Crônica do Arcanjo: Que bloco é esse?
Por Miguel Arcanjo Prado
A presença do Afoxé Filhos de Gandhy é impactante. Quem já viu o Tapete Branco nas ruas da Cidade da Bahia sabe o que significa sua passagem de azul e branco, inundando o Carnaval com seu perfume e sua paz. É de fazer arrepiar todos os sentidos.
Lembro da primeira vez que os vi, ainda menino. Daquela força marcante provocada por sua passagem em uma Salvador quente e úmida dos anos 1980.
Padrinho do bloco afro, Gilberto Gil, sabiamente, decretou na canção: “todo pessoal manda descer pra ver Filhos de Gandhy”.
Mesmo em uma versão reduzida, como a dos shows que o grupo apresentou neste fim de semana no Sesc Pompeia e no Sesc Campo Limpo, em São Paulo, o afoxé impõe sua magnitude.
A rápida passagem do Filhos de Gandhy neste pré-Carnaval paulistano ainda rendeu um importante encontro.
Os baianos visitaram o fervilhante centro cultural negro paulistano Aparelha Luzia, sede do jovem bloco afro Ilu Inã. Aproximação e reconhecimento mútuo repleto de significados.
E, ao falar do Gandhy, não tenho como deixar de recordar que em Minas Gerais, minha terra, na década de 1980 marcou época o pioneirismo do Afoxé Ilê Odara, fundado por minha avó, dona Oneida Maria da Silva Oliveira, a Mãe Gigi, e apadrinhado mais uma vez por Gilberto Gil.
E lembrar que o Gandhy sempre foi sua inspiração. Lembro do tanto que vovó o amava. E como era contente em concretizar um afoxé nas ruas da capital mineira nos moldes dos de Salvador, como o Gandhy e o Ilê Aiyê. Com fé.
E fico feliz ao perceber que o Carnaval negro é redescoberto pelas novas gerações e floresce outra vez não só na Bahia ou São Paulo como também nas ruas de Belo Horizonte, com blocos como o Angola Janga e o Afoxé Bandarerê inundando a folia de negritude.
Pelo jeito, Gil tem toda a razão quando conclama: “Todo o pessoal manda descer pra ver Filhos de Gandhy”. Ajayô Ê!
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