Ator trans, Leo Moreira Sá emplaca terceira série na TV paga
Por Miguel Arcanjo Prado
“Sou o primeiro ator a se assumir como homem trans”, diz, com orgulho, Leo Moreira Sá ao Blog do Arcanjo do UOL, antes de avisar: “Já vou para a minha terceira série na TV paga”. Após levar para o teatro a história de sua vida na peça “Lou e Leo”, sucesso nos palcos em 2013, ele vem se destacando no promissor mercado dos seriados produzidos no Brasil.
Não é fácil ser ator ou atriz trans. O preconceito ainda resiste, por mais que nomes como Moreira Sá lutem por espaço e trabalho digno seja no palco ou frente às câmeras de cinema e de televisão. É por isso que neste domingo (29) comemora-se o Dia da Visibilidade Trans. Justamente para jogar holofote à causa e levantar a discussão sobre direitos e possibilidades de trabalho para esta parcela da população tão maltratada e violentada em nossa sociedade. Não custa lembrar que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo (veja também: 15 artistas trans que brilham em nossos palcos).
Se televisão aberta já convidou Moreira Sá a falar de sua orientação sexual em programas de entrevista de Marília Gabriela e Pedro Bial, ainda não lhe deu espaço para atuar. “Poucas vezes que fui procurado pela grande mídia. Hoje, o tema da transexualidade está bastante disseminado, mas os atores e atrizes que fazem parte desse universo raramente são chamados para protagonizar esses personagens”, lembra.
Se a TV aberta ainda vira as costas para artistas trans, na TV paga e no teatro tem sido diferente. “O teatro tem sido pioneiro em incluir artistas trans em seus espetáculos, mas o mercado televisivo e cinematográfico ainda insiste em contratar atores e atrizes cisgêneros para personagens trans. Numa comparação radical, é o mesmo que colocar artistas brancos para interpretar personagens negros”, afirma Moreira Sá.
Por isso, ele comemora as oportunidades que a TV paga vem lhe dando: “Hoje estou indo para o meu terceiro trabalho em séries de TV fechada”, conta o ator que acaba de assinar contrato com a HBO, uma das principais produtoras televisivas do mundo.
Começo no Satyros
Após fazer sucesso nos anos 1980 com a icônica banda de rock As Mercenárias, Léo Moreira Sá começou no teatro no início do século 21 “naquela orgia libertária da Cia de Teatro Os Satyros”, como chama o grupo instalado na praça Roosevelt, em São Paulo, reforçando a importância “do mestre querido Rodolfo Garcia Vázquez”, diretor da trupe.
Sua primeira atuação foi como o Homem-Bomba da peça “Hipóteses para o Amor e a Verdade”, um ex-presidiário e guerrilheiro niilista que buscava o grande amor perdido. Depois, performou no espetáculo “Cabaret Stravaganza”, no qual assinou a iluminação ao lado de Vázquez que abocanhou o Prêmio Shell de Teatro de 2011.
“Foi com o dinheiro do Prêmio Shell que pude realizar minha mamoplastia masculinizadora. Por isso, costumo dizer que o teatro transformou literalmente o meu corpo e minha vida”, afirma. Em 2013, tomou coragem e resolveu assumir a produção e a atuação da peça na qual contou sua vida, “Lou e Léo”, dirigida por Nelson Baskerville.
Séries na TV
A peça abriu as portas da televisão, até então fechada para Moreira Sá. “Em 2014, protagonizei o 12° episódio da série ‘PSI’ da HBO”, lembra. Interpretou Renato, um homem trans que pleiteava a mudança do prenome nos documentos. Em 2016, teve uma nova oportunidade nas telas. Desta vez, diferente de tudo até então. “Vivi um homem cisgênero na série ‘A Lei’, que será lançada agora em março de 2017 no canal Space”, revela.
Cada vez mais conhecido no meio dos seriados, o ator conta uma novidade. “Acabo de ser contratado para participar da 4° temporada de uma das mais séries mais assistidas da HBO, com um personagem trans que tratará de um tema bastante importante para a nossa comunidade. Infelizmente, não posso dar mais informações no momento, mas garanto que trará bastante visibilidade, porque a série é campeã de audiência em toda a América Latina e EUA”, adianta, satisfeito.
Veja também: 15 artistas trans que brilham em nossos palcos
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