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Com mulher forte, musical de Chico Buarque quer falar com Brasil dividido

Alejandro Claveaux e Laila Garin estão em “Gota D’Água [a seco]” – Foto: Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

Escrito em um contexto de forte repressão da ditadura civil-militar no Brasil por Chico Buarque e Paulo Pontes, o musical “Gota D’Água” estreou em dezembro de 1975, protagonizado por Bibi Ferreira.

Quatro décadas depois, em tempos nos quais o Brasil vive novamente forte turbulência política, o musical ganha versão pocket no Teatro Faap, em São Paulo. E tenta seguir dialogando com a sociedade, protagonizado por Laila Garin, estrela de musicais como “Elis, a Musical” e “Gonzagão, a Lenda”.

A peça é uma transposição de “Medeia”, tragédia grega de Eurípedes, para um conjunto habitacional carioca. Nesta nova versão, os outros personagens foram suprimidos, focando apenas em Joana e Jazão e a forte relação que o casal mantêm.

Mulher defenestrada

Rafael Gomes, que se desponta como um nos novos talentos em direção na cena paulistana, assume o comando da montagem, que retrata as relações entre “opressor e oprimido”.

Questionado pelo Blog do Arcanjo do UOL sobre como a obra dialoga com o Brasil de hoje, ele responde.

“Na peça, estamos falando de uma mulher defenestrada de onde ela está. Gostaria que as pessoas vissem o espetáculo, independentemente de que ‘lado’ está na política brasileira atual, e percebessem o quanto o antagonismo é destrutível”, afirma.

“O embate pela força do ódio tende a aniquilar o outro. Já não basta só a vitória, é preciso a aniquilação total do outro”, complementa o diretor.

Peça ganha novos significados diante do Brasil atual – Foto: Divulgação

Chamada à conversa, Laila, que vem de uma temporada de sucesso no Rio, revela que a peça vem sendo gestada há quatro anos.

“Acabou acontecendo tudo isso no país e estamos aqui, falando disso. A peça abre questões humanas de qualquer tempo: poder, ambição, abandono, ser preterido”, afirma.

Ela lembra que à medida que o projeto ganhava corpo, “as coisas foram acontecendo” na vida real, fazendo com que a peça, a cada dia, ganhasse novas possibilidades de leitura. O que não parou até o momento. “A peça se ressignifica a cada dia”, fala a atriz.

Cueca do marido

Laila lembra que sua personagem representa, de certa forma, o “empoderamento feminino”, lembrando que vem de interpretar duas mulheres fortes no palco: “Elis Regina e Selminha, de ‘O Beijo no Asfalto’, de Nelson Rodrigues, que vê a vida de seu marido ser destruída pela imprensa. Mas eu gosto disso, de mulheres fortes. Minha mãe [a professora universitária Nadja Miranda] é assim. E minha mãe não me criou para lavar cueca do marido”.

“No meio desse negócio de ‘lados’, se esquece o povo”, pontua a atriz, lembrando que sua personagem, Joana “não faz concessões, mas sofre por isso também”, enquanto que Jazão, interpretado por Alejandro Claveaux, é mais dado aos conchavos.

Pedro Luís, que viu a versão com Bibi Ferreira ainda adolescente, assina a direção musical. Ele aproveita a deixa para conclamar: “Respeitar as diferenças é fundamental”.

A obra tem cinco músicos tocando ao vivo: Antônia Adnet, Dudu Oliveira, Elcio Cáfaro, Marcelo Muller e Pedro Silveira.

Gomes e Luís também colocaram novas canções de Chico Buarque que não estavam na montagem original, como a emblemática “Cálice”.

“Gota D’Água [a seco]”
Quando: Sexta e sábado, 21h, domingo, 18h. 90 min. Até 30/10/2016
Onde: Teatro Faap – Rua Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo, tel. 11 3662-7233
Quanto: R$ 80 a R$ 100
Classificação etária: 14 anos

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