Por Miguel Arcanjo Prado
O bailarino paulistano Felipe Galganni conquistou o mais cobiçado mercado da dança no mundo. Atualmente, ele é um dos grandes nomes do sapateado em Nova York. O brasileiro vive por lá há seis anos e é respeitado tanto pela classe artística quanto pela crítica especializada, com direito a elogio do The New York Times, que disse que seu sapateado tem “uma musicalidade contagiosa”. Nesta entrevista ao Blog do Arcanjo do UOL, Galganni conta os detalhes da trajetória que faz dele um dos sapateadores brasileiros mais bem sucedidos de todos os tempos. Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado – Foi difícil se estabelecer em Nova York?
Felipe Galganni – Eu moro em Nova York há seis anos. Foi como recomeçar a minha carreira, eu não conhecia ninguém e ninguém me conhecia. Os primeiros dois anos principalmente foram bem intensos, muitas coisas para me adaptar, como o inverno, como lidar com a neve e as temperaturas baixas, a alimentação dos americanos que é diferente da que eu estava acostumado, os feriados, e é claro, a língua. Nessa época aprendi muitos trabalhos que não são da minha área para conseguir sobreviver e pagar as contas do final do mês.
Miguel Arcanjo Prado – Você já teve críticas favoráveis no New York Times. Isso lhe deixa feliz?
Felipe Galganni – Sim, muito! O New York Times é o jornal de maior reconhecimento no mundo. É bacana que o meu trabalho foi reconhecido por eles. Ao mesmo tempo, mesmo com as críticas, eu tento manter meu trabalho mais independente, com uma visão mais voltada para minha arte e expressão.
Miguel Arcanjo Prado – Como era o seu inglês quando foi para aí? Hoje é diferente?
Felipe Galganni – Meu inglês era básico. Hoje consigo me expressar melhor e entender muito mais coisas do que quando cheguei, não preciso pensar tanto.
Miguel Arcanjo Prado – Qual sua rotina aí em Nova York? Qual o seu lugar preferido na cidade?
Felipe Galganni – Minha rotina muda durante a semana, e depende da época também. Nos meses do verão, normalmente viajo pra dar aulas em Miami e sempre trabalho no Festival de Sapateado de Nova York, dando aulas e me apresentando com a Companhia da American Tap Dance Foundation. Durante os outros meses, eu normalmente ensaio algumas vezes por semana, dou aulas e tento fazer pelo menos duas aulas por semana, para manter a técnica em forma. Também faço yoga algumas vezes na semana para alongar e conectar o corpo e respiração. Eu adoro o Central Park! Sempre que tenho um tempinho tento passar por lá e meditar um pouco. Gosto de ver a mudança das estações durante o ano.
Miguel Arcanjo Prado – O que as pessoas acham do fato de você ser brasileiro aí em Nova York? Ajuda ou atrapalha?
Felipe Galganni – Em Nova York uma grande parcela da população não é norte-americana. Pessoas do mundo inteiro estão aqui juntas trabalhando todos os dias. No final das contas, você é só mais um profissional, o que vai te ajudar é a qualidade do seu trabalho e a sua flexibilidade de lidar com as diversas situações que aparecem.
Miguel Arcanjo Prado – Quais trabalhos que você considera importantes na sua trajetória que fez aí nos EUA?
Felipe Galganni – Em 2012 atuei em um espetáculo com a companhia de comédia física “Paralel Exit”, que foi indicada três vezes para o Drama Desk Awards. Coreografei um trabalho para a exposição do artista Nicolau Vergueiro no Bronx Museum. Pelo quarto ano consecutivo apresento meu trabalho no show “Ryhtym in Motion”, dirigido pelo Tony Waag. Também tive a honra de me apresentar com os membros originais da American Tap Dance Orchestra, representando o trabalho da master Brenda Bufalino, na premiação do The Bessie Award. Recentemente me apresentei na abertura da Latin-American Cultural Symposium, no consulado geral do Brasil em Nova York. Também faço shows com a banda Tim Kubart and The Space Cadets, que ganhou o Grammy de melhor álbum infantil em 2016. Além de dançar e coreografar, gosto muito de dar aulas. Minha carreira como professor inclui aulas na Broadway Dance Center, Steps On Broadway, Joffrey Ballet School, American Tap Dance Foundation e The Juilliard School.
Miguel Arcanjo Prado – Pensa em algum dia voltar a morar no Brasil ou ficará definitivamente em Nova York?
Felipe Galganni – Eu não penso em voltar a morar no Brasil. Adoraria desenvolver novos projetos e ficar por curtas temporadas. Hoje em dia, eu tenho uma vida estruturada em Nova York. Eu tenho muitos amigos e trabalhos que eu gosto. Eu adoraria ir ao Brasil com mais frequência, tento ir uma vez ao ano, mas às vezes não consigo devido à minha agenda.
Miguel Arcanjo Prado – Quais são seus projetos para 2017?
Felipe Galganni – Eu participei de uma seleção e fui convidado para desenvolver uma coreografia que será apresentada no final de fevereiro no La Guardia Performing Arts Center. Também estou produzindo e dirigindo um concerto de sapateado que será apresentado em abril aqui em Nova York, no The Players Theater, somente com composições do mestre Tom Jobim e com a direção musical do Maestro Carlos Bauzys. Além disso, continuo com as aulas e a agenda anual de festivais de sapateado.
Miguel Arcanjo Prado – Qual dica você dá para quem deseja ser um sapateador vitorioso como você?
Felipe Galganni – A minha dica é: não faça só o que você quer, faça o que é necessário para o seu crescimento. Estude, faça aulas com diferentes professores, experimente outros estilos de dança, leia, veja filmes, visite museus, veja shows e peças de teatro, inspiração está em todo o lugar. É importante saber sobre a história do sapateado, as danças de repertório, as pessoas que fizeram do sapateado o que ele é. Ouça estilos de música diferentes, jazz, samba, rock, bossa nova, chorinho, música clássica. Isso vai te trazer musicalidade nas suas improvisações. E o mais importante de tudo, seja fiel a quem você é, ame a sua dança e continue dançando.
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