Crítica: Eva e Nicette cativam público em O Que Terá Acontecido a Baby Jane
Por Miguel Arcanjo Prado
Com 82 e 83 anos, respectivamente, Eva Wilma e Nicette Bruno já têm currículos que as colocam no lugar de não precisar provar a ninguém que são atrizes consagradas. Mesmo assim, escolhem estar na labuta diária do palco, na profissão que tanto amam. É cativante vê-las juntas em sintonia fina na primeira montagem mundial para o teatro de “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”, em cartaz no Teatro Porto Seguro, em São Paulo, sob direção de Claudio Botelho e Charles Möeller, tarimbada dupla dos musicais que se aventura pela primeira vez no fértil terreno do drama.
O espetáculo conta a famosa história das duas irmãs atrizes, já velhas e sem fama, trancafiadas em um casarão de Hollywood, onde Baby Jane (Eva Wilma) passa seus dias torturando psicologicamente a irmã paralítica, Blanche Hudson (Nicette Bruno).
Baby Jane foi uma estrela na infância, enquanto a irmã ficava nos bastidores junto com o pai empresário (uma espécie de precursor do pai de Michael Jackson). Na juventude, a situação foi invertida, com Blanche transformando-se em uma diva do cinema, enquanto a Baby Jane só restavam pequenas pontas. Após o mal explicado acidente que deixou Blanche na cadeira de rodas no auge da carreira, só resta às duas o convívio mútuo.
O grande mérito desta montagem, assim como dar vida novamente ao texto que tornou-se um clássico no cinema em 1962 no filme homônimo estrelado pelas grandes divas rivais Bette Davis e Joan Crawford, é possibilitar que duas atrizes tão queridas e respeitadas pelo público, como Eva e Nicette, contracenem.
E elas demonstram vigor de duas garotas na encenação de ritmo ágil proposta pelos diretores. O espetáculo acerta ao colocar em cena, muitas vezes ao mesmo tempo, as três gerações de Baby Jane e Blanche, construindo uma requintada trama psicológica que vai se revelando aos poucos e dialoga no tempo.
Impressionantemente talentosa, a menina Sophia Valverde é a própria encarnação da Baby Jane criança, arrancando aplausos em cena aberta quando expõe o maquiavelismo da personagem no trato com a irmã Blanche, papel da doce Duda Matte.
Na juventude, os papéis passam a ser defendidos por Juliana Rolim e Rachel Rennhack, repetindo a construção já desenhada pelas crianças. O elenco ainda tem Licurgo Spinola, que demonstra versatilidade ao se dividir nos três papéis masculinos da vida das irmãs Hudson: o pai, o cineasta e o pianista com quem Baby Jane idosa pretende retomar sua carreira em Las Vegas. Ainda há Nedira Campos, no papel da vizinha enxerida, e a sempre carismática e segura Teca Pereira, como a criada que ousa enfrentar a loucura de Baby Jane.
A equipe técnica também merece ser citada por, junta, criar o clima que a obra pede. E isso acontece no soturno cenário criado por Rogério Falcão, nos figurinos de época assinados por Carol Lobato, na iluminação de Paulo César Medeiros, que dialoga o tempo todo com os sentimentos em cena, no visagismo de Beto Carramanhos e no design de som de Ademir Moras Jr.
“O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” é um espetáculo imperdível, afinado e cativante da primeira à última (e impactante) cena. Com Eva e Nicette à frente de um aguerrido elenco, a peça é a prova de que o talento só melhora com o tempo.
“O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” * * * * *
Avaliação: Ótimo
Quando: Sexta e sábado, 21h, domingo, 19h. 90 min. Até 30/10/2016
Onde: Teatro Porto Seguro – Al. Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos, metrô Santa Cecília, São Paulo, tel. 11 3226-7300
Quanto: R$ 25 (meia-entrada, balcão) a R$ 120
Classificação etária: 14 anos
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