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Entrevista de Quinta: Dib Carneiro Neto lança site sobre teatro infantil e decreta: “Não é só rimar boneca com peteca”

O jornalista e crítico Dib Carneiro Neto - Foto: João Caldas

O jornalista e crítico Dib Carneiro Neto – Foto: João Caldas

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

Dib Carneiro Neto é um dos principais nomes do jornalismo cultural brasileiro contemporâneo. Profissional respeitado no mercado da imprensa, pela qual já passou por veículos como Veja São Paulo e O Estado de S. Paulo, ele, que também é dramaturgo premiado, agora se aventura no mundo digital.

Acaba de criar o site Pecinha É a Vovozinha, que entra no ar nesta sexta (29), com direito a depoimento de Chico Buarque sobre “Os Saltimbancos”. Tudo para jogar o holofote nas produções teatrais para os pequeninos, tema no qual é especialista e integra a comissão da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) que escolhe os melhores do teatro infantil na capital paulista.

Nesta Entrevista de Quinta, Dib fala sobre a carreira, o preconceito que o teatro infantil sofre e também o que o levou a criar o site.

Leia com toda a calma do mundo.

MIGUEL ARCANJO PRADO – Quando e por que você começou a se interessar a cobrir teatro infantil?
DIB CARNEIRO NETO – Era início de 1990. Eu trabalhava na seção Roteiro da Semana, da revista Veja São Paulo. A editora da revista era Júnia Nogueira de Sá. A editora do Roteiro era Marina Teixeira de Mello. A coluna chamada de Para as Crianças era, talvez, a que passava por um maior rodízio de jornalistas dentro da Redação da Vejinha. Os ‘coleguinhas’ começavam a fazê-la e logo pediam pra mudar para outra área. Até que as editoras me pediram para assumir a coluna e eu fui ficando, ficando, ficando, fascinado por aquele mundo todo a ser praticamente  descoberto, desafiado por um setor sempre vítima de preconceito, fisgado pela ‘carência’ dos profissionais e artistas envolvidos, que estavam se sentido meio abandonados pela imprensa, na medida em que os dois grandes nomes dessa área até então, Tatiana Belinky e Clóvis Garcia, estavam praticamente se retirando da cena. Minha primeira crítica, se é que posso chamar assim, pois era mais um ‘destaque’ ou um comentário dentro do Roteiro, abordou, em março de 1990, a peça “O Pequenino Grão de Areia”, do hoje muito famoso e premiado João Falcão.

MIGUEL ARCANJO PRADO – Você acha que o teatro infantil ainda sofre preconceito? Por quê?
DIB CARNEIRO NETO –
Uma bola vermelha na ponta do nariz, meia dúzia de cambalhotas, alguns pares de fantoches, uma canção rimando boneca com peteca. Pronto. Quantos e quantos anos os palcos de teatro infantil de São Paulo tiveram de atravessar até que ficasse definitivamente compreendido que fazer teatro para crianças e jovens é uma arte muito mais séria do que essa mera improvisação típica de festinha de aniversário.

MIGUEL ARCANJO PRADO – Como está este cenário hoje?
DIB CARNEIRO NETO – Hoje, depois de muito preconceito e de muitos equívocos, a maior parte do que se apresenta no circuito teatral vespertino de São Paulo é uma programação digna, criativa, que não subestima a inteligência da garotada.

MIGUEL ARCANJO PRADO – Qual foi o papel da imprensa especializada?
DIB CARNEIRO NETO – O papel da crítica foi fundamental nesse processo. Quanto mais a imprensa pôde cobrar qualidade das produções, maiores foram sendo os avanços observados.  Um excelente grupo que surgisse, apontado nos jornais como inventivo e ousado, servia imediatamente de exemplo às produções oportunistas, que passavam a entender de pronto: “Para ter espaço no jornal e ganhar o reconhecimento dos críticos, teremos de melhorar, de trabalhar com mais seriedade e talento”.

MIGUEL ARCANJO PRADO – Qual contribuição você quer dar com o site Pecinha É a Vovozinha?
DIB CARNEIRO NETO – Com a crise do papel e o advento da internet, das redes sociais, blogs e sites, o espaço para teatro infantil diminuiu nas publicações impressas. O site Pecinha é a Vovozinha! surge querendo contribuir para que não haja retrocesso nesse preconceito e nas conquistas que o teatro para crianças e jovens conseguiram nas últimas décadas.

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