“Ó é um gozo”, diz cantora Juliana Perdigão, que lança disco em SP
Por Miguel Arcanjo Prado
Foi lendo o poema “Galáxias”, do paulista Haroldo de Campos, que falava da barroca Igreja Nossa Senhora do Ó, em Sabará, Minas Gerais, que a cantora e compositora Juliana Perdigão se inspirou para compor a canção que dá título a seu segundo álbum, “Ó” (YBMusic/Natura Musical), com produção de Romulo Fróes.
“O ‘Ó’ é uma espécie de explosão, um gozo, uma ode à admiração”, diz ela ao Blog do Arcanjo do UOL, após uma maratona de divulgação do show de lançamento pelas ruas do centro da metrópole.
Acompanhada da banda Os Kurva, o trabalho será apresentado nesta quinta (15), às 21h30, em show no Teatro Itália, em São Paulo, cidade onde a mineira se radicou. A banda é formada por Chicão (piano e teclados), Moita (guitarra e baixo) João Antunes (baixo, guitarra e violão) e Pedro Gongom (bateria e percussão).
A vogal que dá título ao disco também é parte fundamental de outra música, que abre e fecha o disco: “Aeiuo”, composta por José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, durante o exílio por conta da ditadura civil-militar que vigorou no Brasil.
“É uma música do repertório do [espetáculo] ‘Banquetes’ e já esteve na [peça] ‘Bacantes’ também. Percebi que o Zé parecia nunca estava satisfeito com ela. Fui perguntar como surgiu. Aí ele me disse que quem havia composto foi o Rimbaud. Depois, falou que tinha sido o Fela Kuti. Descobri, então, que ele compôs essa música quando estava em Moçambique, lendo Rimbaud e ouvindo Fela Kuti”, revela. O nome do trio inusitado de compositores assina a autoria no álbum.
“Fiz minha versão, mas está dentro dessa inquietude do Zé. Fui na casa dele e gravei no celular ele cantando. E é a música que abre e fecha o disco. Versões diferentes, a minha, no começo, e a dele no final. Não deixa de formar um ó”, define a musicista, que ainda toca flauta, clarinete e clarone.
Juliana prefere não escolher uma música preferida no álbum, mas fala da importância neste momento histórico que o Brasil vive da faixa “Hino da Alcova Libertina”, que é um dos blocos que reavivou o Carnaval de sua Belo Horizonte natal. Começa com os aguerridos versos: “Chuta, chuta, chuta. Chuta a família mineira. Os moralistas estão chegando, mas os libertinos não os deixarão passar. Estão formadas as nossas barricadas”.
“É uma música bem emblemática. Sinto que deva ser cantada cada vez mais por mais pessoas”, diz.
Para Juliana, “cada canção traz uma cara para o intérprete, cada palavra é uma incorporação”, por isso, não gosta de encaixar sua música em prateleiras. “Não tem uma cara só não”, avisa.
Sobre viver em São Paulo, conta que a cidade lhe acolheu de braços abertos: “Não sinto nenhuma dificuldade de morar em São Paulo, só acho ótimo. Me sinto muito em casa, aqui é uma cidade cosmopolita, tem gente do mundo inteiro”.
Ultimamente, anda ouvindo Nick Drake e The Fall, e diz ter várias turmas na música, como os antigos parceiros de BH, como Luiz Gabriel Lopes, Rafael Macedo, Makely Ka e a banda Graveola, entre outros. Em São Paulo, já está enturmadíssima, citando Clube da Encruza, Juçara Marçal, Trupe Chá de Boldo, Ná Ozetti (que participa do disco na faixa “Mãe da Lua”), Anelis Assumpção e Tulipa Ruiz (que também participa do álbum em “Vestido com Vista pro Mar”), entre outros nomes.
Presente na banda do Teat(r)o Oficina em diversos espetáculos, ela diz que o lugar sob batuta de Zé Celso mudou sua vida. “É um espaço de transformação mesmo. Muita gente já passou por lá. É um lugar de revirar e quebrar certos conceitos que você tem sobre si, sobre a vida, sobre o outro. Me trouxe mais consciência de presença. Não estou lá agora, mas aquele universo está em mim sempre. Quero estar sempre lá de alguma maneira. O Oficina é uma vida muito bonita no teatro”.
Ouça e baixe o disco “Ó”, de Juliana Perdigão e os Kurva
“Juliana Perdigão e Os Kurva – Ó”
Quando: Quinta (15), 21h30
Onde: Teatro Itália – Av. Ipiranga, 344, metrô República, São Paulo
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
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