Crônica do Arcanjo: Helena, Leandra, Julia e Tiradentes
Por Miguel Arcanjo Prado
No Largo das Forras, charretes e seus cavalos aguardam pacientemente aqueles que desejam passear trotando pelas ruas de pedras centenárias. No centro da praça, técnicos ajustam os últimos detalhes do som e, claro, do telão. Afinal, quando a noite cai o cinema ao ar livre se impõe, embalando os sonhos dos moradores da cidadezinha de pouco mais de 6.000 habitantes.
É fato. Não há festival no Brasil mais charmoso do que a Mostra de Cinema de Tiradentes, que completa neste ano 20 edições. A festa na bela cidade histórica mineira dura nove dias. Começou na última sexta (20) e vai até o próximo sábado (28) com 109 filmes da nova safra do cinema nacional independente exibidos de graça. Tudo sob comando de Raquel Hallak e seus pupilos da Universo Produção.
Com uma mulher à sua frente, nada mais justo do que o poder feminino na sétima arte esteja presente também nas duas homenageadas do festival em um verdadeiro encontro de gerações: Helena Ignez e Leandra Leal. Ambas receberam, ao lado das filhas, no caso de Leandra da pequenina Julia, que roubou a cena, o cobiçado Troféu Barroco.
Helena Ignez é marco da mulher no nosso cinema desde que protagonizou “A Mulher de Todos”, de Rogério Sganzerla, em 1969, seguindo ao furacão “Copacabana, Mon Amour”, do mesmo diretor e grande amor de sua vida, no ano seguinte. Desde então, é nome forte de nossa sétima arte, incansável em produzir filmes, mesmo diante de todas as dificuldades do mundo. Como é o caso de seu libertário “Ralé”, exibido no festival com direito ao encontro xamânico de Zé Celso e Ney Matogrosso na telona.
Já a jovem Leandra Leal, presente desde menina na retomada de nosso cinema mais recentemente, começa a vivenciar a maturidade assumindo o papel de diretora do documentário “Divinas Divas”, com as transexuais que fizeram história no Teatro Rival de sua família. Assim, ao dirigir reviveu o próprio passado dos seus. Tal qual Helena, Leandra sempre foi uma atriz que tomou as rédeas de sua carreira, que tem algo a dizer. Que bom.
E é a filha de Leandra, a pequenina Julia, de dois anos, quem resume em sua figura o que é a Mostra de Cinema de Tiradentes para o cinema independente feito no Brasil: um lugar de afeto, de amor e de arte. Festival mais bonito não há. Longa vida à Mostra de Cinema de Tiradentes.
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