Crítica: “Cachorro Enterrado Vivo” expõe humanidade perdida
Por Miguel Arcanjo Prado
Uma notícia de 2014 sobre um vigia contratado para enterrar vivo um cão e que resolveu salvar o animal inspirou a autora carioca Daniela Pereira de Carvalho a escrever a peça “Cachorro Enterrado Vivo”, dirigida por Marcelo do Vale e na qual o grande destaque é a atuação do mineiro Leonardo Fernandes.
Ator potente, ele dá vida a três personagens distintos: ao próprio cão, ao homem contratado para enterrá-lo vivo e ao dono do animal, que vive com este uma relação de ódio mútuo desde que ambos foram abandonados sem explicação por sua mulher, deixando ambos em um lugar de vazio solitário e ódio mútuo.
Com eficiente preparação corporal de Eliatrice Gischewski aliada a uma sensível direção de Vale, Fernandes dá veracidade aos três personagens interpretados, com corpo presente e vozes que ecoam distintas o texto inteligente e poético de Carvalho. Ele comove o público, sobretudo, quando interpreta o cachorro, com seu olhar que pede socorro de uma forma assustadoramente humana.
A luz de Wladimir Medeiros, com a ajuda da trilha sonora de Márcio Monteiro, ajuda a criar os climas que o texto pede, enquanto que Cícero Miranda faz um cenário simples e potente — um lugar revirado pela ausência e pela violência iminente — para que aquela história seja contada, em primeira pessoa, pelos três personagens, sob a ótica de três distintos pontos de vista.
Um dos melhores monólogos do ano, “Cachorro Enterrado Vivo” acaba sendo um tratado sobre a solidão e de como esta é capaz de despertar a crueldade bestial no homem. E, infelizmente, notícias sobre cães enterrados vivos não são exclusividade do teatro. Uma rápida busca sobre o tema nos dá a dimensão de como o bicho homem ainda precisa reencontrar sua humanidade perdida.
“Cachorro Enterrado Vivo” * * * *
Avaliação: Muito Bom
Quando: Sábado, domingo e segunda, 21h. 50 min. Até 26/9/2016
Onde: SP Escola de Teatro – Praça Rooseelt, 210, metrô República, São Paulo, tel. 11 3775-8600
Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada)
Classificação etária: 12 anos
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