Satyros clama Foucault para entender “descaminhos do Brasil”
Por Miguel Arcanjo Prado
O pensamento do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) sempre rondou o grupo teatral Os Satyros, com sede na praça Roosevelt, em São Paulo. A partir deste sábado (5), estará no palco definitivamente, na peça “Cabaret Fucô”, com texto de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, e direção deste último.
“O que é a norma? O que é a exceção? Como são construídos os controles da vida social e como eles afetam nosso cotidiano? Quais as formas de tratamento utilizadas para regular os ‘anormais’?”, são típicas perguntas foucaultianas assumidas pelos artistas, que tentam encontrar as respostas no palco.
Para o diretor Rodolfo García Vázquez, o conceito da “biopolítica”, desenvolvido por Foucault, sempre esteve presente nas produções da trupe, como na famosa saga libertina baseada em Marquês de Sade ou nas peças mais contemporâneas e tecnológicas. “A microfísica do poder é o que nos move no teatro documental, ao discutir questões do nosso entorno”, fala ao Blog do Arcanjo do UOL.
E “Cabaret Fucô” não foge do discurso. Temas como bullying, machismo, opressão das mulheres, consumismo, catalogação da homossexualidade e sua normalização e a transformação do homem em máquina estão em cena. “Foucault nos ajudou muito a entender os descaminhos do Brasil hoje, ao lançar luz sobre a forma como as estruturas de poder se criam e estabelecem”, afirma Vázquez.
Para o ator Ivam Cabral, que ao lado de Vázquez fundou o Satyros em 1989, “o processo de trabalho foi prazeroso, apesar dos temas espinhosos”. Ele lembra que “fazer um quase musical” foi um desafio, já que o elenco canta e dança ao som da trilha sonora de Felipe Soares e rodeado pela cenografia de Marcelo Maffei. “Cabaret Fucô” é a segunda peça da “Trilogia Cabaret” do Satyros, que começou em 2011 com “Cabaret Stravaganza”.
Além de Ivam Cabral, estão em cena Bel Friósi, Breno da Mata, Daiane Brito, Eduardo Chagas, Fabio Penna, Gustavo Ferreira, Henrique Mello, Julia Bobrow, Robson Catalunha (de volta à trupe após fazer peça com Bob Wilson e Maria Alice Vergueiro), Sabrina Denobile e Silvio Eduardo.
O ator revela carinho especial pelos figurinos da peça, criados por Bia Pieratti e Carol Reissman, “cheios de brilhos e paetês” e “maquiagem exuberante”: “Nos fazem lembrar da Phedra [D. Córdoba, diva cubana do grupo que morreu em abril aos 77 anos]. ‘Cabaret Fucô’ é, nesse sentido, uma grande homenagem à Phedra”, conclui Cabral.
“Cabaret Fucô”
Quando: Quarta a sábado, 21h. Até 17/12/2016
Onde: Estação Satyros – Praça Franklin Roosevelt, 134, Consolação, metrô República, São Paulo, tel. 11 3258-6345
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)
Classificação etária: 12 anos
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