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Opinião: Vander Lee provou que é espécie em extinção

Vander Lee (1966-2006): cantor e compositor mineiro morre aos 50 anos - Foto: Julia Lanari

Vander Lee (1966-2016): cantor e compositor mineiro morre aos 50 anos – Foto: Julia Lanari

Por Miguel Arcanjo Prado

A notícia da morte de Vander Lee, com apenas 50 anos, nesta sexta (5), em Belo Horizonte, é um baque, sobretudo aos mineiros, que viram a forma digna e dedicada com a qual batalhou sua carreira, que completaria 20 anos em 2017.

Foi com garra e persistência que ele conquistou posto entre os grandes compositores do Brasil de sua geração, sendo reconhecido e gravado por pérolas de nossa música, como Elza Soares, Gal Costa e Maria Bethânia.

Nesta triste sexta-feira, é impossível não me lembrar do primeiro show que vi de Vander Lee. Apenas voz e violão, no centro da Praça de Serviços do campus Pampulha, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), em um meio-dia ensolarado debaixo da lona de circo vermelha e branca.

Ele se apresentava pelo projeto Quarta Doze e Trinta, da Diretoria de Ação Cultural da universidade, que levava artistas para encontros inesquecíveis com os estudantes na hora do almoço. Poucos antes, havíamos tido um encontro com Fernando Brant, outro grande poeta mineiro da música com quem a obra de Vander Lee também dialogava de alguma forma, com sua boemia belo-horizontina tão presente.

Entre a ida ao bandejão e as aulas da tarde, ali estava Vander Lee com toda a sua poesia e a força de sua música. Ouvi-lo era tão prazeroso quanto beber cerveja com amigos na varanda do Edifício Maletta, tradicional ponto de encontro entre artistas e intelectuais da capital mineira. Vander Lee era coisa nossa e nos orgulhávamos dele, era o que, estudante, eu pensava naquele instante.

E tal qual as canções do Clube da Esquina, as músicas de Vander Lee também era mineiras por excelência. Até uma ode à rivalidade futebolística local ele compôs, “Galo e Cruzeiro”, canção na qual o amor tenta superar aos trancos e barrancos as diferenças em campo e há, no meio da peleja, como um brinde, versos exaltando gostosuras da culinária mineira, como a vaca atolada e o tropeiro.

Vander Lee era transformava o simples cotidiano em pura poesia musical, como em “Chazinho com Biscoito”, canção sobre a rotina em um típico edifício mineiro. Por isso, falava tão perto e tão fundo ao nosso coração.

E, sobretudo, Vander Lee era um romântico nato, como assumiu em seu hit “Românticos”, que definiu como aqueles seres que “conhecem o gosto raro de amar sem medo de outra desilusão”, antes de decretar para sempre em nossa MPB: “Romântico é uma espécie em extinção”. Por isso se foi tão cedo.

Ou como cantou outro grande que também foi embora muito rápido, Renato Russo: “É tão estranho, os bons morrem jovens…”.

Vai em paz, Vander Lee. Vai fazer uma baita falta. Aliás, já faz. Hoje, é “tempo de silêncio e solidão”.

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