal fenômeno social. No novo filme da cineasta Anna Muylaert, “Mãe Só Há Uma”, o protagonista também é um adolescente que enfrenta um padrão de gênero baseado no binarismo homem/mulher, mostrando com suas atitudes que as possibilidades, para sua geração, são mais amplas.

O diretor Rodolfo García Vázquez supervisiona a encenação, para a qual usou o método Stay or Get Away, que utiliza as próprias experiências e memórias dos jovens para construir a dramaturgia, em um teatro performativo, e conta com o auxílio dos diretores assistentes Luiza Gottschalk e Henrique Mello.

Os coloridos figurinos de Bia Pieratti e Carol Reissman ajudam a trazer um clima solar à obra (assim como as coreografias e a música), por mais que esta toque em temas espinhentos, mas necessários de se tocar, como abuso sexual, o racismo, o preconceito sexual e o envolvimento com o crime.

No elenco estão Alex de Jesus, Alexandre Matos, André Lu, Débora Rodrigues, Everson Anderson, Juliane Maioli, Maria Sol, Mariana Serrano, Maísa Helena e Ygor Martins. Juntos, formam um conjunto carismático, que se entrega ao público de forma segura e envolvente, revelando, de forma poética, as delícias e as agruras de ser adolescente. Sobretudo em uma cidade cruel chamada São Paulo.

“Vida Bruta” * * * *
Avaliação: Muito Bom
Quando: Sábado, 19h, domingo, 18h. 45 min. Até 18/12/2016
Onde: Satyros Um – Praça Franklin Roosevelt, 214, Consolação, metrô República, São Paulo, tel. 11 3258-6345)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada); moradores da praça Roosevelt pagam R$ 5
Classificação etária: Livre

“Vida Bruta” é baseada em memórias do próprio elenco – Foto: Andre Stefano

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