Crítica: Atriz potente, Grace Passô incorpora palavras em Vaga Carne

Grace Passô em cena de "Vaga Carne" - Foto: Kelly Knevels

Grace Passô em cena de “Vaga Carne” – Foto: Kelly Knevels

Por Miguel Arcanjo Prado

Conhecida no mercado teatral brasileiro a partir de sua atuação em “Por Elise”, peça que marcou a estreia do grupo mineiro Espanca! em 2005, a atriz Grace Passô já era destaque entre sua geração de artistas em Belo Horizonte antes disso.

Este crítico a viu no começo da carreira, atuando em peças como “Todas as Belezas do Mundo”, de 2002, e “Coisas Invisíveis”, de 2003, ambas montadas em Belo Horizonte com a Cia. Clara, sob direção de Anderson Aníbal, hoje preparador de elenco no Rio. Nelas, Grace já era a atriz potente hoje aplaudida por todos.

E o tempo só lhe fez bem. Bem articulada no meio teatral, sobretudo após ser referendada pela crítica e pelo público com “Por Elise”, cuja dramaturgia e direção eram assinados por ela, Grace soube se unir a bons parceiros e buscar referências vigorosas para traçar seu caminho teatral, andando pelo mundo mas sempre mantendo sua base na Belo Horizonte natal.

Ela trabalhou com nomes como Marcio Abreu, da companhia brasileira de teatro, e o argentino Daniel Veronese, diretor relevante na cena de Buenos Aires, entre outros. É assim, madura aos 36 anos, que chega a seu primeiro monólogo, “Vaga Carne”, que estreou no começo do ano passado no Festival de Teatro de Curitiba – mesma cidade onde “Por Elise” foi apresentada ao mundo – e circulou por algumas capitais antes de chegar azeitado ao Sesc Pompeia, em São Paulo.

"Vaga Carne" é o primeiro monólogo da atriz mineira Grace Passô  - Foto: Kelly Knevels

“Vaga Carne” é o primeiro monólogo da atriz mineira Grace Passô – Foto: Kelly Knevels

Na obra, Grace, rodeada na criação dos companheiros Kenia Dias, Nadja Naira, Nina Bittencourt e Ricardo Alves Jr., vindos de diferentes áreas artísticas, explora a materialização das palavras em seu corpo. Ressignificando-as a cada instante. É um espetáculo no qual as palavras funcionam como notas de uma composição, que vai ganhando ritmo e intensidade à medida que a atriz as transforma em força concreta.

“Vaga Carne” não é um espetáculo simples. Nem didático. É um jogo semiótico no qual o público tem papel primordial na produção dos significados, que são individuais e intrasferíveis. Em tempos de discursos empoderados de setores sociais antes subjugados ao lugar de “minoria”, como é o caso das mulheres negras, não deixa de chamar a atenção a forma sutil e minimalista como Grace passa pelo assunto.

Bem distante do confronto combativo e longe de querer questioná-lo, Grace parece pretender, nesta obra, ir em uma camada mais profunda, experimentando com seu público a criação de estereótipos, desenhados pelas palavras quando encontram seu corpo vibrante.

Grace Passô em “Vaga Carne” não pretende ser dona de verdades, muito pelo contrário, as questiona, expondo as possibilidades de lugares de fala, de vozes. Múltipla, não parece ser adepta de um só lado, porque sabe muito bem que nada está dado ou pronto. Tudo é construção sem fim. Em tempos maniqueístas, este é um grande mérito deste espetáculo.

Grace Passô incorpora palavras em "Vaga Carne" - Foto: Kelly Knevels

Grace Passô incorpora palavras em “Vaga Carne” – Foto: Kelly Knevels

Leia entrevista exclusiva com Grace Passô

“Vaga Carne” * * * *
Avaliação:
Muito bom
Quando: De 13/1 a 5/2/2017. Quinta a sábado, 21h, domingo e feriado, 19h. 50 min.
Onde: Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, Pompeia, São Paulo, tel. 11 3871-7700
Quanto: R$ 25 (inteira), R$ 12,50 (meia) e R$ 7,50 (comerciários e dependentes)
Classificação etária: 14 anos

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