Sinto o Cartola conosco, diz Flávio Bauraqui sobre musical no Rio
Por Miguel Arcanjo Prado
Indicado ao Prêmio APCA como melhor ator por este trabalho, agora o ator Flávio Bauraqui vive o compositor Cartola em sua terra, o Rio.
Após conquistar mais de 30 mil espectadores em São Paulo, o musical “Cartola, O Mundo É um Moinho” está em cartaz no Teatro Carlos Gomes, na praça Tiradentes, centro carioca, até 28 de maio.
As sessões são de quinta a sábado, 19h, e domingo, 17h, com ingresso a R$ 70 (quinta e sexta) e R$ 80 (sábado e domingo).
Emocionado com o personagem, que mexe com suas raízes, Flávio Bauraqui, ator gaúcho de 51 anos, conversou com o Blog do Arcanjo do UOL sobre o musical, que lhe rendeu inclusive um convite para voltar à tela da Globo. Ele ainda afirmou que este tipo de produção, que valoriza personagens negros, é o oposto ao processo de genocídio de jovens negros. Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado – Como é chegar com Cartola à terra dele, o Rio, depois do sucesso em São Paulo?
Flávio Bauraqui – Chegar ao Rio de Janeiro e mostrar para a terra dele sua história é uma coisa emocionante, um grande prazer. Tem uma coisa muito boa, que é a identificação, que é automática das pessoas. Eu me sinto lisonjeado de ser instrumento, assim como meus colegas, desse grande evento onde coisas incríveis e emocionantes acontecem. Uma das coisas mais bonitas que eu acho é esse reconectar do passado, que, na verdade, deixa de ser passado no momento que a gente passa um pro outro esse legado do Cartola; e assim, propor que essas pessoas se reconectem com essa história toda. A energia do artista está viva independente do artista estar vivo ou morto. Então a energia do Cartola está ali presente conosco, nós sentimos ela em cena quando estamos cantando, no olhar das pessoas, na emoção do público. É um momento ímpar na minha vida, confesso que me sinto agraciado por estar sendo esse instrumento.
Miguel Arcanjo Prado – Está feliz?
Flávio Bauraqui – Sim, só agradeço pela oportunidade de fazer teatro e de estar em cartaz, tendo a sorte de mergulhar no universo do samba e reverenciar o mestre Cartola. Uma conexão com minhas raízes, onde me identifico. Todos nós do elenco temos algo em comum: a admiração e o amor pela obra do poeta.
Miguel Arcanjo Prado – Com se sentiu ao ser indicado como melhor ator de 2016 pelo tradicional Prêmio APCA por este trabalho?
Flávio Bauraqui – Fiquei muito feliz pela indicação, eu acho que a indicação já é um grande prêmio. O mais importante é saberem que você existe, lógico que a gente gosta de prêmio também, sem hipocrisias! Mas, confesso que o prêmio, por exemplo, foi chegar uma criança de um grupo, que chama Cineclube Gigóia, e falar pra mim: “olha, o negão ocupando o pedaço!”. Ali, em uma criança, eu percebi que a peça chega nas pessoas de todas as idades e, aquela criança entende o movimento de ocupar o espaço que estava rolando ali. Isso me emociona muito. Uma vez, quando eu estava inaugurando o Centro Cultural Cartola, chegou um contemporâneo do Cartola, um senhorzinho, e ele olhou para mim, apertou minha mão e disse: “Ai, Cartola! Eu estava com uma saudades de você”. Isso tudo é muito bom pro nosso espírito, e eu acho que pra todo mundo, porque não é só uma performance, é um acontecimento e eu fico muito feliz de fazer parte dele.
Miguel Arcanjo Prado – Qual a característica do Cartola que você acha mais marcante? Por quê?
Flávio Bauraqui – A característica que eu acho mais importante no Cartola é a persistência, a coragem e a certeza de que é possível. Que é o que ele passa pra mim e eu acho que pra muitos brasileiros que percebem. Como dizia o Arthur Bispo do Rosário: “Tudo está aí no mundo, mas é só pra quem enxerga”. Então, é muito bom se enxergar como brasileiro e perceber que nós temos um legado maravilhoso. Cartola e muitos outros grandes compositores fizeram e deixaram esse presente pra todos nós, mas a gente tem que enxergá-los. Com Cartola agora está acontecendo e com outros espetáculos incríveis que acontecem no Rio de Janeiro também e pelo Brasil onde enaltecem o negro, né, o genocídio matando vários negros e jovens e nós estamos conseguindo fazer o oposto disso. Não matar, mas ressuscitar pessoas que são tão importantes para a gente.
Miguel Arcanjo Prado – Qual música dele mais gosta de cantar? Por quê?
Flávio Bauraqui – Olha, essa é uma pergunta muito difícil pra mim. Eu não tenho. Eu tenho um amor pela obra inteira. Todas as músicas mexem comigo de uma forma ou de outra, e não tem música do Cartola que eu não goste. Eu gosto de todas, e eu tenho uma questão com essa coisa de escolher o ator número um ou a melhor música. Acho que esse País é muito grande para delimitar a um número um, ele não cabe, né? E acho que a obra do Cartola não cabe nenhuma música nesse posto, seria injusto com a obra dele.
Miguel Arcanjo Prado – Você vai voltar à TV? O que já pode contar?
Flávio Bauraqui – Sobre a TV, sim. Sobre “Filhos da Pátria” [série escrita por Bruno Mazzeo para a Globo, prevista para o segundo semestre de 2017], por enquanto, não posso falar muito; mas estão muito interessante as minisséries que a Globo tem feito com uma qualidade incrível. Me senti premiado de estar nessa série. Foi o período que eu estava terminando a temporada em São Paulo de Cartola e surgiu esse convite incrível! Não sei exatamente quando que vai ao ar, isso é com a Globo. Mas a qualidade é sempre incrível, impressionante. Agora é aguardar e Cartola na veia!
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